Em 2022, um tapume foi posto na frente da porta da Livraria Meão da Universidade Federalista do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Porto Prazenteiro. Antes do tapume, ainda em 2020, todo o perímetro próximo do prédio da Reitoria havia sido gradeado e suas duas portas eram mantidas chaveadas 24 horas por dia, sete dias por semana. Isso ocorreu uma vez que segmento de um reitorado exercido pelo terceiro posto na lista tríplice que foi nomeado por um presidente da república de ideologia de extrema direita.
Esse enredo não é original. Um leitor habitual reconhece elementos comuns a várias tramas distópicas. Os elementos são: um governo dominador, exprobação aos livros e ataques às bibliotecas.
No Brasil, onde “a crise na ensino não é uma crise, é um projeto”, uma vez que enunciou Darcy Ribeiro, o ataque aos livros e às bibliotecas é tarefa fácil de empreender.
Independentemente de ideologia, a infraestrutura de nossa ensino e cultura sempre prescindiu de bibliotecas atrativas com acervos ricos e atualizados em escolas públicas, municípios e bairros. A pouquidade de bibliotecas é uma marca registrada brasileira. Nessas, o Brasil ocupa o penúltimo lugar no ranking mundial de ensino, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Com o auxílio dos canais UFRGS Notícias, Brasil de Vestimenta RS e Rádio da UFRGS conseguimos fazer uma ampla divulgação do incidente que superamos com a queda do tapume no dia 21 de novembro, e, adicionalmente, com a geração da Coleção Livre na Livraria Meão. A Coleção Livre tem por objetivo reunir e fazer rodear livros censurados em diferentes tempos e locais do mundo. Proibição que recai sob essas obras por sua capacidade de denunciar violências e preconceitos que têm perpetuado a injustiça social. Toni Morrison, Jorge Querido, Harper Lee, Simone de Beauvoir, Gabriel García Márquez, George Orwell, Chimamanda e até Ziraldo fazem segmento de uma longa lista de autores censurados.
O bolsonarismo fez ressurgir uma guerra cultural no Brasil, tendo uma vez que seu mais engrandecido evento a perseguição ao reluzente Avesso da pele de Jeferson Tenório em pleno ano de 2024. Um livro perigoso somente para racistas e, portanto, criminosos. Ao contrário, além da supimpa literatura, é uma obra principal por educar para a justiça racial. Gerar a Coleção Livre, trazendo essa mensagem para dentro do montão, marca a queda do tapume e identifica um marco permanente de memória dentro da Livraria Meão para a resguardo dos livros em universal.
A democracia só é uma conquista política efetiva quando o responsabilidade de voto da população lhe garante direitos. Assim, o chegada à alimento, moradia, segurança, saúde, ensino e cultura são requisitos para o pleno estabelecimento do Estado Democrático de Recta.
A resguardo desta livraria em privado não é um término em si mesmo, mas é um meio para alertar sobre a premência de reivindicarmos e contribuirmos para a construção de estruturas públicas que garantam direitos básicos à população, e que entre eles estão os livros e as bibliotecas.
Livros e bibliotecas são instrumentos do conhecimento emancipatório, que possibilita o reconhecimento da relevância da pluralidade, da construção coletiva, da sátira e da responsabilidade social. Não adianta unicamente reivindicarmos, precisamos ser capazes de erigir a transformação social.
Apesar da mensagem pesada cá transmitida, ressalto que a eleição da reitora Márcia Barbosa e do vice-reitor Pedro Costa mostram que a transformação é verosímil. Uma transformação que foi não unicamente reivindicada, mas foi construída por diferentes segmentos e grupos políticos da universidade em uma atuação coletiva que nos garantiu a paridade.
A retirada das grades, a orifício das portas, a queda do tapume são hoje não uma reivindicação, mas uma ação que é premência identificada pela própria reitora e vice-reitor. Reitorado aclamado pela democracia, eleito por uma comunidade que usufrui dos benefícios da ensino emancipatória!
Quero primar que mesmo tendo sido ocultada no saguão da Reitoria, a Livraria Meão seguiu fazendo importante trabalho junto à comunidade universitária, colocando as restrições a ela impostas em segundo projecto para a manutenção do orçamento necessário para o desenvolvimento das atividades acadêmicas. As crises e dificuldades foram enfrentadas pela equipe com réplica resiliência. Todo esse movimento é hoje devotado a esta equipe.
Trabalho neste prédio há quase 20 anos. Estou me despedindo do função de Diretora da Livraria Meão, que ocupei por oito anos, realizando uma última tarefa: entregar a Livraria Meão à Dirce Santin, sua próxima diretora, uma vez que eu a recebi em 2016, uma vez que espaço visível e integrado ao prédio da Reitoria da Universidade.
Viva a Ensino Pública! Viva as bibliotecas!
* Educadora, ex-diretora da Livraria Meão da UFRGS e futura diretora da Editora da UFRGS
** Levante é um item de opinião e não necessariamente expressa a traço editorial do Brasil de Vestimenta.
Natividade: BdF Rio Grande do Sul
Edição: Vivian Virissimo