Arnaldo Brandão participava de uma filarmónica de rock no final dos anos 1960 chamada The Bubbles. Jards Macalé, que à era trabalhava na produção músico de Gal Gosta, convidou o grupo a acompanhá-la.
“Aprendi muito tocando com Macalé, ouvindo aquelas fitas cassete que o (Gilberto) Gil e o Caetano (Veloso) mandavam (do exílio) para a morada dele”, lembra Arnaldo. “A morada dele era uma república independente. Estávamos no auge da ditadura, barra pesadíssima, mas a gente se divertiu muito.”
O músico tentava dar os primeiros passos na curso, mas a ditadura militar o incomodava. Ele chegou a ter uma formação censurada no disco do cantor Leno, produzido por Raul Seixas. A tira abordava de reforma agrária a drogas.
“Na era, tinha cabelo grande, fumava, tomava ácido. A repressão era grande. Para a esquerda, eu era um louco; para a direita, um comunista.”
Resolveu se mudar para Londres, em uma espécie de autoexílio. Lá, conheceu Mick Taylor, logo guitarrista dos Rolling Stones, de quem se tornou colega e com quem foi morar.
“Fui lá para fora para estudar mais música e evadir da repressão, para que pudesse ter mais liberdade comportamental, ter uma vida socialmente mais deleitável. Eu queria aprender”, resume. “Estudei com professor pessoal música clássica, apesar de viver no mundo do rock and roll.”
Nas andanças pela música, tornou-se muito colega de Caetano Veloso, com quem passou a tocar em sua filarmónica. O baiano tinha oferecido até um nome ao grupo com Arnaldo que o acompanhava: A Outra Filarmónica da Terreno.
Arnaldo gravou a clássica Odara, de Caetano, com o marcante solo de plebeu, registrada no álbum Bicho (1977). Naqueles anos, o baixista já acompanhava Raul Seixas, Luiz Melodia e Jorge Mautner.
“Tive sorte de trabalhar com ele (Caetano). Gravamos vários discos. Foi um estágio gigantesco, não só músico, mas social, filosófico, estrutural”, avalia.
Nos anos 1980, entrou na subida do pop rock vernáculo, participando da filarmónica Brylho, com Claudio Zoli. Em 1985, montou o grupo Hanói-Hanói, que durou 10 anos.
Naquela ocasião, Arnaldo Brandão compôs alguns sucessos, porquê Noite do Prazer, com Cláudio Zoli e Paulo Zdan; Totalmente Demais, com Tavinho Paes e Robério Rafael; Rádio Blá, com Lobão; e O Tempo Não Para, com Cazuza.
À era da geração do Hanói-Hanói, começou a fazer música com o poeta Tavinho Paes — que morreu, aos 69 anos, três dias depois desta entrevista com Arnaldo Brandão, em seguida complicações de um infarto sofrido em setembro. O nome da filarmónica Hanói-Hanói foi, inclusive, uma teoria de Tavinho.
O baixista avalia que aquela geração do pop rock dos anos 1980 acolheu uma demanda reprimida do gênero. Depois, porém, o movimento minguou.
“O sistema numulário precisa de novidade. Logo, teve aquela maré subida (do rock brasílico), mas as pessoas ficaram de saco pleno”, afirma. Arnaldo Brandão agora lança um single com Leoni, que participou também da geração do pop rock. A música se labareda O Paixão e Seus Desvios.
A música, a primeira parceria deles, reflete o paixão não porquê na “propaganda de margarina”, mas na “borda do desespero”. Ela contou com intentona de Antônio Leoni, fruto de Leoni. Os dois dividem o vocal.
Arnaldo tem quatro álbuns solos lançados —Brandão e o Projecto D (2001), Ao Vivo (2005), Amnésia Programada (2010) e Brandão Psicopop (2020) — e mais um quase pronto para transpor nas plataformas de música. É um novo trabalho de inéditas.
“Só falta colocar voz e mixar. As pessoas não estão muito interessadas em saber músicas inéditas, mas sempre faço questão de lançar”, emenda.