Pontífice morreu nesta 2ª feira (21.abr.2025); sua última aparição pública foi no domingo (20.abr), nas celebrações de Páscoa no Vaticano
Em sua última homilia, o papa Francisco disse que Jesus “não ficou prisioneiro da morte”. A mensagem foi lida pelo cardeal Angelo Comastri no domingo (20.abr.2025), na celebração de Páscoa na rossio de São Pedro, no Vaticano. O pontífice esteve presente e saudou os fiéis. Debilitado, estava em cadeira de rodas e com dificuldade em falar.
Essa foi a última aparição pública do papa. Francisco morreu nesta 2ª feira (21.abr) às 7h35, horário da Itália (2h35 no Brasil), aos 88 anos.
“Irmãos e irmãs, cá está a maior esperança da nossa vida: podemos viver esta existência pobre, frágil e ferida agarrados a Cristo, porque Ele venceu a morte, vence a nossa trevas e vencerá as trevas do mundo, para nos fazer viver com Ele na alegria, para sempre”, disse Francisco.
Leia a íntegra da homilia de Francisco:
“Maria Madalena, ao ver que a pedra do sepulcro tinha sido removida, começou a passar para ir avisar Pedro e João. Também os dois discípulos, tendo recebido aquela surpreendente notícia, saíram e – diz o Evangelho – ‘corriam os dois juntos’ (Jo 20, 4). Os protagonistas dos relatos pascais correm todos! E leste ‘passar’ exprime, por um lado, a preocupação de que tivessem levado o corpo do Senhor; mas, por outro lado, a corrida de Maria Madalena, de Pedro e de João fala do libido, do impulso do coração, da atitude interno de quem se põe à procura de Jesus. Ele, com efeito, ressuscitou dos mortos e, portanto, já não se encontra no túmulo. É preciso procurá-lo noutro lugar.
“Leste é o proclamação da Páscoa: é preciso procurá-lo noutro lugar. Cristo ressuscitou, está vivo! Não ficou prisioneiro da morte, já não está envolvido pelo sudário e, por isso, não podemos encerrá-lo numa formosa história para racontar, não podemos fazer dele um herói do pretérito ou pensar nele uma vez que uma estátua colocada na sala de um museu! Pelo contrário, temos de O procurar, e, por isso, não podemos permanecer parados. Temos de nos pôr em movimento, trespassar para O procurar: procurá-lo na vida, procurá-lo no rosto dos irmãos, procurá-lo no dia a dia, procurá-lo em todo o lado, exceto naquele túmulo.
“Procurá-lo sempre. Porque se Ele ressuscitou, logo está presente em toda a segmento, habita no meio de nós, esconde-se e revela-se ainda hoje nas irmãs e nos irmãos que encontramos pelo caminho, nas situações mais anônimas e imprevisíveis da nossa vida. Ele está vivo e permanece sempre conosco, chorando as lágrimas de quem sofre e multiplicando a formosura da vida nos pequenos gestos de paixão de cada um de nós.
“Por isso, a fé pascal, que nos abre ao encontro com o Senhor ressuscitado e nos dispõe a acolhê-lo na nossa vida, é tudo menos uma arranjo estática ou um pacífico conformar-se numa segurança religiosa qualquer. Pelo contrário, a Páscoa põe-nos em movimento, impele-nos a passar uma vez que Maria Madalena e uma vez que os discípulos; convida-nos a ter olhos capazes de ‘ver mais além’, para vislumbrar Jesus, o Vivente, uma vez que o Deus que se revela e ainda hoje se torna presente, nos fala, nos precede, nos surpreende.
“Porquê Maria Madalena, podemos fazer todos os dias a experiência de perder o Senhor, mas todos os dias podemos passar para O reencontrar, sabendo com certeza que Ele se deixa encontrar e nos ilumina com a luz da sua ressurreição.
“Irmãos e irmãs, cá está a maior esperança da nossa vida: podemos viver esta existência pobre, frágil e ferida agarrados a Cristo, porque Ele venceu a morte, vence a nossa trevas e vencerá as trevas do mundo, para nos fazer viver com Ele na alegria, para sempre. Em direção a esta meta, uma vez que diz o Evangelizador Paulo, também nós corremos, esquecendo o que fica para trás e vivendo orientados para o que está à nossa frente (cf. Fl 3, 12-14). Apressemo-nos logo a ir ao encontro de Cristo, com o passo ligeiro de Maria Madalena, Pedro e João.
“O Jubileu convida-nos a renovar em nós mesmos o dom desta esperança, a submergir nela os nossos sofrimentos e as nossas inquietações, a gafar aqueles que encontramos no caminho, a responsabilizar a esta esperança o porvir da nossa vida e o orientação da humanidade. Por isso, não podemos estacionar o nosso coração nas ilusões deste mundo, nem fechá-lo na tristeza; temos de passar, cheios de alegria. Corramos ao encontro de Jesus, redescubramos a perdão inestimável de ser seus amigos. Deixemos que a sua Vocábulo de vida e verdade ilumine o nosso caminho. Porquê dizia o grande teólogo Henri de Lubac, ‘bastar-nos-á compreender isto: o cristianismo é Cristo. Verdadeiramente, não há zero mais do que isso. Em Cristo temos tudo’ (Les responsabilités doctrinales des catholiques dans le monde d’aujourd’hui, Paris 2010, 276).
“E leste ‘tudo’, que é Cristo ressuscitado, abre a nossa vida à esperança. Ele está vivo e ainda hoje quer renovar a nossa vida. A Ele, vencedor do perversão e da morte, queremos expressar: ‘Senhor, nesta sarau, pedimos-vos leste dom: que também nós sejamos novos para viver esta perene novidade. Afastai de nós, ó Deus, a poeira triste da rotina, do cansaço e do desencanto; dai-nos a alegria de despertar, a cada manhã, com os olhos maravilhados, para ver as cores inéditas daquele amanhecer, único e dissemelhante de todos os outros. […] Tudo é novo, Senhor, e zero repetido, zero envelhecido’ (A. Zarri, Quasi una preghiera).
“Irmãs, irmãos, na maravilha da fé pascal, trazendo no coração todas as expetativas de silêncio e libertação, podemos expressar: Convosco, Senhor, tudo é novo. Convosco, tudo recomeça.”
BENÇÃO URBI ET ORBI
Na celebração de Páscoa, Francisco desejou aos “queridos irmãos e irmãs”, uma “feliz Páscoa”.
Depois, passou a vocábulo para o rabino de cerimônias, o monsenhor Diego Giovanni Ravelli, que leu a mensagem “Urbi et Orbi” (“à cidade [de Roma] e ao mundo”) do papa.
Na mensagem, o papa exortou os políticos a não cederem “à lógica do terror” e fez um apelo ao desarmamento. “A urgência que cada povo sente de prometer a sua própria resguardo não pode transformar-se em uma corrida generalizada ao armamento”, afirmou.
O papa também declarou no texto que a esperança trazida pela Páscoa não é um sentimento alienante, mas de responsabilidade. O sumo pontífice lamentou a violência não só nos países, mas também nas famílias –“dirigida às mulheres e às crianças” –muito uma vez que o desprezo pelos fracos, marginalizados e imigrantes.
“Gostaria que voltássemos a ter crédito nos outros, mesmo naqueles que não nos são próximos ou que vêm de terras distantes, com modos de vida, ideias e costumes diferentes dos que nos são familiares”, disse.
Leia a íntegra da mensagem “Urbi et Orbi” de 20 de abril de 2025:
“Cristo ressuscitou, aleluia!
“Irmãos e irmãs, Feliz Páscoa!
“Hoje ressoa finalmente na Igreja o Aleluia, que corre de boca em boca, de coração a coração, e o seu poema faz chorar de alegria, no mundo inteiro, o povo de Deus.
“Do sepulcro vazio de Jerusalém chega até nós um proclamação sem precedentes: Jesus, o Crucificado, ‘não está cá; ressuscitou!’ (Lc 24, 6). Não está no túmulo, está vivo!
“O paixão venceu o ódio. A luz venceu as trevas. A verdade venceu a peta. O perdão venceu a vingança. O mal não desapareceu da nossa história e permanecerá até ao término, mas já não lhe pertence o domínio, não tem qualquer poder sobre quem acolhe a perdão deste dia.
“Irmãs e irmãos, principalmente vós que passais pela dor e pela angústia, o vosso grito tristonho foi ouvido, as vossas lágrimas foram recolhidas e nem sequer uma só se perdeu! Na paixão e morte de Jesus, Deus tomou sobre si todo o mal do mundo e, com a sua infinita misericórdia, derrotou-o: erradicou o orgulho diabólico que envenena o coração humano e semeia violência e devassidão por toda a segmento. O Cordeiro de Deus venceu! Por isso, hoje exclamamos: ‘Ressuscitou Cristo, minha esperança’ (Sequência Pascal).
“Sim, a ressurreição de Jesus é o fundamento da esperança: a partir deste evento, ter esperança já não é uma ilusão. Não! Graças a Cristo crucificado e ressuscitado, a esperança não engana! Spes non confundit! (cf. Rm 5, 5). E não se trata duma esperança evasiva, mas comprometida; não é alienante, mas responsabilizadora.
“Quem espera em Deus coloca as suas mãos frágeis na mão grande e potente d’Ele, deixa-se levantar e põe-se a caminho: juntamente com Jesus ressuscitado, torna-se peregrino de esperança, testemunha da vitória do Paixão e do poder desmanchado da Vida.
“Cristo ressuscitou! Neste proclamação encerra-se todo o sentido da nossa existência, que não foi feita para a morte, mas para a vida. A Páscoa é a sarau da vida! Deus criou-nos para a vida e quer que a humanidade ressurja! Aos seus olhos, todas as vidas são preciosas! Tanto a da gaiato no ventre da mãe, uma vez que a do idoso ou a do doente, considerados uma vez que pessoas a descartar num número cada vez maior de países.
“Quanto libido de morte vemos todos os dias em tantos conflitos que ocorrem em diferentes partes do mundo! Quanta violência vemos com frequência também nas famílias, dirigida contra as mulheres ou as crianças! Quanto desprezo se sente por vezes em relação aos mais fracos, marginalizados e migrantes!
“Neste dia, gostaria que voltássemos a ter esperança e crédito nos outros, mesmo naqueles que não nos são próximos ou que vêm de terras distantes com usos, modos de vida, ideias e costumes diferentes dos que nos são familiares, porque somos todos filhos de Deus!
“Gostaria que voltássemos a ter esperança de que a silêncio é verosímil! A partir do Santo Sepulcro, Igreja da Ressurreição, onde leste ano a Páscoa é celebrada no mesmo dia por católicos e ortodoxos, se irradie sobre toda a Terreno Santa e sobre o mundo inteiro a luz da silêncio. Sinto-me próximo dos cristãos que sofrem na Palestina e em Israel, muito uma vez que do povo israelita e palestiniano. É preocupante o crescente clima de antissemitismo que se está a espalhar por todo o mundo. E, ao mesmo tempo, o meu pensamento dirige-se ao povo, em pessoal, à comunidade cristã de Gaza, onde o terrível conflito continua a gerar morte e devastação e a provocar uma situação humanitária dramática e ignóbil. Apelo às partes beligerantes que cheguem a um cessar-fogo, que se libertem os reféns e se preste assistência à população faminta, desejosa de um porvir de silêncio!
“Rezemos pelas comunidades cristãs do Líbano e da Síria – leste último país a transpor uma temporada delicada da sua história –, que anseiam por firmeza e participação no porvir das respetivas nações. Exorto toda a Igreja a escoltar com atenção e reza os cristãos do estremecido Médio Oriente.
“Dirijo também um pensamento peculiar ao povo do Iêmen, que está a viver uma das piores crises humanitárias “prolongadas” do mundo devido à guerra, e convido todos a encontrar soluções através de um diálogo construtivo.
“Que Cristo ressuscitado derrame o dom pascal da silêncio sobre a martirizada Ucrânia e encoraje as partes envolvidas a prosseguirem os seus esforços para obter uma silêncio justa e duradoura.
“Neste dia de sarau, recordemos o Sul do Cáucaso e rezemos pela rápida assinatura e emprego de um definitivo Tratado de silêncio entre a Arménia e o Azerbaijão, que ligeiro à tão desejada reconciliação na região.
“Que a luz da Páscoa inspire propósitos de concórdia nos Balcãs Ocidentais e apoie os responsáveis políticos a trabalhar para evitar uma escalada de tensões e crises, muito uma vez que inspire os parceiros da região a rejeitar comportamentos perigosos e desestabilizadores.
“Que Cristo ressuscitado, nossa esperança, conceda silêncio e conforto aos povos africanos vítimas de violência e conflitos, principalmente na República Democrática do Congo, no Sudão e no Sudão do Sul, e apoie todos quantos sofrem devido às tensões no Sahel, no Corno de África e na Região dos Grandes Lagos, tal uma vez que os cristãos que em muitos lugares não podem professar livremente a fé.
“Não é verosímil possuir silêncio onde não há liberdade religiosa ou onde não há liberdade de pensamento nem de sentença, nem saudação pela opinião dos outros.
“Não é verosímil possuir silêncio sem um verdadeiro desarmamento! A urgência que cada povo sente de prometer a sua própria resguardo não pode transformar-se numa corrida generalizada ao armamento. A luz da Páscoa incita-nos a derrubar as barreiras que criam divisões e que acarretam consequências políticas e económicas. Incita-nos a cuidar uns dos outros, a aumentar a solidariedade mútua, a trabalhar em prol do desenvolvimento integral de cada pessoa humana.
“Neste momento, não falte a nossa ajuda ao povo do Myanmar que, perseguido por anos de conflito armado, enfrenta com coragem e paciência as consequências do devastador sismo em Sagaing, motivador da morte de milhares de pessoas e de sofrimento para muitos sobreviventes, incluindo órfãos e idosos. Rezemos pelas vítimas e pelos seus entes queridos e agradeçamos de todo o coração a magnanimidade dos voluntários que levam a cabo as operações de socorro. O proclamação do cessar-fogo por segmento de vários intervenientes no país é um sinal de esperança para todo o Myanmar.
Apelo a todos os que, no mundo, têm responsabilidades políticas para que não cedam à lógica do terror que fecha, mas usem os recursos disponíveis para ajudar os necessitados, combater a inópia e promover iniciativas que favoreçam o desenvolvimento. Estas são as ‘armas’ da silêncio: aquelas que constroem o porvir, em vez de espalhar morte!
“Que o princípio da humanidade nunca deixe de ser o eixo do nosso agir quotidiano. Perante a crueldade dos conflitos que atingem civis indefesos, atacam escolas e hospitais e agentes humanitários, não podemos olvidar que não são atingidos alvos, mas pessoas com psique e pundonor.
“E, neste ano jubilar, que a Páscoa seja também uma ocasião propícia para libertar os prisioneiros de guerra e os presos políticos!
Queridos irmãos e irmãs,
“Na Páscoa do Senhor, a morte e a vida enfrentaram-se num excelso combate, mas agora o Senhor vive para sempre (cf. Sequência Pascal) e infunde em cada um de nós a certeza de que somos também chamados a participar na vida que não tem término, na qual já não se ouvirá o fragor das armas nem os ecos da morte. Entreguemo-nos a Ele, o único que pode renovar todas as coisas (cf. Ap 21, 5)!
“Feliz Páscoa para todos!”
Assista aquém à celebração de Páscoa realizada no domingo (20.abr) no Vaticano. A leitura da homilia se dá a partir de 41min10s. A leitura da mensagem “Urbi et Orbi” se dá a partir de 1h44min60s.
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