Brasília — A sessão desta quarta-feira (7) no Supremo Tribunal Federalista (STF) foi palco de um intenso embate verbal entre os ministros Flávio Dino e André Mendonça. Em taxa, o julgamento que trata do agravamento da pena em casos de crimes contra a honra — uma vez que injúria, calúnia e maledicência — quando cometidos contra agentes públicos no treino de suas funções.
O ponto médio da controvérsia foi a versão da validade de se aumentar em até um terço a pena nesses casos. O debate técnico rapidamente deu lugar a um confronto ideológico e emocional, refletindo visões bastante distintas sobre o limite entre liberdade de frase e proteção à honra de autoridades públicas.
Dino e Mendonça: visões antagônica
Flávio Dino defendeu a manutenção da norma legítimo que permite o aumento da pena, desde que fique comprovado que houve delito contra a honra, com o agravante de que a vítima estava em treino de função pública. Para o ministro, a proteção à distinção de servidores públicos é fundamental para a integridade das instituições democráticas.
“Não se trata de blindagem, mas de prometer que o treino da função pública não seja desmoralizado por ataques que ultrapassem os limites do tolerável”, afirmou Dino. “A sátira política é legítima, mas invocar um servidor público de ladrão, sem qualquer prova, é um ataque pessoal e criminoso”.
Já André Mendonça argumentou por uma versão mais restrita. Para ele, o agravamento da pena só se justificaria em casos de calúnia — ou seja, quando há imputação falsa e específica de um delito. Segundo Mendonça, ampliar esse agravante para todos os crimes contra a honra pode comprometer o recta constitucional à liberdade de frase.
“‘Ladrão’ é uma opinião, não um roupa específico”, afirmou o ministro, desencadeando potente reação de Dino: “Para mim, é uma ofensa grave. Não admito que ninguém me chame de ladrão. Essa tese da moral maleável, que inventaram, desmoraliza o Estado. É uma ofensa gravíssima, não uma sátira”.
Barroso e Zanin tentam mediar o debate
O relator do caso, ministro Luís Roberto Barroso, buscou esclarecer os limites jurídicos da questão. Ele lembrou que expressões uma vez que “ladrão” podem configurar calúnia, principalmente quando imputam de forma implícita a prática de delito.
“A jurisprudência reconhece que, quando há imputação de conduta criminosa, ainda que disfarçada de opinião, configura-se calúnia. E calúnia é delito, mesmo no envolvente político”, explicou Barroso.
Mendonça, no entanto, manteve sua posição, e elevou o tom ao manifestar: “Se o cidadão não puder invocar um político de ladrão…”, sendo rapidamente interrompido por Dino: “E ministro do Supremo pode?”. A resposta de Mendonça veio de súbito: “Eu não sou ínclito dos demais”.
Em meio ao clima tenso, o ministro Cristiano Zanin procurou sossegar o debate. “A sátira faz segmento da vida pública, e deve ser respeitada. Mas é preciso reconhecer que há uma risco tênue entre a sátira legítima e a ofensa criminal. O problema é quando se ultrapassa essa risco”, ponderou.
O tecido de fundo jurídico e político
A discussão remete a um contexto mais grande sobre a tensão entre liberdade de frase e proteção à reputação de autoridades públicas. A legislação brasileira prevê agravamento de pena em crimes contra a honra cometidos contra servidores públicos no treino da função, mas o alcance e a emprego dessa regra têm gerado divergências dentro do próprio STF.
O debate também reflete uma polarização crescente no envolvente jurídico e político brasílio. Flávio Dino, indicado recentemente ao STF pelo presidente Lula, tem adotado uma postura firme contra o que labareda de “desmoralização institucional”. Já André Mendonça, indicado por Jair Bolsonaro, tende a enfatizar garantias individuais e liberdade de revelação, mesmo quando isso implica críticas contundentes ao poder público.
A tensão entre os ministros não é isolada. Tem sido cada vez mais generalidade que debates técnicos ganhem contornos ideológicos nas sessões plenárias do Supremo, o que, para muitos observadores, reflete a crescente judicialização da política e politização do Judiciário.
Próximos passos
O julgamento foi suspenso e deverá ser retomado na próxima semana, com votos ainda pendentes de outros ministros. A decisão final poderá ter repercussões significativas sobre a forma uma vez que críticas a autoridades públicas são tratadas pelo sistema de Justiça.
Independente do desfecho, o incidente desta quarta-feira escancarou as divisões dentro da mais subida galanteio do país. A discussão sobre o limite entre ofensa e sátira, embora antiga, continua sendo uma das mais sensíveis da democracia — principalmente quando quem julga também é claro do debate.
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