Um pouso forçado em uma das avenidas mais movimentadas da zona Oeste de São Paulo termina com a morte dos dois ocupantes de um avião, um ônibus incendiado e dez pessoas feridas. Famílias em luto e uma preocupação: em menos de dois meses, já aconteceram cinco acidentes aéreos com mortes no Brasil.
O encontro emocionante de Janair com Laurenilton aconteceu sábado (8), na garagem da empresa em que os dois trabalham. A cobradora e o motorista viram de perto porquê ficou o estado do ônibus, que foi atingido pelos destroços do avião.
O ônibus só não explodiu porque, segundo os funcionários, o tanque de combustível não foi atingido. Mas, por dentro, ele ficou praticamente destruído. Tudo derreteu.
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Havia tapume de 30 pessoas dentro do coletivo. O ônibus já estava quase no final da traço, chegando na zona setentrião de São Paulo, quando houve o impacto.
O motorista acionou o botão para que as portas se abrissem, mas as que ficam de um lado ficaram travadas por conta de uma grade que fica no canteiro mediano da avenida. Foi aí que começou o desespero.
“Gritei muito: ‘me ajuda, me ajuda’, por razão da minha limitação. ‘Saí daqui, vai pra frente, que isso vai explodir'”, lembra a cobradora Janair Oliveira.
Janair aparece em imagens desembarcando do ônibus e muito nervosa. Ela tinha completo de ajudar uma mulher que teve um incisão na cabeça.
“Ela pra mim é minha heroína também, porque sem ela eu não conseguia. Eu me emociono sempre quando falam o nome dela, porque hoje eu não poderia estar cá, nem ela poderia estar cá e nem as pessoas”, diz o motorista.
A cobradora encontra a mulher socorreu. A facilitar de serviços gerais Cristina Moraes tinha completo de pegar a transporte. “Não, eu não lembro. Eu lembro ter acordado com o rapaz falando pra mim transpor do ônibus que ia pegar queimação.” Ela agradece às pessoas que a judaram: “Muito obrigado, eu agradeço de coração. “
Na cena do acidente, três imagens do momento da queda chamam a atenção. Os sete carros que entram à esquerda. As dezenas de veículos que aguardam no semáforo. E uma moto que — por pouco — não foi atingida. Era pilotada pelo engenheiro de produção João Lucas Amaral.
“Tava parado no farol, dois faróis antes. Eu escutei um estrondo vindo do firmamento, aí olhei pra cima e vi o avião. Conforme eu vi que ele tava perdendo altitude, o farol abriu e a gente começou a marchar. A gente só escutou um estrondo. Conforme ele bateu numa palmeira, ele arrancou a palmeira e a gente segurou. Ele passou em cima da nossa cabeça, e viu o querosene vazando e explodiu”, diz Amaral.
João passa todos os dias pela avenida Marquês de São Vicente. Mas, na sexta-feira, um imprevisto atrasou a saída pro trabalho.
“Eu tenho um sobrinho que tem menos de 2 anos e ele sempre esconde minhas coisas pela mansão. Aí ontem, ele escondeu a minha chave da moto. Quando eu fui descobrir, eu saí retardado.”
Repórter: Tá indócil com o sobrinho?
João: “Não mais, vou agradecer quando chegar em mansão. Ele salvou a minha vida.”
O publicitário Gabriel Penha também viu tudo de perto. Ele tinha completo de chegar do Rio de Janeiro pra uma consulta médica em São Paulo.
“O sinal fechou, né, esse sinal cá… depois de uns 20, 30 segundos, eu acho, a gente ouviu um estrondo muito grande de metal, metal contorcendo. Só depois que eu fui ver, entendi a sisudez da situação. Quando eu vi as pessoas… se fosse um minuto depois, o semáforo ia terebrar e, com certeza, ia ser pior a situação. Foi muito um livramento, foi surpreendente.”
A tragédia poderia ser ainda maior se a pista não estivesse vazia. “Poderia tombar em cima de todo mundo, sabe? Mas ele foi num lugar que estava vazio, sabe? Logo, foi um ato muito heróico, com certeza”, diz Gabriel.
A mãe do piloto Gustavo Medeiros, de 44 anos, também teve a mesma sensação.
“Eu acho que foi muito a propriedade dele de sempre ser muito prático, de sempre ver a melhor solução… Foi isso que ele fez. Ele foi o Gustavo naquela decisão final”, diz Jane Carneiro da Fontoura.
Gustavo e o possessor da aeroplano, o legista gaúcho Márcio Louzada Carpena, de 49 anos, morreram na hora. A equipe conversou com a mana de Márcio.
“O Márcio era muito grande, enquanto pessoa, profissional, porque ele carregava com ele uma viveza que era incrível. Perder meu irmão, eu perdi uma referência de varão na minha família, eu perdi meu camarada, meu patrão, meu sócio”, diz Michelly Carpena.
Antes da decolagem, Márcio postou um vídeo do avião nas redes sociais. Ele estava a caminho de mansão, em Porto Satisfeito.
A família diz que ele viajava com frequência a São Paulo. Sempre com o piloto Gustavo.
“O Gustavo era quase da família. E a gente confiava a vida a ele por ter noção da capacidade técnica dele. Ele tinha um zelo, um zelo com aquele avião. Ele falava: ‘hoje não dá pra voar’. Ninguém contestava. Ele era um profissional completamente diligente nesse sentido. A gente se solidariza demais com a família dele”, diz Michelly.
Gustavo deixou um fruto de 15 anos e a esposa prenha. Márcio era divorciado e pai de três filhos. Eles estavam num King Air F90, um avião de pequeno porte — bimotor turboélice, com oito lugares.
A reportagem conversou com um piloto que tem experiência em aeronaves deste padrão. Zezil Ferreira acumula mais de 10 milénio horas de voo na curso. Um dos aviões que ele pilota é um King Air C90, padrão similar ao que caiu esta semana em São Paulo. O que muda de um pro outro é a potência dos motores e o formato da rabo.
O King Air do acidente em São Paulo decolou do Campo de Marte. Com menos de um minuto de voo, o piloto avisou à torre que precisava voltar.
“Torre, solicito retorno repentino”, indica uma gravação momentos antes do acidente.
“O retorno ele não declarou emergência, mas por ele ter pedido o retorno, alguma coisa estava errada naquele avião lá. Algumas fotografias mostram que um dos motores, mostra, a gente não tem certeza, que um dos motores estava embandeirado. Embandeirado quer expressar que ele estava parado. Logo é o seguinte, aquele avião era para ter desenvolvido uma velocidade maior, era para ele ter subido tranquilamente, porque ele estava só com dois passageiros lá.”
Esse avião tem uma espécie de caixa-preta que registra a voz do piloto, copiloto e a conversa com a torre de comando. Esse registro pode ser fundamental pra esclarecer o que aconteceu nesse acidente. A bordo do King Air, o piloto Zezil mostrou pro Fantástico porquê funciona o “voice recorder”, o gravador de voz.
” Ele escuta, ele sabe o que o piloto estava falando com o outro. No caso, se o passageiro estivesse cá na frente, que eu não sei também. Ou o que o piloto estava falando com o rádio. Esse cá é o microfone.”
O que se sabe até agora é que o avião, comprado há unicamente dois meses pelo legista Márcio Carpena, passou por uma manutenção preventiva antes da queda. As investigações da polícia e da Aviação estão em curso.
Só neste início de ano, já aconteceram cinco acidentes aéreos com mortes no Brasil, segundo o Núcleo de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa). Nos últimos cinco anos, também segundo o CENIPA, houve um aumento de acidentes com mortes. No ano pretérito, foram 44.
- 2021 – 38
- 2021 – 26
- 2022 – 36
- 2023 – 30
- 2024 – 44
- 2005 – 5
“Esse aumento tem considerado dentro de alguns aspectos. Ao observar os dados disponíveis pela Dependência Vernáculo de Aviação Social, nós observamos que houve um incremento nas horas de voo e no número de decolagens. E até 2023, por exemplo, esse aumento não impactava na segurança da aviação. Somente do acidente da VoePass, é que esses índices aumentaram”, diz o investigador de acidente aeronáutico José Carlos Garcia.
Ele é coronel da suplente da FAB e atuou por 37 anos porquê investigador do CENIPA. Ele afirma que o Brasil está entre os 12 países com os maiores índices de segurança na avaliação da Organização da Aviação Social Internacional.
“Por conta disso, a gente pode declarar que tanto as empresas aéreas quanto o controle do espaço airado, quanto os processos de investigação e prevenção de acidentes aeronáuticos no Brasil, são alinhados e estão condizentes com as melhores práticas de segurança da aviação mundial”, diz o perito.
Os corpos do legista Márcio e do piloto Gustavo foram sepultados neste domingo (9) à tarde em Porto Satisfeito. A mana de Márcio contou porquê ela quer que os amigos e a família lembrem dele.
“Com essa vigor, viveza que ele tinha, com os pensamentos profundos, dizendo: ‘A vida é hoje. Não vou mostrar fraqueza. Viva porquê se todo dia fosse uma despedida, porque é!'”
Natividade/Créditos: O Orbe
Créditos (Imagem de envoltório): Foto: Reprodução