O presidente Luiz Inácio Lula da Silva descerrou a tela As Mulatas à mesa, do pintor modernista Di Cavalcanti, no Palácio do Planalto, na manhã desta quarta-feira (8), em Brasília, durante cerimônia em resguardo da democracia. Hoje, a tentativa de golpe de Estado no país completa dois anos.
Uma das obras mais vandalizadas por extremistas durante a invasão do Palácio do Planalto, o quadro foi pintado em 1962 e retrata mulheres de prosápia africana, uma das bases formadoras da sociedade e cultura brasileiras. Avaliada em muro de R$ 8 milhões, a obra tem 3,5 metros de largura por 1,2 metro de profundeza.
Violência
Considerada uma das obras mais importantes de todo pilha presidencial, a tela de Di Cavalcanti foi rasgada em sete pontos diferentes, não se sabe ao evidente se por uma faca ou punhal usado pelos golpistas que invadiram o Palácio do Planalto naquele domingo fatídico – 8 de janeiro de 2023. O trabalho de recuperação – feito por uma equipe da Universidade Federalista de Pelotas (UFPel) – foi minucioso. Além dos rasgos, as travas de madeira que sustentam a pintura foram completamente destruídas.
A obra já tinha um reentelamento (cobertura protetora no verso da tela) com tecido de linho, que foi rompido pelos rasgos e não era verosímil emendar com fibras originais. A opção foi utilizar um poliester, que é um tecido sintético comumente usado em velas de paquete.
Na segmento frontal da tela, onde a obra está pintada, técnicas de justaposição das texturas dos fios, reproduzindo as pinceladas do artista, disfarçaram completamente os rasgos, que não são mais visíveis.
Já na segmento de trás da tela, os rasgos foram mantidos. Foi uma opção política para mostrar que essa tela sofreu um processo de violência, porquê destacou o presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Pátrio (Iphan), Leandro Grass.
No descerramento do quadro que fica no terceiro andejar do Palácio do Planalto, a poucos metros do gabinete presidencial, Lula recebeu pinturas de réplicas da tela de Di Cavalcanti feitas por estudantes da rede pública de ensino do Região Federalista. Um trabalho de instrução patrimonial em escolas da capital federalista também faz segmento de um contrato de cooperação técnica entre o Iphan e a UFPel para o restauro do pilha.
Ao todo, 21 obras vandalizadas durante a invasão do Palácio do Planalto foram oficialmente reintegradas ao patrimônio durante cerimônia na manhã desta quarta-feira.
Processo de restauro
Para viabilizar a recuperação das obras, uma inédita estrutura laboratorial de restauração foi montada no Palácio da Alvorada, residência solene da Presidência da República, por meio da Diretoria Curatorial dos Palácios Presidenciais e da Coordenação-Universal de Governo das Residências Oficiais.
A iniciativa foi fruto de uma parceria entre o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Pátrio (Iphan) e a Universidade Federalista de Pelotas (UFPel), que possui experiência em conservação e restauração de peças de arte.
O contrato durou muro de um ano e nove meses, com dispêndio de R$ 2,2 milhões em repasses feitos pelo Iphan à UFPel para a obtenção de equipamentos, contratação de bolsistas e gastos logísticos.