No dia em que o Brasil relembra o ato golpista de 8 de janeiro de 2023, e novos atos na capital do país celebram a democracia, quem sobreviveu ao regime dominador da ditadura vê com esperança o momento atual e comemora o sucesso do filme Ainda Estou Cá.
Nesta quarta-feira (8), Mara Régia entrevistou a jornalista Amélia Teles, conhecida uma vez que Amelinha, que foi perseguida e presa na ditadura militar, no programa Viva Maria, da Rádio Pátrio. O foco da entrevista foi o Orbe de Ouro conquistado pela atriz Fernanda Torres pela atuação no filme.
“Esse prêmio da Fernanda Torres, eu acho que retoma um momento de esperança, sabe? Rompe com essas barreiras negacionistas que ainda querem iludir a sociedade de que não houve uma ditadura, de que não houve tortura, de que não houve prisões arbitrárias, sequestros, inclusive não só de militantes políticos, mas também de todas as famílias, de crianças, né? Uma vez que no meu caso, meus dois filhos, de 5 e 4 anos foram sequestrados pelo DOI-Codi cá de São Paulo”, diz Amelinha.
O filme Ainda Estou Cá conta a história da família Paiva, que em 1971, com o endurecimento da ditadura militar, precisa enfrentar o desaparecimento e assassínio de Rubens Paiva, engenheiro social e político brasiliano. A história é contada do ponto de vista de quem fica, a esposa Eunice Paiva, interpretada por Fernanda Torres.
“É a arte a serviço da história do Brasil, dignificando a história do Brasil, porque isso não é uma página viradela. O que aconteceu há mais de 60 anos, o conjunto militar de 1964 não pode ser nunca esquecido. Temos que revisitar essa história, trazer essa memória, para que a gente se fortifique enquanto sociedade, para proteger de forma muito cabal a justiça, a democracia”, defende, Amelinha, na entrevista.
A ditadura militar se estendeu de 1964 a 1985. O período em que o país foi controlado por militares é marcado por repressão, exprobação à prensa, restrição aos direitos políticos e perseguição aos opositores do regime. A Percentagem Pátrio da Verdade reconheceu 434 mortes e desaparecimentos durante a ditadura.
A Percentagem Camponesa da Verdade também reconheceu o impacto do período para os povos do campo e apresentou, em 2015, um relatório que lista 1.196 camponeses e apoiadores mortos ou desaparecidos entre 1961 e 1988.
Para Amelinha, o filme mostra que a luta de familiares, amigos e mesmo de quem sobreviveu à ditadura ainda persiste. “Eu fiquei muito feliz de ver. E o tema? Ainda estou cá, ainda estamos cá nessa luta eu acho que essa premiação retoma esse processo de esperança de que valeu e vale a pena a luta”, diz, e ressalta: “Viva a democracia e ainda estamos cá por memória, verdade e justiça”.