A queda da Ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira, que passa sobre o rio Tocantins e ligava os municípios de Estreito (MA) e Aguiarnópolis (TO), trouxe à tona denúncias antigas de negligência e falta de manutenção na estrutura, que vinham da própria população sítio.
Construída na dezena de 1960, a ponte está localizada na região em que o agronegócio mais cresce no Brasil. Conhecida uma vez que Matopiba, ela engloba os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Nas últimas décadas, o progressão da produção de commodities mudou a paisagem sítio da chamada última fronteira agrícola do território pátrio.
O acidente ocorreu na tarde de domingo de tarde, quando a estrutura cedeu sobre o rio Tocantins. Vídeos publicados na internet mostram a pista rachando e o momento do desabamento. Entre os veículos que caíram no rio, estavam quatro caminhões, dois automóveis e duas motocicletas. Uma pessoa morreu e pelo menos 14 estão desaparecidas.
Horas depois as prefeituras de Estreito (MA) e Aguiarnópolis (TO) emitiram alertas de contaminação da chuva à população. Caminhões que caíram no rio transportavam ácido sulfúrico e herbicidas. Nesta segunda-feira (23), a Rede de Agroecologia do Maranhão publicou nota apontando uma tragédia anunciada.
“Além da situação da ponte, que já estava com rachaduras denunciadas pela comunidade sítio, há que se constatar para o vestimenta de que o transporte de substâncias uma vez que esses químicos, também representa perigos à vida. O Maranhão tem sido rota da estrutura logística de importação de agrotóxicos, que chegam pelas instalações portuárias de São Luís e são distribuídos para diversas cidades e estados, onde o agronegócio e a pulverização aérea de agrotóxicos têm avançado cada vez mais.”
Em estudo ao Brasil de Veste, a doutoranda em Estudos Sociais Agrários Gilvânia Ferreira também alertou para o problema. Professora da Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão, ela observa de perto os impactos do aumento da atividade agrícola na região.
“O desabamento da ponte é um marcador de alerta de que é preciso ter uma fiscalização, uma preocupação e um comprometimento com essas infraestruturas, mas, principalmente, com a população, para que nenhum outro acidente possa ocorrer mais.”
Nos últimos dez anos, a produção de grãos no Matopiba aumentou 92%, de 18 milhões de toneladas na safra 2013/14 para 35 milhões atualmente. Os principais produtos são soja, milho e algodão. Um estudo do Ministério da Lavradio e Pecuária (Planta) e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), mostra que a escalada vai continuar e pode chegar a 37% nos próximos 10 anos.
De consonância com a professora Gilvânia Ferreira, o acidente está diretamente relacionado a esse cenário. “A dinâmica econômica estabelecida na região, considerada a última fronteira agrícola, onde o agronegócio se expande com voracidade e rápido e o prolongamento da produção de soja, impulsionado pelo uso de fertilizantes e agrotóxicos, gera um grande volume de transporte de cargas, sobrecarregando infraestruturas uma vez que a ponte que desabou.”
Ela alertou também para os diversos problemas causados pela expansão do agronegócio, que vão dos danos ao meio envolvente à precarização da vida de populações tradicionais. “Tudo isso vem com o pacote completo, o desmatamento, as queimadas, os conflitos agrários, o assassínio de trabalhadores, camponeses, quilombolas e comunidades indígenas.”
Para a professora, com o acidente, a ponte se torna um símbolo da ruína do território e dos modos de vida das pessoas que vivem na região. Ela alerta que a ampliação da monocultura prejudica a produção familiar, contamina as águas e prejudica a saúde humana e dos animais.
“Essa ponte que liga os dois estados também é uma ponte que favorece a expansão dos monocultivos e a exploração dos trabalhadores, mas principalmente da natureza. Há muitos impactos ambientais que o desmatamento traz para a nossa para a região e a população é a mais impactada. No caso desses caminhões que caíram no rio, com certeza as famílias ribeirinhas serão as mais impactadas.”
Ainda no domingo, a ponte foi totalmente interditada pelo DNIT, que informou que vai apurar as causas do acidente. O Ministro dos Transportes, Renan Rebento, determinou a início de uma sindicância para investigar o caso e prometeu a reconstrução da estrutura em 2025.
O Ministério Público dos estados do Maranhão e Tocantins também se manifestaram, afirmando que irão escoltar as investigações e tomar as medidas cabíveis para prometer a responsabilização dos envolvidos e a segurança da população.
Edição: Rodrigo Chagas