O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) disse, nesta quarta-feira, que se pudesse voltar no tempo teria escolhido ministros mais “parrudos” e “casca grossa” em vez de generais para os ministérios palacianos no seu governo. Segundo ele, faltou “conhecimento” e “malícia” para “enfrentar o sistema”.
“O sistema tá potente, tá aí (sic). Faltou conhecimento para nós, malícia. Você me pergunta o que eu faria dissemelhante. Os ministros palacianos seriam diferentes. Eu não teria mais alguns nomes, um general ali. Eu não teria mais general ali. Teria ministro mais parrudo, mais casca grossa, para enfrentar o sistema”, disse, em entrevista ao conduto bolsonarista Fio Quotidiano.
Os ministérios chamados palacianos são aqueles cuja sede fica dentro do Planalto. São eles a Morada Social, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), a Secretaria-Universal e a Secretaria de Governo. As chefias dessas pastas foram ocupadas pelos generais Walter Braga Netto — recluso desde dezembro por participação, segundo a Polícia Federalista, na trama golpista do termo de 2022 — que comandou a Morada Social e também foi ministro da Resguardo; Augusto Heleno — também suspeito de integrar a suposta trama golpista de 2022 (GSI, de 2019 a 2022) —; Santos Cruz (Secretaria de Governo, 2019); e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo de 2019 a 2021; Morada Social, 2021; e Secretaria-Universal da Presidência de 2021 a 2023).
A mudança de exposição vem depois de a Polícia Federalista indiciar 28 militares por participação em um projecto do suposto golpe de Estado no termo de 2022, depois de Bolsonaro perder as eleições para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O ex-chefe do Executivo, também indiciado, é assinalado pela PF uma vez que o líder da organização criminosa que planejou suprimir o Estado Democrático de Recta e impedir que o petista tomasse posse.
Na mesma entrevista, Bolsonaro disse que seria “fácil” dar um golpe em 2022, mas que sua experiência uma vez que militar, deputado e presidente lhe dizia que haveria consequências no “day after” (dia seguinte).
“O que eu poderia fazer fora das quatro linhas? Diga. Ponto final. Fazer besteira? É fácil. Eu quero ver o after day (day after), o dia seguinte. (Com) a idade que eu tenho, a experiência que eu tinha de 28 anos de parlamento, 15 de Tropa e três na Presidência, a gente sabe o que se pode fazer, a gente sabe das consequências”, afirmou.
Traumas
Segundo ele, a passagem pela Presidência da República lhe deixou traumas. Nas últimas entrevistas que tem oferecido a canais bolsonaristas no YouTube, o ex-chefe do Executivo tem repetido que, durante seu procuração, em diversas ocasiões, chorava no gabinete presidencial. Nesta quarta-feira, ele frisou que uma das consequências de ter chegado à Presidência é ter, todos os dias, a sensação de que a Polícia Federalista está à sua porta logo pela manhã.
“Eu digo e alguns até reclamam: não é fácil a vida de presidente. (Perguntam) ‘se é tão difícil, por que tu quer ir pra lá?’. Porque eu quero ajudar o meu país. Porquê é que você acha que eu convénio todo dia? Com a sensação da PF na porta! Qual a denunciação? Não interessa”, disse.
Outra tônica das entrevistas de Bolsonaro é o motivo da itinerário em 2022. Nesta quarta-feira, ele voltou a culpar o sistema eleitoral brasiliano e destacou que o país deveria ter um sistema de votação igual ao da Venezuela.
Para ele, a existência do voto impresso no sistema venezuelano foi o que permitiu à comunidade internacional perceber que havia fraude nas eleições do último ano que reconduziram Nicolás Maduro. Até hoje, no entanto, as autoridades venezuelanas não forneceram as atas eleitorais, a despeito dos pedidos de organizações internacionais.
“Hoje, nós clamamos cá por um sistema eleitoral semelhante ao da Venezuela. (…) Só o Brasil e mais dois países insignificantes têm isso daí”, referindo-se à urna eletrônica adotada no Brasil. Ele também sustentou que é perseguido pelo Judiciário e que não pode mais proferir que há ou que houve fraudes no sistema eleitoral brasiliano. “Se eu falar em fraude cá, pode daqui a meia hora a Polícia Federalista fustigar na minha porta”, justificou.