Na reunião ministerial, Lula não deixou margem a dúvidas: sai “precarização do trabalho”, entra “empreendedorismo”. Já comentei sobre essa, digamos, mudança de paradigma do presidente, mas é a primeira vez que vejo uma enunciação tão explícita.
Destaco, novamente, a fala de André Singer, um dos principais intelectuais do petismo, para quem abraçar o empreendedorismo “é contra aquilo que ele (PT) veio propor para a sociedade”.
Coincidentemente, essa reunião se deu no dia da posse de Donald Trump, que não perdeu a oportunidade de reafirmar toda a sua agenda anti-imigração e anti-woke. Alguém consegue imaginar o contrário? Alguém consegue imaginar Kamala Harris fazendo o mesmo oração de posse? Princípios são inegociáveis, e um candidato a presidente ganha a eleição quando seus princípios batem com os princípios da maioria dos eleitores.
Lula, por outro lado, quer que o PT vista agora o figurino de “padroeiro do empreendedorismo”. Mas isso intrinsecamente significa redução da regulamentação do trabalho por secção do Estado, o exato oposto do que, no expor de Singer, o PT veio propor para a sociedade. É óbvio que não tem uma vez que dar visível, vai contra décadas de oração e prática, mas, para Lula, isso pouco importa. O que importa, uma vez que dizia Aureliano Buendía, é a luta pelo poder. Os princípios são secundários. Jornal da cidade