O socorro aos ocupantes do avião que se acidentou em Ubatuba (SP) na manhã de quinta-feira (9) foi inopino e mobilizou quem passava pelo lugar, tendo treinamento ou não. Policiais e bombeiros chegaram rapidamente, mas atuaram em conjunto com trabalhadores e turistas. Uns tentavam quebrar as janelas para salvar o piloto e passageiros, enquanto outros jogavam chuva do mar para tentar extinguir o queimação na aeroplano. No relato de um desses voluntários, a vítima Mireylle Fries, que está em estado grave, foi uma “heroína” por ter priorizado o socorro dos filhos.
O serralheiro Lino Ferreira Batista Junior, de 38 anos, foi um dos primeiros a chegar ao lugar do acidente e a ajudar no socorro às vítimas. Lino conta que estava a caminho de um cliente quando viu a explosão poucos metros adiante de onde estava, mas pensou naquele momento que fosse “um treinamento dos bombeiros, ou a explosão de qualquer botijão de cozinha”.
— Eu estava dirigindo, mas, porquê eu precisava falar com o cliente, a gente trocou de piloto um pouco antes. Acho que Deus livrou a gente nesse tempo que a perdemos trocando de lugar. Quando a gente percebeu que era um avião, largamos o carruagem ali e corremos para a areia. O pessoal ficou falando pra gente não ir porque podia explodir, mas a gente viu que tinha pessoas pedindo socorro. Uma vez que que não ia? Com gente viva lá dentro? Naquela hora ninguém sabia se era varão, mulher, garoto, rico ou pobre. Eram vidas. A preocupação era só ajudar — relatou ao GLOBO.
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— A gente começou a caçar alguma coisa para quebrar a janela. Só dava para ver a mão dos passageiros batendo no vidro, tinha muita fumaça. A primeira coisa que achamos foram pedaços de concreto. Mas batia e voltava, batia e voltava. Nunca andei de avião, não imaginava que vidro de avião fosse tão duro. Bateu desespero porque não estava dando claro. Depois a gente achou um pedaço de ferro, acho que era de um poste, e conseguimos quebrar para retirar as crianças — completou.
Da cozinha ao lado do aeroporto em que Pedro Romano produz donuts para vender em um shopping lugar, o jovem de 25 anos se assustou com o estrondo elevado das turbinas do Cessna protótipo Citation 525 e saiu a tempo de testemunhar a explosão da aeroplano. Correu para a chuva e se juntou à força-tarefa de desconhecidos formada espontaneamente para resgatar as vítimas.
— O piloto foi o primeiro que a gente conseguiu ter contato. Ele estava de ponta-cabeça, e a cabine estava dentro da chuva. Ele segurou o braço da gente, o meu e o de outro rapaz. Tentamos soltar o cinto, mas não dava. Quando ele soltou nosso braço, já estava com mais da metade do corpo dentro da chuva. Corri para o fundo do avião quando ouvi os gritos porque tinham conseguido quebrar uma janela. A moça foi retirada primeiro, e depois eu consegui pegar o menino e o levei até a ambulância. Ele estava acordado, mas inconsciente. Foi muito impactante — relembra Pedro, que teve diversas escoriações nas mãos e queimaduras no pé por conta do tênis ensopado de querosene de aviação.
Lino e Pedro afirmam que a passageira Mireylle Fries foi uma “heroína” por ter priorizado o socorro dos filhos. Segundo os relatos, a mulher conseguiu colocar a cabeça para fora do avião quando quebraram uma janela próxima a ela, mas retornou com o corpo para dentro da cabine para que as crianças pudessem ser salvas por ali. A mulher, de 41 anos, passou por cirurgia no hospital de Caraguatatuba e foi transferida para a capital paulista em estado grave.
A empresária Mireylle Fries, 41 anos, enfrenta quadro grave de saúde, informou o governo do estado nesta sexta-feira (10). Ela estava internada mais cedo no Hospital Regional de Caraguatatuba, mas deixou a unidade rumo a um hospital privado de São Paulo.
O marido, Bruno Almeida Souza, 48 anos, e os filhos Ayla e Lucca, de 4 e 6 anos, seguem internados, mas permanecem estáveis, de congraçamento com a Secretaria Estadual de Saúde. Eles também foram transferidos para a capital paulista ao longo do dia.