Carl Fredricksen viveu uma vida enxurrada de momentos felizes e de sonhos ao lado da esposa Ellie. Eles eram melhores amigos, namorados, marido e mulher. O parelha planejava viajar para a América do Sul, mas o fado tinha outros planos para eles. Com o falecimento da esposa, Carl sentiu os anos pesarem e os dias se tornarem amargos. Aos 78 anos, já um senhor de idade, ele se recusa a transpor da morada onde ele e a esposa moraram e dividiram os melhores anos de suas vidas para dar espaço a uma construtora. A história de Carl se passa na animação da Disney “Up – Altas Aventuras”, mas é o enredo da vida de muitas pessoas que, ao chegarem na terceira idade, se vêem presos ao pretérito e às amarguras do presente.
Há muita dificuldade em mourejar com a vetustez: a novidade geração que pensa dissemelhante, as tecnologias complexas, os impedimentos físico-motores, o falecimento de amigos, a veras da solidão e a proximidade do termo da vida. Quem sabe envelhecer muito, vive muito. Mas as coisas não são tão simples assim. No Brasil, sofremos com o desamparo familiar e orfandade de idosos em asilos ou albergues públicos. O Instituto Brasílico de Geografia e Estatística (IBGE) analisou o período entre 2012 e 2017 e constatou que a população de idosos no país saltou de 25,4 milhões para mais de 30,2 milhões de pessoas. Nesse mesmo período, notou-se também que o número de homens e mulheres com 60 anos ou mais nos albergues públicos subiu 33%, de 45,8 milénio para 60,8 milénio. Ou seja, tratamos mal quem nos tratou muito a vida inteira.
A solidão é uma grande epidemia mundial que afeta pessoas de todas as idades e em diversas fases da vidas. A solidão na vetustez é muito mais geral, pois com a aposentadoria e provável retraimento da família, os idosos acabam se desconectando do mundo que conheciam. Acontecimentos uma vez que a morte do parceiro ou a separação podem fazer com que esses indivíduos escolham viver na solidão. O problema também é associado a demência, mortalidade prematura e pressão sanguínea subida. A primeira-ministra britânica, Theresa May, descreveu a epidemia da solidão uma vez que “a triste veras da vida moderna”, que afeta milhões de pessoas. Além das consequências físicas, a depressão na terceira idade e outras doenças psicológicas são uma veras e tomam conta devido a tristeza, desmotivação, baixa qualidade de vida — principalmente em cidades grandes — e falta de perspectiva que essas pessoas sentem quando a idade avança.
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Mas a vetustez não precisa ser infeliz, solitária e enxurrada de doenças físicas e mentais. Aliás, a amizade na terceira idade é um dos melhores remédios contra os males físicos e psicológicos. Segundo a neuropsicologista Rita Miranda, em entrevista para o G1, “psicologicamente falando eles ficam com a mente mais ocasião, mais espontâneos, mais livres para poder vivenciar o que eles desejam. Eu acredito que eles criam motivação para enfrentar qualquer doença ou dificuldade que possa ter”, explica.
Paixão na terceira idade
Independente da idade, os laços afetivos podem evoluir para a paixão e para o paixão, e por quê isso seria dissemelhante quando ficamos mais velhos? A terceira idade pode ser um período de novas descobertas e novos sonhos, já que muitos idosos passam pelo divórcio ou perdem a pessoa namorada. O namoro na terceira idade é tão oriundo quanto o nosso primeiro ósculo na mocidade e, nos dias de hoje, acontece com cada vez mais frequência. O terror de se relacionar novamente ou até mesmo o preconceito, seja da própria pessoa ou da sociedade, inibe e desencoraja, mas saiba que os relacionamentos na melhor idade podem trazer benefícios para a saúde! Em entrevista para o G1, a psicóloga Maria Luisa Francischetto Travaglia, aponta que “o namoro tende a reduzir os problemas de saúde, pois quando estamos apaixonados, assim uma vez que qualquer jovem, temos o libido de nos cuidar, resgatando uma vaidade que, muitas vezes, se perdeu ao longo da vida. Aliás, ter com quem partilhar alegrias ou amenizar angústias faz a vida ser mais ligeiro e ter mais sentido”.
Em muitos casos, a própria família é contra o namoro. A sociedade ainda enxerga o idoso uma vez que alguém que não precisa mais viver novas experiências, que não tem vontades, desejos ou que não pensa sobre sexo. Mas eles pensam. Eles querem amar e serem amados. Os sites de relacionamento para a terceira idade já estão por aí e cada vez mais velhinhos se jogam em novas aventuras, afastando a solidão, depressão e os males do coração.
Seja rodeado de amigos ou embarcando numa experiência amorosa, a verdade é que quem passou dos 60 também tem recta a viver a vida intensamente. Assim uma vez que o senhor Fredricksen em “Up – Altas Aventuras”, eles também precisam fazer novos amigos, saber o mundo e ter a saúde física e mental muito amparadas.
Os grupos de amigos na terceira idade, seja aqueles do bingo, das viagens, da dança de salão ou da passeio matutino, são benéficos pois afastam o isolamento e o sedentarismo e incentivam a procura pelo novo e pela socialização, peças chave para que tristeza nenhuma tome conta, além de fazerem o corpo e a mente trabalharem. Em “Up – altas Aventuras”, depois um incidente, Carl seria movido da sua morada para um asilo, mas amarrou balões à moradia e partiu para uma façanha rumo à América do Sul. Mas a grande façanha que deu cor à sua vida foi, na verdade, a amizade que criou com Russel, um garoto de 8 anos pleno de coisas para recontar e perguntar. Apesar de tentar distanciar o garoto a todo dispêndio, o mal-humorado e antissocial senhor Fredricksen acabou cedendo ao laço afetivo e não ganhou somente um companheiro, ganhou a vontade de viver novamente.
Nascente/Créditos: TelaVita
Créditos (Imagem de toga): Divulgação