Em seguida dois meses de trabalho, muro de 20 cartunistas da Associação de Artistas Gráficos do Rio Grande do Sul (Grafar) inauguraram em Porto Satisfeito a exposição “Nau dos Insensatos – O Naufrágio do Estado Mínimo”. Com o tradicional humor crítico do cartum, a mostra retrata a devastação e a dimensão política das enchentes que atingiram o estado.
A exposição estreou no dia 6 de setembro, em uma curta temporada no salão de eventos da Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras em Instituições Financeiras do Rio Grande do Sul (Fetrafi-RS). Agora, percorre o estado em formato itinerante.
São 60 cartuns em formato A3, que acompanham a obra principal, um estampa gigante e coletivo de sete metros de comprimento por três de profundeza. Grandeza que, segundo o cartunista e diretor da Federação Vernáculo dos Jornalistas (Fenaj), Celso Schröder, representa o tamanho da tragédia.
“Nos veio à cabeça imediatamente a Guernica do Picasso, que foi feita para registrar o bombardeio na cidade de Guernica. E nós imaginamos uma espécie de Guernica da enchente”, explica.
Confira a reportagem em vídeo:
O nome “Nau dos Insensatos”, prossegue Schröder, também veio quase imediatamente. “Ela representa uma parábola muito conhecida na história da arte, que é uma pintura do Hieronymus Bosch, que registra um navio sem comando, no meio do oceano, referto de gente insana, descontrolada, entregues aos seus desejos privados, sem nenhuma fala, sem nenhuma saída coletiva.”
O cartunista afirma que as obras provocam questionamentos sobre elementos que estão por trás da tragédia, porquê o esgotamento da legislação ambiental e a falta de ação política. Ele pontua que a “falta do rigor” nas leis fez com que “esse canteiro de soja que o Rio Grande do Sul se transformou possibilitasse às águas descerem nessa velocidade, nessa quantidade muito superior, por exemplo, à enchente de 1941”.
“É uma sátira de dirigentes eleitos para tal que apostaram, primeiro, no neoliberalismo, onde o Estado foi reduzido ao seu mínimo. Em segundo lugar, um niilismo, um negacionismo ambiental que resultou, por exemplo, num governante municipal que sequer azeitou as comportas que existiam há mais de 50 anos e que tinham funcionado até logo, sequer colocou graxa nessas comportas e que manteve os disjuntores das bombas num nível inferior da enchente”, completa Schröder.
Função social do humor
Os cartunistas se reúnem na Grafar desde os anos 80. Atualmente, contam com o jornal eletrônico mensal O Grifo. O grupo destaca a função social do humor, que para o cartunista Edgar Vasques, passa por “não deixar a gente enlouquecer”.
“Funciona porquê uma válvula de escape para as frustrações, para a enorme gama de problemas que a gente vive”, prossegue. Outra finalidade é mostrar as realidades “através da linguagem sedutora e pílula dourada do humor”.
“O humor promete o prazer do riso e entrega a consciência. E para chegar no riso, você tem que entender o que o faceta está dizendo. Logo, o papel do humorista são essas duas pontes principais”, comenta Vasques.
A cartunista Fabiane Langona entende que “um artista é o revérbero do seu tempo”. Ela destaca o papel do grupo porquê artistas gráficos para além do registro histórico do tema tratado.
“Nesse trabalho da charge é importantíssimo para que a gente traga nossas reflexões e talvez abra o olhar das pessoas para novas interpretações dos fatos, independente de aspectos, seja de mídia impressa, seja de veículos oficiais, mas acho que a arte conversa com as pessoas de uma forma mais abstrata, mais emotiva.”
Entidades sindicais parceiras na exposição
A exposição tem esteio de entidades sindicais e produção da Medial Única dos Trabalhadores do Rio Grande do Sul (CUT-RS), que vai torná-la itinerante. A teoria é levar as denúncias a outros territórios atingidos no estado.
“Nós estamos discutindo com universidades do Interno, sindicatos que tenham espaços grandes, para que a gente possa não só expor, porquê também levar esses cartunistas para falar com as pessoas que vão reputar e vão, digamos assim, ao nosso ver, se engajar nessa luta”, afirma o presidente da CUT-RS, Amarildo Cenci.
O dirigente sindical ressalta que a luta “é feita de manifestações de rua, protestos, manifestações de todo tipo, atos públicos”, e é sempre sátira. “Cá nós estamos falando de cartunistas gaúchos que são inconformados, que são resistentes a essa teoria do planeta destruído, de um sistema que quer explorar a natureza, de uma teoria de um Estado mínimo, de desregulamentação do sistema de proteção ambiental, de exclusão, de desigualdade.”
Com curadoria de Celso Schröder, a obra que arrancou uma salva de palmas ao ser revelada na inauguração em Porto Satisfeito é assinada por Edgar Vasques, Santiago, Bier, Hals, Kayser, Fabiane Langona, Uberti, Bruno Ortiz e Eugênio Neves. A exposição também conta com o esteio do Sindjors, Sindbancários-RS, Sintrajufe-RS, CPERS, Adufrgs Sindical, Fetrafi-RS e Grafar.
Manadeira: BdF Rio Grande do Sul
Edição: Katia Marko
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