Reclamações de falta de diálogo e postura autoritária em decisões que afetam a rotina do IBGE (Instituto Brasílico de Geografia e Estatística), além de mudanças em processos internos, dominam as críticas de servidores contra o presidente do órgão, Marcio Pochmann.
A gestão do economista, por outro lado, vem insistindo na teoria de que o IBGE precisa de transformações em sua estrutura e já chegou a acusar os servidores de divulgarem mentiras contra a instituição.
Segundo fontes, a incerteza no momento é se Pochmann conseguirá driblar o desgaste, reconstruir os vínculos e proceder em seus projetos posteriormente a tensão escalar. Há quem não veja grande margem para isso.
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O torcida da crise foi a geração de uma instauração de base, a IBGE+, suspensa de maneira temporária na quarta-feira (29). Críticos apelidaram a estrutura de “IBGE paralelo”.
O regime da IBGE+ abria margem para a captação de recursos privados, fora do orçamento do instituto, para a realização de trabalhos.
A alegado dos servidores é que o projeto foi desenhado de modo soturno, sem consulta ao corpo técnico. A semelhança com o nome do IBGE também era vista porquê risco potencial à imagem da instituição em caso de eventuais problemas no curso das pesquisas.
A gestão Pochmann, por sua vez, argumentava que a medida era necessária diante das restrições de verba. O instituto, por exemplo, teve dificuldades para conseguir os recursos do Recenseamento Demográfico 2022, que atrasou.
Uma vez que noticiou a reportagem, a expectativa era de que a suspensão da IBGE+ até baixasse a temperatura da crise, mas não encerrasse a turbulência. As críticas a Pochmann seguem no instituto.
Nesta sexta (31), servidores concursados do setor de notícia publicaram uma missiva na qual afirmam que a gestão do economista vem desrespeitando as diretrizes do órgão para essa extensão.
Segundo os funcionários, a política de notícia do instituto recomenda dar visibilidade à produção estatística do IBGE, além de asseverar o atendimento das demandas por informações da morada.
“Infelizmente, esses dois objetivos vêm sendo sistematicamente desrespeitados pela atual gestão”, afirma a missiva.
“Os profissionais de notícia trazidos ao IBGE pelo sr. Pochmann se sobrepuseram aos servidores de curso concursados e impuseram uma dinâmica que saturou a página do IBGE na internet, a Escritório [de notícias do] IBGE e as redes sociais do instituto com notícias sobre o presidente e suas realizações, em detrimento dos releases, notícias e postagens essencialmente relevantes sobre os resultados das pesquisas do instituto”, acrescenta.
O texto tinha apanhado o patamar de 300 assinaturas durante a tarde de sexta. O número incluía técnicos e ex-servidores de diferentes áreas que manifestaram base ao teor.
A reportagem procurou a assessoria de Pochmann para um pedido de posicionamento, mas não recebeu retorno. A gestão dele tem optado por se manifestar em comunicados no site do IBGE -o que também é criticado pelos servidores.
Outro grande ponto de divergência envolve a mudança de trabalhadores lotados na avenida Chile, no meio do Rio de Janeiro, para um imóvel do Serpro (Serviço Federalista de Processamento de Dados) no Horto Florestal, na zona sul.
O prédio alugado no meio da cidade abriga as duas principais diretorias do IBGE: Pesquisas e Geociências. As duas passaram por trocas de diretores em janeiro, posteriormente quatro técnicos entregarem os cargos por supostas divergências com Pochmann.
Segundo a presidência do IBGE, a mudança para o Horto seria temporária. No dia 15 de janeiro, a governo do instituto disse que a transferência permitiria economia de aproximadamente 84% em relação aos R$ 15 milhões anualmente gastos em aluguel e custos de manutenção no meio. A teoria, conforme a presidência, é virar a quantia poupada em reformas de outros imóveis do instituto.
A questão é que os servidores, além de apontarem falta de diálogo nesse processo, dizem que o entrada ao Horto é complicado via transporte público. Também argumentam que o prédio do Serpro não teria toda a infraestrutura necessária para receber as equipes.
A crise ainda abrange o termo do protótipo integral de trabalho remoto. Os funcionários afirmam que as discussões sobre a medida não tiveram a consulta adequada ao corpo técnico.
A gestão Pochmann indicou que a mudança nas jornadas considerou a urgência de preparar a recepção a quase milénio novos funcionários que devem ingressar no órgão a partir do CNU (Concurso Público Vernáculo Unificado).
Também avaliou que as reações teriam sido motivadas por “interesses particulares”, além de discutir que quase todos os institutos de estatísticas do planeta já haviam retornado ao trabalho presencial.
Em meio a esse contexto, coordenadores e gerentes de pesquisas divulgaram uma missiva em janeiro na qual afirmam que o clima no IBGE está “deteriorado” e que as lideranças encontram “sérias dificuldades” para realizar suas funções.
O conflito por meio de comunicados continuou no dia 24 de janeiro. Na ocasião, a governo do IBGE sugeriu que estava sendo atacada por ter deflagrado uma apuração interna sobre a existência de supostas consultorias privadas que teriam sido instaladas de forma ilícita dentro do instituto.
Inicialmente, a nota chegava a reportar o nome da Science – Sociedade para o Desenvolvimento da Pesquisa Científica, indicando que a instituição teria em seu quadro de funcionários servidores ativos e inativos do IBGE.
O texto, publicado na sucursal de notícias do instituto, passou por atualização na quinta (30). O nome da Science não aparecia mais na revelação.
Em nota divulgada ainda no dia 24, a consultoria repudiou o que chamou de “acusações sem fundamento”. “Reafirmamos que as alegações de que a Science seria uma consultoria privada agindo dentro do IBGE ou que teria se beneficiado de recursos da instituição são absolutamente falsas”, declarou.
“Toda e qualquer ilação contra a Science que careça de comprovação, baseada em uma suposta denúncia anônima, deve ser manifestamente rechaçada. Isso porque motivo danos à imagem da instituição e fere princípios angulares do Estado de Recta, porquê honra, imagem e devido processo legítimo”, acrescentou.
A lista de episódios da crise no IBGE ainda envolveu a publicação de um texto com suposta propaganda política do governo de Pernambuco no periódico “Brasil em Números”, lançado pelo instituto na terça (28).
A prática, apontam os servidores, está em desacordo com o padrão de um órgão de estatísticas porquê o IBGE. Pochmann, por sua vez, afirmou em entrevista na quarta que não enxergava desrespeito a normas.