No termo de maio, o funkeiro Marlon Brendon Coelho Couto da Silva, o MC Poze do Rodo, foi estagnado em sua residência no Recreio dos Bandeirantes, no Rio de Janeiro. A prisão ocorreu sob acusações de apologia ao transgressão e associação ao tráfico de drogas, com indícios de vínculos com a partido criminosa Comando Vermelho (CV).
A ação policial foi motivada por evidências de que suas músicas e apresentações glorificavam atividades ilícitas e eram utilizadas para promover e financiar operações do CV.
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Entre os materiais que reforçam a conexão entre o artista e a partido, estão vídeos de shows em que traficantes armados exibiam armamentos pesados. Em uma de suas músicas, Poze canta: “Temos Glock, temos AK… vamos retomar o que é nosso e gritar: É o CV!”, de modo a exaltar o grupo criminoso.
Aliás, sua mulher, a influenciadora Viviane Noronha, foi fim da Operação Rifa Limpa, que investiga esquemas de rifas ilegais utilizados para lavagem de moeda em mercê do Comando Vermelho. Na residência do parelha, foram apreendidos carros de luxo, joias e eletrônicos de cimo valor, reforçando as suspeitas de envolvimento financeiro com a partido.
No momento de sua prisão, Poze afirmou para a Secretaria de Governo Penitenciária (Seap) ter relação com a partido Comando Vermelho
Apesar das evidências, em 2 de junho, o desembargador Peterson Barroso Simão concedeu habeas corpus ao cantor, no qual alegou falta de provas suficientes para mantê-lo estagnado.
Divergências sobre a ação da polícia
Nas redes sociais, a vereadora de São Paulo Amanda Vettorazzo, autora do projeto de lei que ficou nacionalmente sabido uma vez que PL Anti-Oruam, comemorou a prisão de Poze e, posteriormente, criticou sua soltura.
“Uma das notícias mais importantes do Brasil nos últimos tempos”, disse Amanda. “Ele cantava músicas do Comando Vermelho, numa comunidade gerida pelo Comando Vermelho, supostamente, com moeda do Comando Vermelho, para os traficantes do Comando Vermelho. Fica muito evidente qual a relação entre eles. Isso não é cultura da favela, é cultura do transgressão, que tem que ser eliminada da nossa sociedade. As pessoas que moram na comunidade estão coagidas sempre por essa verdade.”
TODOS OS APOLOGISTAS DO CRIME ORGANIZADO DEVEM SER PRESOS
TODOS OS APOLOGISTAS DO CRIME ORGANIZADO DEVEM SER PRESOS
TODOS OS APOLOGISTAS DO CRIME ORGANIZADO DEVEM SER PRESOS
TODOS OS APOLOGISTAS DO CRIME ORGANIZADO DEVEM SER PRESOS
TODOS OS APOLOGISTAS DO CRIME ORGANIZADO… pic.twitter.com/FrOFZoYP2i
— Amanda Vettorazzo (@Amandavettorazz) May 29, 2025
De autoria da parlamentar do Movimento Brasil Livre (MBL), o PL Anti-Oruam visa a proibir a contratação, com recursos públicos, de artistas que façam apologia ao transgressão organizado ou ao uso de drogas, principalmente em eventos abertos ao público infantojuvenil. O nome informal do projeto faz referência ao rapper Oruam, Mauro Davi dos Santos Nepomuceno, fruto de Marcinho VP, líder do Comando Vermelho. Ele é companheiro do MC Poze do Rodo.
No início de junho, Amanda e os parlamentares do MBL Kim Kataguiri e Guto Zacarias entraram com uma ação conjunta, em que pediram a remoção de músicas com apologia ao transgressão organizado das plataformas de streaming.
“Desde menor sou Comando, nós é relíquia”
“Nós tem Glock, tem AK, 62 com mira laser
Terror dos germânico, é os moleque da 13”Essas são algumas das músicas do MC Poze do Rodo que fazem apologia EXPLÍCITA ao transgressão.
Eu, @KimKataguiri e @GutoZacariasMBL entramos com uma ação… pic.twitter.com/LZEM1ycKHE
— Amanda Vettorazzo (@Amandavettorazz) June 2, 2025
“Chega de regularizar a narcocultura”, escreveram, no X. “O brasiliano não aguenta mais conivência com o transgressão.”
Todavia, na avaliação do jurisconsulto constitucionalista e comentarista político André Marsiglia, não há apologia a transgressão em letra de música. “Não tenho a menor teoria de quem é Poze”, escreveu.
🚨Não tenho a menor teoria de quem é Poze. Se recluso por relação com transgressão organizado, por óbvio, foi muito recluso. Mas uma coisa tem que permanecer clara: não existe apologia a transgressão em letra de música. Letra, por pior que seja, é obra ficcional, e ficção não é apologia.
— Andre Marsiglia (@marsiglia_andre) June 1, 2025
“Se recluso por relação com transgressão organizado, por óbvio, foi muito recluso. Mas uma coisa tem que permanecer clara: não existe apologia a transgressão em letra de música. Letra, por pior que seja, é obra ficcional, e ficção não é apologia. Apologia é destinar ao outro mensagem com intenção deliberada de o fazer cometer transgressão. Não significa falar de transgressão, não significa romantizar transgressão. Quem aceita que letra é apologia tem de admitir que piada é misoginia e racismo, a lógica é a mesma.”
Poze: curso na música e histórico no transgressão
MC Poze do Rodo, oriundo da Favela do Rodo, na Zona Oeste do Rio, iniciou sua curso músico depois de envolvimento com o tráfico de drogas entre 2015 e 2016. Apesar de declarar ter deserto essa vida, suas músicas continuam a retratar e, por vezes, glorificar a verdade do transgressão nas comunidades. Com mais de 5 milhões de ouvintes mensais no Spotify, o artista alcançou notoriedade, mas também críticas por perpetuar uma cultura que romantiza o tráfico e a violência.
Leia mais: “Concentração de poder e repreensão”, cláusula de Ubiratan Jorge Iorio publicado na Edição 272 da Revista Oeste
O Comando Vermelho, fundado na dez de 1970, é uma das facções criminosas mais antigas e influentes do Brasil, com potente atuação no tráfico de drogas, sequestros e outras atividades ilícitas. A organização tem influência na comunidade em que Poze cresceu.
https://revistaoeste.com/brasil/a-musica-e-o-crime-organizado//Natividade/Créditos -> REVISTA OESTE