Ao formalizar nesta semana a denúncia contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por suposto golpe de Estado, a Procuradoria-Universal da República (PGR) deixou de fora algumas falas do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, que indicam um simples contraste com a arguição feita contra o líder conservador.
Desde que firmou o combinação de delação, em setembro de 2023, Mauro Cid teve muitas idas e vindas em suas declarações. Ele chegou a relatar a interlocutores, inclusive, que teria sido pressionado a relatar episódios que não aconteceram. Durante as investigações, ele chegou mudar sua versão posteriormente ser ameaçado de prisão pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federalista.
PUNHAL VERDE E AMARELO
Entre os pontos controversos da fala de Cid, que não são sequer citados pela Procuradoria-Universal da República na denúncia, estão o veste de que Bolsonaro teria tomado conhecimento do projecto Punhal Verdejante e Amarelo, que incluiria a morte do ministro Alexandre de Moraes e da placa presidencial eleita, Lula (PT) e Geraldo Alckmin (PSB).
Publicidade
Enquanto a PGR diz que Bolsonaro sabia do projecto e o autorizou, Mauro Cid disse não saber se Bolsonaro sequer tomou conhecimento do documento de elaboração da teoria. A enunciação do ex-ajudante de ordens do líder conservador, porém, foi ignorada na denúncia.
– Eu não tenho ciência se o presidente sabia ou não do projecto que foi tratado, do Punhal Verdejante Amarelo, e se o general Mário [Fernandes] levou esse projecto para ele ter ciência ou não – disse Cid, em prova oferecido à PF em dezembro.
Para justificar a arguição, a PGR citou uma troca de mensagens entre Cid e o general Mário Fernandes, na qual Fernandes fala de uma conversa com Bolsonaro, que teria dito que “qualquer ação” poderia ocorrer até 31 de dezembro. O órgão, porém, não trouxe o contraditório do ex-ajudante de ordens presidencial.
MONITORAMENTO DE MORAES
Outro ponto polêmico postergado pela PGR é sobre o monitoramento do ministro Alexandre de Moraes. Na denúncia, o órgão destaca que a delação de Cid aponta que Moraes teria sido monitorado duas vezes, uma a pedido de militares que fariam segmento do grupo operacional do Punhal Verdejante Amarelo e outra a pedido de Bolsonaro.
O que o documento da PGR não cita, porém, é que, na versão de Mauro Cid, Bolsonaro pediu o monitoramento não no contexto da operação de assassínio, mas porque estaria irritado por ter recebido a informação de que Moraes estaria se encontrando com o seu vice, o hoje senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS).
“BATE-PAPO DE BAR”
A PGR também incluiu na denúncia uma referência a uma reunião de militares em Brasília, no dia 28 de novembro de 2022, que supostamente trataria da elaboração de uma missiva interna que teria o objetivo de pressionar o comandante do Tropa, Marco Antônio Freire Gomes, a aderir o suposto golpe.
A PGR, porém, não incluiu a versão de Cid na qual o ex-ajudante de ordens diz que, no encontro, não se discutiu nenhuma medida específica no sentido do suposto projecto, mas se resumiu a um “bate-papo de bar” de militares que estavam inconformados com a roteiro eleitoral.
– Naquele momento ninguém botou um projecto de ação, é esse ponto que eu quero deixar simples, ninguém chegou com um projecto e botou um projecto na mesa e falou assim: “Não, nós vamos prender o Lula, nós vamos matar, nós vamos espionar” – disse Cid, em prova à PF em 19 de novembro.
PARTICIPAÇÃO DE BOLSONARO NO 8 DE JANEIRO DE 2023
Na denúncia, a PGR ainda destacou mensagens de Cid que indicariam que alguma movimentação relativa ao suposto projecto de golpe de Estado poderia ocorrer mesmo posteriormente a posse de Lula.
Entretanto, o órgão omitiu as afirmações do tenente-coronel que, na delação, disse que as mensagens em questão não tinham o sentido interpretado pela PF e que Bolsonaro não planejou os atos de 8 de janeiro de 2023.
Manancial/Créditos: Pleno News
Créditos (Imagem de cobertura): Foto: Alan Santos/Presidência da República
https://www.aliadosbrasiloficial.com.br/noticia/pgr-escondeu-falas-de-mauro-cid-que-divergem-de-denuncia/Manancial/Créditos -> Aliados Brasil Solene