Dados do governo americano apontam que a Dependência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid) repassou ao menos 44,76 milhões de dólares (R$ 267 milhões, na cotação da quadra da posse de Donald Trump) a ONGs, instituições e projetos no Brasil entre 2023 e 2024. O número, porém, pode ser ainda maior, já que os dados do ano pretérito são parciais.
Segundo informações que constam no site Foreign Assistance (Ajuda Externa, na tradução literal), portal que reúne dados sobre repasses do governo dos EUA para instituições em outros países, os norte-americanos enviaram 20 milhões de dólares (R$ 119,2 milhões) ao Brasil ao longo de 2023, e 24,76 milhões de dólares (R$ 147,8 milhões) no ano pretérito.
Em 2023, o governo americano citou que 44 projetos no Brasil foram contemplados com os repasses da Usaid, que se concentraram principalmente nas áreas de desenvolvimento econômico (R$ 86 milhões), programas de esteio (R$ 20,5 milhões) e assistência humanitária (R$ 12,6 milhões).
Já em 2024, a gestão federalista dos EUA indicou que 43 projetos receberam repasses da dependência, novamente voltados para o desenvolvimento econômico (R$ 87,8 milhões), assistência humanitária (R$ 28,4 milhões) e programas de esteio (R$ 13,5 milhões). No entanto, os envios para iniciativas na extensão de saúde (R$ 17,9 milhões) também tiveram destaque.
Nas últimas semanas, a Usaid tem ficado no meio de uma polêmica relacionado ao uso de verbas do tributário americano para o financiamento de iniciativas e projetos de cunho progressista ao volta do mundo. Por motivo disso, o presidente Donald Trump suspendeu as atividades da dependência e concedeu licenças administrativas aos funcionários.
AGENDAS COM O TSE
No Brasil, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) participou de ao menos dois eventos realizados em 2021 em parceria com Usaid, segundo informações que constam em reportagens publicadas no próprio site da Galanteio. O caso gerou bastante polêmica e foi negado nas redes sociais.
O primeiro evento, que ocorreu em abril daquele ano, foi o lançamento do chamado Guia de Combate à Desinformação, elaborado pelo Consórcio para Eleições e Fortalecimento do Processo Político (CEPPS), que era supervisionado pela Usaid. Na ocasião, o TSE disse ter participado do estudo “uma vez que exemplo de trabalho a ser replicado em outros países”.
Em publicação feita no site da Galanteio em 11 de maio de 2021, e atualizada em 11 de agosto de 2022, o Tribunal declarou que, “tendo em vista o duelo que a desinformação representa à democracia no mundo todo”, estava criando ferramentas e promovendo iniciativas para que as eleições fossem “cada vez mais legítimas, transparentes e seguras”.
Já em dezembro de 2021, o segundo evento com a participação de TSE e Usaid foi um encontro virtual internacional chamado de “Eleições e a transformação do dedo”, que teve a participação do ministro Luís Roberto Barroso. Em seu site, a Galanteio fez questão de ressaltar que o evento tinha sido promovido pelo CEPPS e pela Usaid, e que tratava sobre “ameaças digitais”.
– O presidente do TSE e representantes de organizações que fomentam ações de fortalecimento da democracia global discutiram sobre uma vez que autoridades e a sociedade organizada podem combater as ameaças digitais e ajudar a prometer que a tecnologia funcione para promover a integridade das eleições e dos processos políticos ao volta do mundo – descreveu a Galanteio.
Durante o evento, Barroso chamou a atenção das plataformas de redes sociais e disse que elas “deviam se unir às autoridades eleitorais para proteger a integridade do processo eleitoral brasiliano”.
– Se elas continuassem inertes a esse incremento da disseminação de fake news, poderiam ter sua imagem associada à ruína da democracia – alegou o portanto presidente da Galanteio.
REPASSES POLÊMICOS
Em uma nota publicada pela Lar Branca na última segunda-feira (3), o governo americano detalhou alguns projetos polêmicos que teriam sido financiados pela Usaid, uma vez que, repasses para a EcoHealth Alliance, entidade que esteve envolvida em uma pesquisa no Instituto de Virologia de Wuhan, na China, sobre o coronavírus em morcegos.
Aliás, o governo dos Estados Unidos também elencou inúmeros repasses da Usaid para produções culturais de cunho progressista sobre flutuação, transgêneros e questões relacionadas ao “ativismo LGBT” ao volta do mundo.
Entre elas estão:
– 1,5 milhões de dólares (R$ 8,68 milhões) para “promover a flutuação, a justiça e a inclusão nos locais de trabalho e nas comunidades empresariais da Sérvia”;
– 70 milénio dólares (R$ 405 milénio) para produção de um “músico sobre flutuação, a justiça e a inclusão na Irlanda”;
– 47 milénio dólares (R$ 272 milénio) para uma “ópera transgênero” na Colômbia;
– 32 milénio dólares (R$ 185 milénio) para uma “história em quadrinhos transgênero” no Peru;
– 2 milhões de dólares (R$ 11,58 milhões) para mudanças de sexo e “ativismo LGBT” na Guatemala.
A lista ainda tem outros itens uma vez que “centenas de milhares de refeições que foram para combatentes afiliados à Al Qaeda na Síria” e também “centenas de milhões de dólares para financiar ‘canais de rega, equipamentos agrícolas’ e até fertilizantes usados para estribar o cultivo sem precedentes de papoula e a produção de heroína no Afeganistão”.
Em nota à prensa, o governo Trump ressaltou que a dependência “não tem prestado contas aos contribuintes, pois canaliza enormes somas de quantia para os ridículos — e, em muitos casos, maliciosos — projetos de estimação de burocratas entrincheirados, com quase nenhuma supervisão”.
A Lar Branca completou o enviado dizendo que, no entanto, “o desperdício, a fraude e o desfeita acabam agora”.
TRUMP PÕE TODOS OS FUNCIONÁRIOS EM LICENÇA
Ao voltar ao ar na última quarta (5) depois de permanecer indisponível por três dias, o site da Usaid passou a apresentar uma mensagem informando sobre a decisão do presidente Donald Trump de colocar todos os funcionários em licença administrativa, exceto equipes responsáveis por missões críticas, liderança médio e programas especiais.
A página também informou que o Departamento de Estado está preparando um projecto para trazer de volta aos EUA os funcionários da Usaid que estão em missão em outros países. Segundo a mensagem, o governo providenciará e pagará pelas viagens. O retorno deve se dar no prazo de 30 dias e os contratos não essenciais serão rescindidos.
USAID E BOLSONARO
Michael Benz, ex-chefe da partilha de informática do Departamento de Estado dos Estados Unidos, fez uma enunciação na última segunda que gerou grande repercussão no Brasil. Ao podcast War Room, de Steve Bannon, ex-assessor do presidente Donald Trump, Benz afirmou que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ainda estaria no missão se a Usaid não existisse.
– Se a Usaid não existisse, Bolsonaro ainda seria presidente do Brasil, e o Brasil ainda teria uma internet livre e oportunidade – disse Benz.
🚨“Se a USAID não existisse, @jairbolsonaro ainda seria o presidente do Brasil e o Brasil ainda teria uma internet livre e oportunidade.”
Foi que afirmou o norte-americano @MikeBenzCyber , que foi patrão da partilha de informática do Departamento de Estado durante o primeiro governo… pic.twitter.com/phLoRgwMkR— Flavio Bolsonaro (@FlavioBolsonaro) February 4, 2025
De convénio com Benz, a entidade gastou “dezenas de milhões de dólares do tributário americano financiando a pressão para que projetos de lei contra a desinformação fossem aprovados” no Parlamento brasiliano, e também bancou advogados que teriam feito pressão no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) – que Benz chamou de “tribunal da exprobação” – para reprimir tuítes de Bolsonaro.
– Eles [Usaid] construíram um polvo de exprobação no Brasil e ele foi construído inteiramente com a Usaid, por que a Usaid declarou Bolsonaro um Trump populista, um Trump dos trópicos, e em seguida montou essa operação para controlar o ecossistema de informações no país – completou.
Depois a enunciação de Benz, o deputado federalista Eduardo Bolsonaro (PL-SP) disse ser “fundamental que o Congresso Vernáculo e demais instituições competentes investiguem o financiamento e a atuação dessas organizações em território brasiliano”.
– Transparência e soberania não podem ser negociadas. Aliás, é necessário que o Itamaraty e os órgãos de lucidez avaliem os riscos dessa interferência para a segurança institucional e política do Brasil – apontou.