Na estrada de Jadson Franklin, de 21 anos, a paisagem reveste-se de sol a pino, asfalto quente e barulhos que atravessam a janela e a memória. Ele segue o caminho com pressa no olhar e livros nas mãos. No trajectória de quase 100 quilômetros da cidade em que vive, na agrestina Bom Jardim (PE) para a litorânea Recife, o estudante de Letras da Universidade de Pernambuco (UPE) tem compromisso que o soergue e o emociona a cada sábado. Ele se transforma em professor voluntário em um curso pré-vestibular gratuito no bairro do Ibura, na periferia da capital pernambucana.
Percorrer a estrada para uma ação de solidariedade consiste, para ele, em um tirocínio de gratidão e esperança. A cada dia de lição, chegam a ele sentimentos que não podem ser traduzidos com exatidão pela Gramática, a disciplina que ele ensina para mais de 100 jovens que vivem em vulnerabilidade no bairro em que moram mais de 50 milénio pessoas. O Pré-Vestibura, criado pela própria comunidade, é um exemplo de projeto social nascido para enfrentar limitações.
Todos os sábados, no projeto, sobram agradecimentos por secção dos alunos (antes, durante e depois das aulas), inclusive neste dia 11, Dia Internacional do Obrigado. Nessa estrada, as “recompensas” em forma de abraços e “obrigados” surgiram para além do que imaginava quando foi convidado para ser professor por uma amiga do curso.
Os primeiros das famílias
Inscrevem-se estudantes que não têm moeda para remunerar ensino privado, mas sonham, em universal, em serem os primeiros de suas famílias a chegarem ao ensino superior. Uma vez que foi o caso do próprio Jadson, com pai, pedreiro, e a mãe, doméstica.
Foi essa família “extremamente humilde”, uma vez que ele define, e também os mestres que conheceu no caminho que o impulsionaram a passar a estrada do conhecimento. O caminho faz lembrar versos do conterrâneo João Cabral de Melo Net (1920 – 1999) na verso “Duas Águas”. “Lado a lado com gente/no meu andejar sem rumor/Não é estrada curta/mas é a estrada melhor/porque na companhia de gente é que sempre vou”.
“Eu costumo manifestar que eu sou fruto da ensino da minha família e da boa vontade de muitos professores que passaram por minha vida”. Ele, que sempre estudou em rede pública, pensava que os professores poderiam chegar em sala de lição e se restringir em transmitir os conteúdos.
“Mas muitos iam além. Chegavam a mim e me encorajavam. Hoje, do lugar que estou, posso fazer um pouco do que fizeram por mim, uma vez que se fosse uma reparação”. Ele passou a enxergar na estrada de outros estudantes os mesmos solavancos que enfrentou para chegar ao ensino superior. Desconfianças, preconceitos, tempo escasso para estudar atravessado pela premência de ocupação, ainda que precário… Hoje, para se manter, participa de projetos acadêmicos que rendem bolsas para pesquisa.
Espaço público
O curso pré-vestibular funciona atualmente numa estrutura municipal, o auditório do Núcleo Comunitário da Sossego (Compaz) no Ibura, cedida para o projeto, que nasceu no ano de 2020. A teoria foi criada a partir de conversas de amigos sensíveis às dificuldades da comunidade. Em 2025, estão abertas 130 vagas (que é o número de cadeiras disponíveis no auditório utilizado).
Um dos criadores da iniciativa, o universitário Wilber Mateus, estudante e professor de História, de 26 anos de idade, tem a expectativa de que mais de milénio pessoas se inscrevam. Para selecionar, a equipe leva em conta informações dos candidatos que demonstram comprometimento com as aulas. Um princípio do projeto, segundo ele, é que o trabalho coletivo pode ser um firmamento de transformação. Ele próprio também tem um caminho de correrias. Precisa lastrar o tempo entre o curso universitário e o dia a dia de quem trabalha de “faz-tudo” numa pizzaria do bairro. Criado pela mãe garçonete e pela avó, doméstica, Wilber sabe que cada segundo de esforço precisa ser valorizado. “Eu trabalho para conseguir uma segurança melhor”. Ele sabe que essa é uma verdade da maioria dos estudantes: buscar não desistir dos estudos por pretexto da trouxa elevada de trabalho para remunerar as contas.
A idealizadora do projeto foi a universitária de ciências sociais Barbara Kananda, hoje com 25 anos, nascida e criada na mesma comunidade. “Acabei me enxergando numa verdade em que a maioria de nós, jovens de periferia, precisa trespassar do nosso bairro para o meio para poder estudar em um cursinho”. Foi ela que fez a organização das aulas e buscou espaço para que tudo acontecesse. “Hoje eu faço secção da governo e busco ações e parcerias para o projeto (o que inclui tentar recursos para remunerar o ônibus de professores voluntários ou palestras para tratar de saúde)”.
“Eu trago para os meus alunos a conscientização de que não é sobre a discriminação do envolvente, onde os sujeitos estão, que vai definir o que eles podem ou não ser, mas é a possibilidade do chegada à ensino que vai diferenciá-los enquanto sujeitos que têm ou não a consciência desse recta”.
Professor Thiago Santos, da Universidade Federalista de Pernambuco (UFPE)
Além do teor
O Pré-Vestibura tem uma vez que foco a preparação para o Examinação Pátrio do Ensino Médio (Enem), mas, de convénio com o que pensa Wilber, Bárbara e os professores envolvidos no projeto, a principal intenção é ampliar a visão de mundo. “Lá trabalhamos para prometer esperança a esses jovens. Escolas ultrapassadas acabam matando o sonho dos alunos. No cursinho, trabalhamos com outra dinâmica”.
Ele, inclusive, gosta de se fantasiar de personagens para fazer atividades lúdicas sobre história. Um suporte vocacional ocorrerá na semana que vem, dia 13, quando os resultados do Enem serão publicados e os alunos deverão explorar se as suas notas são compatíveis com as faculdades e cursos que desejam.
Mais do que esse tipo de suporte, há uma atenção social e psicológica, com palestras e oficinas que ajudam a valorizar os direitos humanos, com pautas sobre combate ao racismo e à homofobia, sobre premência de cuidados com a saúde mental e discussões sobre prevenção a vícios. Falar de si mesmo é uma lição das quais teor não cai no Enem, mas pode mudar as respostas sobre cada um.
O professor de sociologia Claudio Valente, que também faz secção da equipe de coordenação do projeto, valoriza o indumento que, além dos cuidados programáticos, o cursinho trate sobre as realidades de vulnerabilidade do bairro e os processos de desenvolvimento e emancipação da comunidade.
“Eu sempre fui uma pessoa muito sátira da verdade que eu vivia”, afirma. Na faculdade, recorda que ouviu da professora que não seria provável mudar o mundo. “Uma ficha caiu pra mim. Eu não poderia mudar o mundo, mas pelo menos o meu bairro eu poderia tentar”.
Ele, que foi criado por mãe solo, valorizava o que ela fazia, trabalhando uma vez que lojista em shopping e tendo pouco tempo para sota. Durante o ensino médio, Claudio, para ajudar nas contas de mansão, fazia bicos uma vez que pintor. Mas, enquanto andava pela cidade, ficava incomodado com o transporte demorado, o esgoto a firmamento crédulo, ver amigos sendo presos e até assassinado. “Conversar sobre a verdade é fundamental para a formação intelectual e humana”, afirma. Valente se orgulha de professores atuais já terem sido alunos do cursinho.
“Olhos brilhando”
Um dos novos professores que já foi aluno do projeto é o atual universitário em engenharia da computação Thayso Guedes, de 20 anos. No cursinho, ele dá lição de matemática, uma das disciplinas mais temidas pelos vestibulares. Principalmente, segundo ele, por quem deseja seguir as carreiras de humanas e da saúde. “Acho dissemelhante quando me chamam de professor e até de senhor, depois da lição e no meio da rua na comunidade, me pedindo ajuda com questões. Eles me agradecem. Eu fico surpreso e feliz”.
Ele estudou no cursinho em 2022 e ouviu dos professores e dos colegas de sala que poderia ter vocação para explicar o que ninguém entendia. “Eu mesmo amei o pré-vestibular porque era tudo muito interdisciplinar”, recorda. Sentiu a responsabilidade quando o professor Kleber Germano pediu que ele ajudasse os colegas nas correções dos exercícios. “Disseram de risota que eu iria ser o professor do ano seguinte. Eu levei a sério e me inscrevi uma vez que professor voluntário”, sorri.
Kleber se empolgou com o pupilo. “É muito gratificante trabalhar ao lado desse rapaz com potencial grandioso”. Hoje, o ex e o novo professor dividem as aulas de matemática do cursinho. As aulas da disciplina são nos primeiros horários. Por isso, Thayso acorda antes das 7h, pega um ônibus e gosta de chegar antes de todos para deixar tudo pronto. Durante a semana, ele também estagia para conseguir recursos para manter o dia a dia e a vida de voluntário. O padrasto é autônomo e a mãe, doméstica. Ele não vê a hora de se formar, conseguir um trabalho remunerado, mas não pretende deixar a vida de doação aos sábados.
Também ex-aluna do pré-vestibular, Maysa Ribeiro, de 20 anos, universitária de enfermagem, foi convidada para ensinar Biologia uma vez que voluntária durante a pandemia, em 2020, e no ano seguinte. Uma vez que já estagia em unidade de saúde, ela procura organizar o horário com o objetivo de manter o sábado disponível para realizar a atividade que a encanta. “Eu paladar de ver os olhinhos dos alunos brilhando pra mim depois que entenderam o tema que eu expliquei. A primeira vez que eu recebi um louvor, eu falei que nunca mais iria querer trespassar daquele lugar”.
Histórica desigualdade
Pesquisador da dimensão de ensino, o professor Thiago Santos, da Universidade Federalista de Pernambuco (UFPE), contextualiza que a situação de comunidades, uma vez que a do Ibura, pode simbolizar as desigualdades que ocorrem no país, marcado por uma lógica historicamente racista, com pessoas colocadas à margem e empurradas para condições precárias de sobrevivência, incluindo a falta de chegada à ensino.
Isso explicaria o indumento de a comunidade ter que buscar se organizar por si própria. Outrossim, as pessoas seriam levadas a não entender que têm direitos garantidos também vítimas de uma lógica da pobreza e escassez de serviços. “O Estado deve surgir uma vez que entidade potente para a superação de um quadro de desigualdade (…). É a consciência da possibilidade do chegada ao recta que faz com que os sujeitos queiram ter o recta”, diz o pesquisador, que é preto, nascido e criado em favelas de Peixinhos, na cidade de Olinda (PE), e Frei Damião, em Abreu e Lima (PE).
“Por meio da ensino, eu tive a possibilidade de perceber que a minha vida poderia mudar e, consequentemente a vida dos sujeitos que moravam na mesma favela onde eu cresci. Majoritariamente, quando eu falava que morava na favela, as pessoas tinham temor de chegar perto de mim”, exemplifica o pesquisador. Apesar dos preconceitos que vivenciou no caminho, ele diz que foi na favela que aprendeu a respeitar as pessoas e a “ser gente”.
“Eu trago para os meus alunos a conscientização de que não é sobre a discriminação do envolvente, onde os sujeitos estão, que vai definir o que eles podem ou não ser, mas é a possibilidade do chegada à ensino que vai diferenciá-los enquanto sujeitos que têm ou não a consciência desse recta”. Por isso, ele considera que propor pré-vestibulares gratuitos em comunidades é também uma utensílio para a superação das desigualdades.