“A chave significa tudo. Porque desde os meus 13 anos, eu luto pela moradia. Eu tive moradia, morei em ocupações sendo despejada, sofrendo com reintegração de posse. Portanto, a moradia própria eu vou ter agora. E é um imenso prazer, uma alegria que não tem termo”, afirma, emocionada, Janaina Silva de Oliveira, 44 anos.
Mãe solo de três filhos e avó de quatro netos, a moradora do Sarandi, bairro de Porto Contente mais afetado pelas enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul em maio deste ano, ela foi uma das famílias a receber a chave das mãos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na manhã desta sexta-feira (16).
Essa é a quinta visitante do presidente ao RS desde a enchente histórica. Lula entregou 253 moradias do programa Minha Moradia, Minha Vida Entidades a famílias de Porto Contente, muitas afetadas pelo sinistro climatológico.
As unidades habitacionais fazem segmento de quatro empreendimentos: Morada da Fé, Dois Irmãos, Viver COOHAGIG e Orquídea Libertária, que totalizam 1.290 moradias ainda em construção. Durante o evento, também foram assinados acordos com o Ministério Público Federalista (MPF) para antecipar a desenlace das residências. O investimento suplementar é de R$ 11,8 milhões e a previsão de entrega é até o termo deste ano.
No evento também foi assinada a autorização para início das obras de dois novos empreendimentos, com totalidade de 360 residências, na capital do estado e na cidade de Dom Pedrito. E também ficou autorizada a contratação de mais de 1.052 moradias do programa Minha Moradia, Minha Vida nas cidades de São Leopoldo, Taquara, Santa Cruz do Sul, Porto Contente e Canoas, com investimento totalidade de R$ 186 milhões do Fundo de Arrendamento Residencial (FAR).
No totalidade, há 3.951 unidades contratadas pela MCMV Entidades no Rio Grande do Sul, às quais o estado destinou R$ 19,7 milhões, por meio do programa Continuar nas Obras e Habitação. Em julho do ano pretérito, o governador e o presidente já haviam entregado 446 unidades desse grupo, no Empreendimento Viver Coometal, em Viamão.
“É uma glória mesmo, uma felicidade”
O parelha Gracie Franco da Silva e Luiz Pinho, casados há 14 anos, chegaram muito cedo ao empreendimento Morada da Fé, no bairro Lombada do Pinho, onde foi realizada a entrega das residências. Acompanhados de um dos seus dois filhos, o parelha também recebeu a chave de sua moradia das mãos do presidente.
Moradores da cidade de Alvorada há três anos, o parelha vivia em uma moradia alugada quando foram atingidos pela enchente, perdendo praticamente todos os seus pertences. Gracie conta que conseguiram salvar a geladeira, pois o marido a levou nas costas. “A gente acordou com a chuva já batendo na leito. Foi aquela correria pra tirar o que a gente poderia tirar. Agora a gente vai inaugurar a trabalhar pra comprar as coisas e vem vindo, trazendo para cá, para gente poder vir também”, conta a atendente de farmácia.
Emocionado, Luiz afirma ser um sonho que está sendo concretizado. “É um sonho, um sonho que estamos realizando. É a esperança que a gente tinha de um dia chegar a essa conquista. Nós somos há 14 anos sócios da cooperativa Morada da Fé, e sempre participando, porque essa hora ia chegar.”
Mãe solo de cinco filhos, e atualmente aposentada por conta da hemodiálise, Tamires Vargas vivia de aluguel no bairro Ponta Grossa, até ser atingida pela enchente. “É uma sensação sem explicação. É muita alegria”, disse ao receber as chaves. A novidade moradia de Tamires fica no bairro Campo Novo, zona Sul de Porto Contente. Com 33 anos, ela vivia desde os 12 morando de aluguel.
Integrante do movimento União Vernáculo por Moradia Popular, Janaina vai morar junto com o fruto Daniel, em Gravataí, no empreendimento da Viver COOHAGIG. “A gente ocupou um prédio há oito meses ali na Júlio de Castilhos e estamos lutando com muita resistência. Estamos abrigando também famílias que foram atingidas e não puderam voltar para suas casas também. Temos pessoas de diversos lugares”, pontua.
Janaina chegou a ir até a sua moradia no Sarandi, mas relata que não há mais condições de se habitar. Ela foi informada que receberia a moradia nesta quinta-feira (15). “Não acreditei e não estou acreditando até agora.”
Diretor de Planejamento e Orçamento Participativo da Secretaria-Universal da Presidência da República, Ubiratan de Souza, ressaltou ao Brasil de Veste, que o Minha Moradia Minha Vida Entidade é um programa exitoso, e é coordenado e construído coletivamente pelas cooperativas.
“É um momento muito simbólico, que representa o compromisso do presidente Lula e do seu governo com a reconstrução do Rio Grande e com o espeque do povo brasiliano ao povo gaúcho, de maneira solidária. É uma conquista da habitação. Ainda mais nas circunstâncias da crise climática que o Rio Grande foi atingido”, ressaltou.
Marco Zero
Bastante emocionado, o diretor de Habitação do Ministério Imprevisto para Esteio à Reconstrução do Rio Grande do Sul, Carlos Roberto Comassetto, disse ser um prazer iniciar a entrega das casas com a calamidade para os alagados. Ele explicou que em 2021 as obras das unidades habitacionais pararam no governo Bolsonaro, mesmo estando 90% construídas. “Ficamos com 300 operários sem ter moeda para remunerar, a turma da engenharia que ajudou a coordenar isso também. Essa luta nós achamos que não íamos mais resgatá-la.”
De contrato com Comassetto, nos quatro empreendimentos há em torno de 400 famílias que entraram na calamidade. A Morada da Fé tem 480 unidades. “Cá serão quatro torres hoje, 176 apartamentos, que as pessoas já entram para dentro”, ressaltou.
Segundo o diretor, o Ministério da Reconstrução está trabalhando com os municípios, para que eles aprontem os planos de trabalho. “Sem projecto de trabalho, as famílias não entram na lista para lucrar moradia”, pontua.
Engenheiro responsável pelo empreendimento Morada da Fé, Pedro Jaime Castilho conta que a construção do projeto começou em 2018 e parou em 2021, por conta da pandemia. “E o outro governo, que não era em prol, cortou toda essa segmento de moradia social. A gente teve questão no tempo de invasão, roubo de fiação. Na retomada da obra, tivemos muitos processos, mas agora estamos entregando as quatro primeiras torres, que vão beneficiar 176 famílias, e na sequência nós vamos entregar as outras.”
Na retomada que houve esse ano, o empreendimento está em temporada de retoque. O engenheiro explica que as famílias poderão se mudar já a partir da próxima segunda-feira (19). “O planejado era que as onze torres fossem entregues em dezembro. Em decorrência da enchente a gente fez todo um trabalho para conseguir antecipar as entregas, portanto a gente vai entregar por etapas. As quatro primeiras torres hoje, depois mais duas, mais duas, até totalizar as onze.”
Formado pelo Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies), Pedro, ao falar da alegria de entregar as unidades, conta que é o primeiro engenheiro da família. “Isso tem um ponto a mais para estar entregando as casas para as pessoas, para ter uma moradia digna, ter uma moradia com segurança, e a gente está muito hipotecado para entregar as 480 unidades.”
Lula criticou gritos de Fora Leite
Antes do primícias da cerimônia o governador Eduardo Leite recebeu críticas do público que gritavam Fora Leite. “Sou o presidente da República, e o governador é um convidado nosso. E não é correto em um ato institucional que as nossas divergências políticas apareçam”, afirmou o presidente.
Ao fazer a sua mediação o governador pontuou que apesar de visões e ideologias diferentes, o governo sempre terá o reverência institucional a um governo eleito, “a sua liderança porquê Presidente da República, a sua equipe”.
Conforme pontuou Leite, os empreendimentos andavam vagarosamente, quase parando no final do governo pretérito por falta de recursos. “Foi apresentado ao governo do estado uma proposta para que a gente ajudasse complementando esses recursos, e colocamos murado R$ 20 milhões em diversos empreendimentos, entre eles leste cá da cooperativa Morada da Fé. Está cá um belo exemplo de que a gente pode divergir e se enfrentar politicamente, mas no que interessa à política pública para a população, a gente tem o obrigação de sentar, conversar e edificar soluções. O programa é federalista, mas teve complementação do governo estadual. Juntos, as casas estão sendo entregues.”
O governador também lembrou que logo em seguida o estado superar a pandemia, o RS passou pela maior seca da história. “Foi a maior perda de safra que a gente já viu, com animais morrendo por falta de chuva nesse estado.” Seguida depois das enchentes do ano pretérito e da maior enchente da história, em maio deste ano.
“A frequente insatisfação manifestada com o volume de espeque efetivamente entregue ao estado zero mais é do que o obrigação de quem foi eleito para simbolizar os interesses de todos os gaúchos. Reconhecemos os esforços realizados, mas seguiremos demandando os ajustes necessários para dar velocidade e desburocratizar a chegada dos recursos na ponta para as famílias e os empreendedores”, afirmou o governador.
Sobre a lentidão na liberação de recursos, Lula afirmou ter conversado sobre o ponto nesta semana com representantes da Caixa Econômica, do Banco do Brasil e do Banco Vernáculo de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). “Por que lentidão o moeda? Sabe por quê? Ninguém pode emprestar o moeda sem saber a situação de quem está pegando o moeda. Portanto, a gente precisa ter transparência disso.”
Em sua revelação, o presidente reafirmou que todas as pessoas que perderam casas terão novas moradias. “Eu, se pudesse, já tinha feito todas as casas, mas não é logo que acontece. A gente não inventa moradia, a moradia precisa ter terreno, é preciso ter matrícula, é preciso provar que as pessoas têm recta à moradia. Porque os funcionários da Caixa Econômica, que querem fazer o seu trabalho correto… eles sabem que não podem cometer erro e tomar decisão precipitada.”
Em relação à seca no estado, ressaltou que o governo federalista deu atenção ao caso. “Eu só quero proferir a vocês que quando teve seca nesse estado, o governo federalista esteve cá com seis ministros, e duvido que qualquer governo deu a atenção que demos para combater a seca cá. Você (Leite) recebeu todos os ministros. Duvido que na história da República houve um governo que cuidou do Rio Grande do Sul porquê nós.”
No evento o presidente também assumiu compromisso com o sistema de proteção. “Quero assumir na frente de vocês e do governador do Rio Grande do Sul: o governo federalista vai tomar atitude de financiamento para que a gente possa cuidar dos diques que não tem, para que nunca mais Porto Contente e a grande Porto Contente sejam vítimas de uma enchente. É verdade que choveu muito, mas é verdade que a enxurrada que deu não foi por justificação da chuva, foi porque não tinha o desvelo das bombas que deveriam não permitir que a chuva transbordasse. E nós não estamos procurando culpado, o nosso papel é ajudar.”
Em sua fala também alfinetou sobre as queixas do agronegócio. “O agronegócio está reclamando do quê? Nunca antes na história do Brasil o agronegócio teve um Projecto Safra porquê no meu governo. Eu nunca pedi zero. Eles que falem o que quiser, eu ajudo porque a lavra é importante para esse país.”
Em seguida o evento de entrega de moradias, ainda hoje Lula participou da inauguração de uma novidade estrutura para tratamento de pacientes com cancro, no Hospital Nossa Senhora da Conceição, do Grupo Hospitalar Conceição, em Porto Contente. Na ocasião a ministra da Saúde, Nísia Trindade, anunciou o repasse de mais de R$ 300 milhões de investimentos para reconstrução de unidades de saúde do Rio Grande do Sul em seguida as enchentes históricas de maio. Na sequência a comitiva federalista seguiu para São Leopoldo, onde foi inaugurado um novo multíplice viário.
* Com informações da Sucursal Brasil e do governo do Estado
Nascente: BdF Rio Grande do Sul
Edição: Katia Marko
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