A queda da Ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira, que conectava os municípios de Estreito (MA) e Aguiarnópolis (TO), além dos impactos socioeconômicos, pode desencadear uma grave crise ambiental. No domingo (22), três caminhões carregados com agrotóxicos e ácido sulfúrico caíram no rio Tocantins, espalhando 25,2 milénio litros de pesticidas e 76 toneladas de ácido, segundo a Sucursal Pátrio de Águas (ANA). Entre os produtos derramados, estavam quase nove toneladas do herbicida 2,4-D, proibido na União Europeia devido à sua toxicidade.
Danilo Rheinheimer dos Santos, professor da Universidade Federalista de Santa Maria (UFSM) e referência na estudo de agrotóxicos em chuva, alerta que os impactos ambientais e à saúde são profundos e duradouros. “Essa conversa de que os agrotóxicos são facilmente biodegradáveis não é verdadeira. Eles têm subida permanência, mormente na chuva”, explica.
Segundo ele, mesmo que medições posteriores não constatem mais a presença dos produtos na chuva, não é verosímil prometer que o envolvente não estará contaminado. “Produtos porquê o 2,4-D e o picloram impregnam nas rochas e nos biofilmes epilíticos do fundo do rio, contaminando tudo por anos.”
“Os pesticidas não desaparecem simplesmente à medida que o rio segue seu curso. Eles se diluem, mas deixam um rastro. Mesmo 40 ou 50 quilômetros rio inferior, as moléculas podem estar presentes, contaminando a fauna aquática e os organismos bentônicos, porquê moluscos e peixes”, detalha Rheinheimer.
O professor reforça que a contaminação pode saber toda a enxovia fomentar, com riscos para a saúde humana. “Bactérias, algas e peixes que não morrerem agora ficarão contaminados, passando esse impacto para toda a enxovia trófica. Isso é um sinistro terrível,” conclui.
O peso do 2,4-D: um veneno de longo prazo
Entre os produtos químicos derramados no acidente, o 2,4-D labareda atenção por seus efeitos nocivos. Classificado porquê um “gatilho hormonal”, o herbicida é associado a casos de cancro e proibido na União Europeia.
“Com o efusão de quase 9 milénio quilos desse veneno, os efeitos não serão localizados ou temporários. Estamos falando de um pouco que vai se impregnar nos sedimentos e permanecer ativo por muitos anos, talvez décadas,” afirma Leonardo Melgarejo, engenheiro agrônomo e perito em impactos de agrotóxicos.
Melgarejo reforça que a desestruturação causada por esse tipo de contaminação não aparece de súbito. “Os problemas de saúde, porquê casos de cancro, podem surgir décadas depois, mas suas raízes estarão neste sinistro e na irresponsabilidade que permitiu a fabricação e o transporte desse veneno no Brasil,” denuncia.
Outro resultado transportado era o acetamiprid, inseticida da classe dos neonicotinóides. Ele é amplamente reconhecido por seu impacto devastador sobre abelhas e aves. Já o picloram, outro agrotóxico envolvido, será proibido na União Europeia a partir de 2028, devido à sua toxicidade persistente e riscos ambientais.
Detalhes da fardo derramada
Os pesticidas transportados nos caminhões incluíam:
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Carnadine (acetampirid): inseticida neonicotinóide, com 500 litros transportados, totalizando 100 kg de princípio ativo.
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Pique (picloram): herbicida, com 2.700 litros transportados, totalizando 1.048 kg de princípio ativo.
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Tractor (picloram): herbicida, com 22.080 litros transportados, totalizando 2.274 kg de princípio ativo.
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Tractor (2,4-D): herbicida hormonal, com 22.080 litros transportados, totalizando 8.964 kg de princípio ativo.
O totalidade transportado chegou a 12.386 kg de princípios ativos altamente tóxicos.
Medidas emergenciais e alertas à população
Por sobreaviso, o governo do Maranhão recomendou a suspensão da captação de chuva nos municípios banhados pelo rio Tocantins. As prefeituras de Estreito (MA) e Aguiarnópolis (TO) emitiram alertas para que a população evite contato com a chuva devido ao risco de queimaduras químicas e intoxicação.
A Sucursal Pátrio de Águas (ANA) iniciou coletas em cinco pontos do rio para monitorar os parâmetros de qualidade da chuva.
No entanto, segundo Heinheimer, as medidas emergenciais podem não ser suficientes. “Mesmo que o monitoramento aponte baixos níveis de contaminação agora, os resíduos estarão impregnados nos sedimentos, e os impactos continuarão a surgir ao longo do tempo,” alerta.
Queda de ponte entre Tocantins e Maranhão tem relação com impacto do agronegócio na região, diz pesquisadora
A tragédia evidenciou problemas estruturais históricos denunciados pela população lugar. Construída na dezena de 1960, a Ponte Juscelino Kubitschek está localizada na região do Matopiba, epicentro do prolongamento do agronegócio no Brasil. Nas últimas décadas, a produção de commodities porquê soja e milho transformou a paisagem da região e sobrecarregou a infraestrutura de transporte.
“O desabamento da ponte é um marcador de alerta de que precisamos de fiscalização e comprometimento com essas infraestruturas. Isso também está diretamente relacionado ao progressão voraz do agronegócio, que impulsiona o transporte pesado e agrava os impactos ambientais,” destaca Gilvânia Ferreira, doutoranda em Estudos Sociais Agrários.
Nos últimos dez anos, a produção de grãos no Matopiba aumentou 92%, de 18 milhões de toneladas na safra 2013/14 para 35 milhões atualmente. Os principais produtos são soja, milho e algodão. Um estudo do Ministério da Cultura e Pecuária (Planta) e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), mostra que a escalada vai continuar e pode chegar a 37% nos próximos 10 anos.
A professora ressalta que os danos não são somente econômicos, mas sociais e ambientais. “Essa ponte simboliza a devastação de territórios e modos de vida. O progressão da monocultura prejudica a produção familiar, contamina as águas e coloca em risco a saúde humana e dos animais,” explica.
Enquanto o Ministério Público e o Departamento Pátrio de Infraestrutura de Transportes apuram as causas do acidente, o Ministro dos Transportes, Renan Fruto, prometeu a reconstrução da ponte até 2025. Porém, especialistas e moradores alertam que, sem mudanças estruturais e no padrão de produção agrícola preponderante, tragédias porquê esta continuarão a ocorrer.
Edição: Geisa Marques