O general Walter Braga Netto, que foi ministro da Resguardo e Director da Moradia Social no governo de Jair Bolsonaro (PL), orientou ataques aos militares contrários ao projecto de um golpe de Estado para manter o ex-presidente no poder.
O relatório da Polícia Federalista (PF), dos quais sigilo foi retirado pelo ministro Alexandre de Moraes (STF), informa que Braga Netto determinou ao major reformado do Tropa Ailton Gonçalves Barros o direcionamento de ataques pessoais, incluindo familiares, ao logo comandante do Tropa, o general Freire Gomes, e ao comandante da Aviação, o tenente-brigadeiro Baptista Júnior.
Outro nome que foi escopo do pedido de Braga Netto foi Tomás Paiva, atual director do Tropa, que “também adotou uma posição institucional, opondo-se a qualquer ação ilícita das forças armadas”.
De convénio com o documento, tanto Freire Gomes quanto Baptista Júnior “rechaçaram qualquer adesão de suas respectivas forças ao intento golpista, reiterando que não concordariam com qualquer ato que impedisse a posse do governo eleito”.
“De forma concomitante, além das reuniões presenciais, os investigados continuavam a investir nos ataques pessoais contra os Comandantes Freire Gomes e Baptista Júnior, utilizando as “ferramentas” da Milícia Do dedo, disseminando em cimeira volume, por multicanais, de forma contínua e repetitiva informações falsas, passando a imagem ao meio militar e aos adeptos do ex-presidente Jair Bolsonaro, que os referidos Comandantes seriam “traidores da pátria” e alinhados ao “comunismo””, diz um trecho do relatório da PF.
Em determinado momento, Braga Netto chega a concordar em “oferecer a cabeça” de Freire Gomes durante mensagens trocadas com Ailton Barros. “Vamos oferecer a cabeça dele aos leões”, escreveu Barros. Em resposta, Braga Netto disse: “Oferece a cabeça dele. Cagão”. Em outro momento, diz sobre o comandante da Aviação: “Senta o pau no Batista Junior (…) traidor da pátria. Dai para frente. Inferniza a vida dele e da família”.
Se o golpe fosse consumado, seria criado um gabinete vinculado à Presidência da República, liderado pelos generais Braga Netto e Augusto Heleno.
Além de Bolsonaro, a PF indiciou o Braga Netto, que chefiava a Moradia Social na quadra da tentativa do golpe; o general da suplente Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI); Alexandre Ramagem, ex-diretor da Filial Brasileira de Perceptibilidade (Abin); e Valdemar Costa Neto, presidente do PL; e mais 32 nomes. Veja a lista completa.
O projecto dos investigados “detalhava os recursos humanos e bélicos necessários para o desencadeamento das ações, com uso de técnicas operacionais militares avançadas, além de ulterior instituição de um ‘Gabinete Institucional de Gestão de Crise’, a ser integrado pelos próprios investigados para o gerenciamento de conflitos institucionais originados em decorrência das ações”, detalha o documento.
Segundo o relatório, os fatos investigados configuram os crimes de supressão violenta do Estado Democrático de Recta, Golpe de Estado e organização criminosa.
Edição: Martina Medina