Uma audiência pública na Percentagem de Cultivação, Pecuária, Provimento e Desenvolvimento Rústico da Câmara dos Deputados, nesta segunda-feira (25), serviu de palco para os defensores do uso indiscriminado de agrotóxicos na produção agrícola brasileira. A sessão foi convocada pela deputada federalista Coronel Fernanda (PL-MT) e teve porquê tema os agrotóxicos à base do substância ativo tiametoxam, do tipo neonicotinoides, feitos a partir da nicotina, que são altamente nocivos a insetos polinizadores, porquê as abelhas. Alguns desses agentes químicos estão banidos na União Europeia.
“Essa audiência pública tem porquê objetivo aprofundar a discussão em torno da utilização dos defensivos agrícolas que contém neonicotinoides. Seu uso na cultura brasileira tem gerado divergência desde que o Ibama [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis] publicou, em fevereiro deste ano, um enviado determinando a restrição do seu ocupação nas lavouras, com base em uma reavaliação ambiental”, seguiu a deputada. “A decisão do instituto foi abrupta e não levou em consideração o impacto socioeconômico dessa restrição, e tampouco considerou as avaliações toxicológicas e de eficiência agronômica realizadas anteriormente por outros órgãos”, disse a deputada Coronel Fernanda, no prelúdios da audiência, dando o tom do debate.
Rosângela Muniz, diretora de qualidade ambiental do Ibama, esclareceu que o processo de reavaliação dos neonicotinoides foi iniciado em 2012, a partir de um poderoso alerta da comunidade científica internacional sobre os efeitos nocivos de seu uso ao meio envolvente. E que o enviado publicado em fevereiro de 2024 é exclusivamente o resultado de mais de uma dezena de estudos.
“Notícias de mortandade de abelhas no Brasil, comunicados divulgados pelo Pnuma [Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente], da ONU, em relação a isso. Logo isso foi o que motivou o início da reavaliação pelo Ibama em 2012. Cá a gente tem algumas notícias no Brasil, essa de 2012, quando a gente iniciou o processo de reavaliação: ‘Apicultores brasileiros encontram meio bilhão de abelhas mortas em três meses’, ‘15 milhões de abelhas mortas em um apiário de Uberlândia’, ‘Morte de meio bilhão de abelhas é consequência de agrotóxico’. Isso é um cláusula científico”. E seguiu: “Cá tem alguns artigos científicos de publicações internacionais de grande reputação porquê a própria Nature, falando não só de mortandade de abelhas, mas também do declínio do número de aves na biodiversidade associado ao aumento dos neonicotinoides especificamente”, disse a servidora, que ainda informou que o nível de toxicidade dessas substâncias chega a ser 800 vezes maior do que o parâmetro para a classificação mais subida existente.
Muniz, que foi diversas vezes interrompida pela deputada que presidia a sessão, afirmou que o processo de reavaliação dos produtos obedeceu a critérios técnicos e estudos científicos realizados ao longo de muitos anos.
Já a deputada Coronel Fernanda criticou as medidas de proteção ambiental e afirmou que na Europa não há porquê infligir leis ambientais “pois não há mais meio envolvente”. A parlamentar assumiu a posição defendida pelas empresas e questionou os estudos científicos apresentados pelo Ibama. “Com todo saudação ao Ibama. Eu fico estressada de ver a gente se preocupar mais com o meio envolvente, no sentido de animais, objetivamente, em vez de produzir ações para mitigar”, disse a deputada, que advogou ainda pela “desburocratização” da liberação dos agrotóxicos no Brasil.
Único representante do governo federalista convidado, José Victor Torres Alves Costa, coordenador-geral de agrotóxicos e afins do Ministério da Cultivação, Pecuária (Planta), criticou o enviado emitido pelo Ibama que, segundo ele, invadiu atribuições do Planta, de conciliação com a lei dos agrotóxicos. O servidor do governo chegou a mencionar supostos estudos nos quais se demonstra que os insumos alternativos aos neonicotinoides seriam mais prejudiciais ao ser humano. “É muito curioso e lastimável que a maioria dos substitutos do tiametoxam são produtos que afetam mais a saúde humana do que outros agentes. Já nos dados preliminares a gente já consegue observar isso. Isso é lastimável”, afirmou Costa.
Questionado pela representante do Ibama sobre tais estudos, o representante do governo recuou, afirmando que as informações haviam sido prestadas pelos ‘próprios produtores’. O representante do Planta defendeu o uso de agentes químicos na cultura brasileira, sob o argumento de que sua proibição poderia ter impacto econômico aos produtores e à economia. “É preocupação do Ministério [da Agricultura] também essa questão da apicultura, mas a cultura deve também ter seu intensidade de influência nesse processo”, reclamou.
Para a audiência, também foram convidados representantes da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja), do Sindicato Pátrio da Indústria de Produtos para Resguardo Vegetal (Sindiveg) e da CropLife Brasil, todos defensores do uso de agrotóxicos e críticos à decisão do Ibama.
Edição: Martina Medina