Um levantamento do Instituto Queima Cruzado mostra que pelo menos 156 pessoas foram baleadas no transporte público na região metropolitana do Rio de Janeiro nos últimos oito anos. Desse totalidade, 56 morreram e 100 ficaram feridas. Somente em 2024, foram 14 pessoas atingidas nessas condições.
“Esses números passam a mensagem de risco iminente para quem circula na região metropolitana do Rio de Janeiro. Presenciamos, dia em seguida dia, tiroteios em operações policiais e em disputas entre facções criminosas. E, a qualquer momento, esses tiros podem resultar em vítimas. Traz uma sensação de instabilidade contínua, porque, independentemente de onde você circula, se está saindo cedo ou tarde, pode ser níveo da violência armada. Isso por conta da dinâmica que a segurança opera no Rio. Uma lógica bélica, de confronto e disputa por territórios”, disse Carlos Nhanga, coordenador do Instituto Queima Cruzado no Rio de Janeiro.
O caso mais recente foi o do passageiro que estava em um ônibus na Traço Amarela, profundeza do bairro de Pilares, Zona Setentrião do Rio, durante operação policial na região no dia 30 de outubro. Também emblemático foi o caso da operação policial no chamado Multíplice de Israel, Zona Setentrião, que terminou com três pessoas mortas e duas feridas. Todas estavam em veículos que passavam por vias próximas ao lugar. Um dos mortos estava em um ônibus.
O estudo também indica que, das 156 vítimas nos últimos oito anos, 40 foram atingidas em meio a ações policiais: 12 morreram e 28 ficaram feridas.
“O impacto nas favelas já é motivo suficiente para questionar a efetividade dessas operações. Se você entra em um lugar onde moram e circulam milhares de pessoas para uma operação, você está assumindo o risco de colocar essas pessoas na risco de tiro. E o segundo ponto é que o troada repercute para além das favelas, porquê nas vias próximas. E são diversos serviços públicos que são afetados por essas operações”, disse Nhanga.
O Queima Cruzado mapeou os números de baleados dentro do transporte público desde 2016:
- 2016: 6 baleados no transporte público – 3 mortos e 3 feridos
- 2017: 27 baleados no transporte público – 7 mortos e 20 feridos
- 2018: 30 baleados no transporte público – 10 mortos e 20 feridos
- 2019: 21 baleados no transporte público – 6 mortos e 15 feridos
- 2020: 20 baleados no transporte público – 10 mortos e 10 feridos
- 2021: 21 baleados no transporte público – 8 mortos e 13 feridos
- 2022: 9 baleados no transporte público – 3 mortos e 6 feridos
- 2023: 8 baleados no transporte público – 6 mortos e 2 feridos
- 2024: 14 baleados no transporte público – 3 mortos e 11 feridos
Balas perdidas
O passageiro atingido na última quarta-feira (30) foi a 93ª vítima de projéctil perdida na Região Metropolitana do Rio em 2024. Ou seja, não necessariamente em transporte público, porquê apresentado nos números anteriores. No totalidade, 20 pessoas morreram e 73 ficaram feridas. Em 2023, neste mesmo período entre janeiro e 31 de outubro, foram 126 pessoas vítimas de balas perdidas: 41 morreram e 85 ficaram feridas.
“As pessoas que moram no Rio estão mais suscetíveis de serem vítimas de projéctil perdida no transporte, na rua, em morada, por conta dessa dinâmica do confronto. A Bahia, por exemplo, tem dinâmica parecida, mas não com tiroteios tão frequentes quanto no Rio. Cá, você tem tiroteios todos os dias em diversas comunidades, envolvendo a polícia ou não”, conclui Nhanga.