Ao menos 70 pessoas detidas nos protestos que eclodiram em seguida as eleições na Venezuela foram libertadas neste sábado 16, depois do pregão das autoridades de que 225 casos estão sendo revisados, informaram duas ONGs, que esperam mais libertações.
“Até agora, pelo menos 70 presos políticos foram libertados”, indicou o diretor da ONG Renda Penal, Alfredo Romero, nas redes sociais.
As libertações estão ocorrendo em quatro prisões no núcleo do país: Las Crisálidas e Yare III (estado de Miranda), em Tocorón (Aragua) e Tocuyito (Carabobo), disse Romero.
Murado de 50 “jovens adultos” detidos em Tocorón receberam medidas cautelares, dez foram liberados em Yare III, e o restante entre Las Crisálidas e Tocuyito, indicou.
Não há informações oficiais sobre estas libertações.
Mais de 2.400 pessoas foram detidas durante as manifestações, que deixaram 28 mortos e quase 200 feridos, segundo dados do Ministério Público. Entre os detidos, havia 164 adolescentes, dos quais 69 continuam detrás das grades.
Familiares esperavam desde as primeiras horas em frente às prisões, depois que rumores sobre as libertações passaram a circundar nas redes sociais.
“Hoje viemos porque soubemos pelas redes”, declarou à AFP Alexandra Hurtado, de 47 anos, enquanto aguardava junto com muro de 50 pessoas em frente a Yare III, vestindo uma camisa com a foto de seu rebento Oscar Escalona, de 23 anos, e a mensagem: “Não é terrorista, é singelo”.
Revisão de casos
Em Las Crisálidas, outro grupo também aguardava as libertações de mulheres detidas.
“Esses quatro meses foram horríveis, ver minha filha chorando pelos cantos. (…) Eu dizia para ela, ‘mamãe, logo vai trespassar’”, contou à AFP Junior, um chef de 34 anos que não quis revelar seu sobrenome e aguardava para saber se sua esposa seria libertada.
O MP anunciou na sexta-feira a revisão de 225 casos de detidos, atendendo a um pedido do próprio presidente Nicolás Maduro, que pediu para “retificar” caso tenha ocorrido “qualquer erro processual”. A entidade não especificou quais casos seriam revisados.
Maduro foi proclamado vencedor das eleições de 28 de julho, embora os detalhes da apuração dos votos não tenham sido divulgados. A oposição, liderada por María Corina Machado e seu candidato presidencial Edmundo González Urrutia, denuncia fraude.
“Aquele que tenha sido responsável por ações criminosas, sujeito a uma vinculação uma vez que participante direto das mesmas, será punido, será sancionado; quem não tiver responsabilidade no contexto de uma investigação, será sujeito a revisão de medida”, disse o procurador-geral venezuelano, Tarek William Saab, na sexta-feira.
O MP também prometeu continuar revisando casos em seguida se reunir com vários parentes dos presos, que na semana passada pediram libertações antes do Natal.
‘Crise repressiva’
Centenas de familiares protestaram exigindo “justiça”, afirmando que seus entes queridos detidos não estavam participando das manifestações no momento em que foram presos. Também denunciaram torturas e maus-tratos.
Na segunda-feira, um grupo de familiares planeja fazer uma “vigília” em frente ao MP para continuar exigindo mais libertações. “Não são 225, são mais de 2.000 jovens detidos injustamente!”, diz a convocação para o evento.
Segundo o Renda Penal, que denunciou uma “crise repressiva”, havia “1.976 presos políticos” até quinta-feira na Venezuela.
Oriente é o “maior número de presos políticos no século XXI, e o maior número de presos políticos em todo o continente americano”, afirmou a entidade.
A oposição denunciou que os detidos estão em condições “desumanas” e que foi refutado atendimento médico a eles. Um militante opositor faleceu na quinta-feira sob custódia das autoridades devido a um problema cardíaco associado a complicações por diabetes.