“Eu trabalho muito mais do que 44 horas semanais, por isso eu concordo com esse ato”, diz Vanessa*, vendedora de uma loja do shopping Conjunto Pátrio, em Brasília (DF).
Com lágrimas nos olhos, ela observa o protesto pelo termo da graduação 6×1 que se desloca da Rossio Zumbi dos Palmares até a ingresso do meio de compras, nesta sexta-feira, 15 de novembro. À sua frente, manifestantes gritam: “trabalhador, presta atenção, essa graduação só é boa pro patrão”.
Organizações, movimentos populares, sindicais e partidos de esquerda se reuniram a partir das 9h na Rodoviária do Projecto Piloto, em Brasília. Por volta das 11h, centenas de pessoas presentes se deslocaram para a Rossio Zumbi dos Palmares, encerrando o trajectória às 12h40 em frente ao Conjunto Pátrio.
Estiveram presentes a deputada federalista Erika Kokay (PT-DF) e os deputados distritais Gabriel Magno (PT-DF) e Fábio Félix (Psol-DF).
Para Félix, a mobilização pela PEC é uma “janela de oportunidade” para espessar a luta por direitos. “O mais importante agora é a gente não diminuir a mobilização popular e não incumbir só na tramitação da PEC na Câmara, porque em universal o resultado não é positivo. Tem muita enrolação nesse processo e aliás o convenção final nem sempre é bom, principalmente para o trabalhador”, disse o parlamentar.
Para o petista Gabriel Magno, a jornada de trabalho deve ter 30 horas semanais numa graduação 4×3. “Nós temos que disputar com a direita, porque nós estamos vendo a disputa que a direita quer fazer pra ter namoro no orçamento das políticas sociais. Se é pra ter namoro, é pra ter namoro nos privilégios, dos banqueiros, empresários, militares.”
Erika Kokay afirma que a mobilização nas ruas é pela tarifa no Congresso que vai certificar que “não arranquem nosso próprio tempo e a nossa própria vida”. “Nós estamos cá para proferir que queremos vida além do trabalho, com recta ao estudo, ao lazer e ao folga.”
O protesto no DF, realizado também em pelo menos mais de 25 cidades brasileiras, foi convocado pelo Movimento Vida Além do Trabalho (VAT-DF) depois que a deputada federalista Erika Hilton (Psol-SP) consegui recrutar assinaturas suficientes na Câmara dos Deputados para protocolar uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) pela redução do limite sumo de 44 para 36 horas semanais trabalhadas.
O VAT no DF foi articulado inicialmente pelo motorista de aplicativo Abel Santos, membro da Associação dos Trabalhadores por Aplicativos e Motociclistas do Região Federalista e Entorno (Atam-DF). O movimento se relaciona com a atuação de Rick Azevedo, que ganhou notoriedade nas redes sociais posteriormente viralizar com vídeos no Tik Tok em que relata uma rotina exaustiva de trabalho. Nas eleições deste ano, ele se elegeu uma vez que vereador mais votado pelo Psol do Rio de Janeiro.
Celina Andrade, moradora de Planaltina, participou do protesto ao lado de suas filhas, Paula e Marcela. “Eu vi que teria o ato pela internet, minha filha pediu para ir e eu topei. Uma vez que eu trabalhei a vida toda, muitas vezes deixei de saber o que estava acontecendo na vida delas porque eu saía de noite e chegava de noite e perdia muito tempo no transporte”, explicou a mãe.
Já operadora de caixa Sara Cristina esteve presente para reivindicar por amigas que trabalham na graduação 6×1, depois que ela mesma foi afastada do serviço por questões de saúde mental. “Essa graduação está adoecendo todo mundo”, protestou a manifestante.
Caroline Vitória, bancária e militante do Partido Comunista Brasílico Revolucionário (PCBR), defende que a mobilização permaneça nas ruas para a conquista de direitos. “Mesmo que a PEC seja editada pelo Congresso, não basta a gente se acomodar e encontrar que exclusivamente lá será feita a luta. A gente precisa ir para as ruas, trazer cá para a rodoviária, junto de trabalhadores que enfrentam essa graduação 6×1”, defende.
Breno Cavalcante, jurista da Associação de Juristas Brasileiros pela Democracia (AJBD), afirma que a organização “entende que o movimento de bases populares é muito importante para conseguir conquistas concretas”. “Nossa geração precisa de pautas que unifiquem, precisa de conquistas, para seguir na luta. E o termo da graduação seis por um é uma possibilidade palpável, factível, para a gente conseguir uma vitória.”
Para Paique Duques Santarém, urbanista e membro do Movimento Passe Livre (MPL), pronunciação que encabeçou os protestos de 2013 por redução das tarifas do transporte público, “o Congresso só funciona sob pressão, não funciona por lobby”.
“A gente tem que atropelar ou convencer organizações e partidos, que topam fazer acordos pela governabilidade, a lutar radicalmente lá dentro”, acrescentou o militante, uma vez que tributo do MPL para essa que promete ser a novidade frente de mobilizações por direitos das e dos trabalhadores em todo o país.
*Vanessa teve o nome verdadeiro modificado nesta reportagem para preservar sua identidade.
Manadeira: BdF Região Federalista
Edição: Flávia Quirino