O documentário Doutor Araguaia, que conta a história do médico João Carlos Haas Sobrinho, morto pela ditadura, está com o pré-lançamento marcado para esta quarta-feira (13), às 19h30, em São Leopoldo, cidade onde nasceu e se criou o médico. Hass Sobrinho foi assassinado na região do Ponta do Papagaio, em Xambioá, nas margens do rio Araguaia, em 1972.
O evento será no Cinesystem, Shopping Bourbon. Em Porto Contente o filme será apresentado no sábado (16), na Vivenda Diógenes de Oliveira, na Cidade Baixa. Posteriormente as exibições, haverá conversa com a plateia.
A produção é independente, da TG Economia Criativa, dirigida pelo documentarista Edson Cabral, com roteiro, pesquisas e argumento da mana do protagonista, Sônia Haas. O documentário foi gravado nos estados de São Paulo, Maranhão, Pará, Tocantins, Bahia, Rio Grande do Sul e Província Federalista. Com duração de 90 minutos, apresenta cinco músicas inéditas e murado de 50 entrevistas.
Em 2023, Diego Moreira e Gabriel Kolbe publicaram, pela Editora Parque, a HQ Doutor Araguaia – A História de João Carlos Haas Sobrinho, que se definiu, também, uma vez que título do documentário. Posteriormente as pré-estreias no RS e no Pará, a produção deve circundar em festivais de cinema, nacionais e internacionais, além de cine-debates em eventos relacionados à medicina comunitária e os direitos humanos.
Sônia Haas é uma publicitária gaúcha que vive na Bahia e luta há muitos anos, uma vez que outros familiares, pela recuperação dos sobras mortais de seu irmão, negados até hoje pelo Estado. Ela lembra que Haas sobrinho, nascido em 1941, em São Leopoldo, resolveu, uma vez que tantos outros jovens, lutar pela justiça social.
Em 1963, João foi presidente do Meio Acadêmico da Medicina da UFRGS e em abril de 1964, nos primeiros dias depois do golpe, foi recluso quase um mês junto com vários outros estudantes. Embora de formação jesuítica, João, uma vez que muitos de seus colegas, filiou-se ao PCdoB para enfrentar o regime militar.
Porquê lembra Sônia, posteriormente concluir seu curso, João Carlos tornou-se médico pioneiro nas regiões de Porto Franco e Xambioá (TO), onde comunidades desassistidas tiveram, pela primeira vez, a oportunidade de serem atendidas por um profissional da saúde. “Conforme a apuração e as entrevistas feitas para o filme, descobrimos que João pôde, mesmo com recursos precários, cuidar e salvar um número incontável de vidas entre 1964 e 1972. Sua atuação fez com que fosse estremecido e respeitado pelos camponeses que, além da pobreza, também sofriam diretamente com as arbitrariedades e descaso do regime de exceção.”
Membro da Guerrilha do Araguaia, movimento que reuniu dezenas de comunistas do PCdoB, João Carlos, assim uma vez que a maior secção do grupo, foi assassinado na região do Ponta do Papagaio, que perpassa os estados do Maranhão, Tocantins e Pará. Até hoje, os sobras mortais de João Carlos – assim uma vez que da maioria dos guerrilheiros – não foram entregues aos familiares, assim uma vez que não houve punição aos responsáveis.
“Eu enxergo essa minha procura uma vez que uma missão”
Sônia conta que alguns moradores de Xambioá ainda lembram de quando o João chegou machucado, já morto. “Eles jogaram o corpo no solo para o pessoal ver e aí as mulheres começaram a trazer velas e flores para velar o João ainda na frente da delegacia. No entanto ninguém sabe onde foi enterrado.”
“Eu enxergo essa minha procura pelo João Carlos, pela história dele e pelo resgate de sua pundonor, uma vez que uma missão. Portanto, lançar esse documentário é secção dessa missão, uma secção muito importante, simbólica, que vai registrar toda a jornada dele. Fomos aos lugares onde ele morou, falamos com as pessoas que foram pacientes dele, tivemos muitos encontros interessantes que simbolizaram reencontrar o João Carlos”, diz Sônia. “Visitando esses lugares e conversando com essas pessoas, sentimos que o João Carlos está vivo”, conclui.
O Filme
Edson Cabral, o diretor, lembra que desde a primeira vez em que conversou com Sônia percebeu “a mandamento, a coragem e a resiliência de quem completa cinco décadas procurando informações do seu querido irmão que, desde 1966, nunca mais retornou, deixando para trás saudade, tristeza e uma grande incerteza: onde estará João Carlos Haas Sobrinho?”
Sobre o processo de três anos que resultou no documentário, Cabral conta que para conceber o relato, foram meses de leituras de livros, relatórios e documentos, muitos dos quais fazem secção do ror pessoal da família Hass e da Instalação Maurício Grabois. Aliás, foram realizadas dezenas de entrevistas nas cidades de Brasília, São Paulo, Porto Franco, Xambioá, São Geraldo, Goiânia, São Leopoldo e Porto Contente.
“Fiquei emocionado com os depoimentos de familiares, amigos, pacientes, ex-guerrilheiros, camponeses, estudiosos e lideranças do PCdoB. E posso declarar com fé: os vencidos foram os vencedores”, enfatiza o diretor.
Um dos pontos que norteou o seu trabalho, relata, foi a premência de procurar respostas a ao menos a dois vazios: o da “saudade e da perplexidade dos familiares e amigos do Sul e o da saudade e da incompreensão dos amigos, pacientes e familiares do Setentrião, que tiveram suas vidas transformadas ou salvas por um brasiliano réplica. Era necessário unir esse turbilhão de paixão, carinho e espanto para oferecer respostas que preenchessem esses vazios”. Desse processo, surgiu o projeto, construído em parceria com Sônia e com a Instalação Maurício Grabois.
Tocar as pessoas
Segundo o diretor, ao humanizar a história de João Carlos o documentário procura aproximar o personagem do testemunha, mostrando o impacto das ações da ditadura na vida de gente geral, de gente uma vez que a gente. “Essa dimensão, aliás, está presente também no relato de um grande número de camponeses simples que puderam conhecê-lo e que viam nele alguém próximo e de crédito, que procurava, uma vez que podia, mitigar secção das mazelas do Brasil profundo.”
Neste sentido, Sônia argumenta que ao descrever a história de um familiar, conseguimos tocar mais as pessoas. “Ele é o meu irmão, é a minha vida. Dessa forma, acredito que quem assiste consegue enxergar um pouco mais a dor, a angústia, a tristeza e as atrocidades causadas pela ditadura militar. É um processo educativo.”
Considerando o momento que o Brasil e o mundo vivem – de subida da extrema direita e da valorização de ideias autoritárias e fascistas – Sônia salienta que o relato trazido pelo documentário resgata secção da história que a sociedade brasileira precisa saber para não deixar que volte a ocorrer. “Precisamos ter cada vez mais livros, filmes, peças de teatro, produções midiáticas que falem sobre esse ponto, para que esses acontecimentos alcancem um número maior de pessoas”, pontua.
Sônia diz estar emocionada com o término e o lançamento do documentário e com grande expectativa quanto à sua receptividade. “Estou feliz porque é, também, um ciclo que se fecha”, destaca.
Já o diretor Edson Cabral espera que o documentário “faça justiça a todos aqueles que ousaram enfrentar, com armas simples, paixão ao próximo e a fé dos seus ideais, os canhões e a arrogância dos torturadores”.
Confira uma entrevista no Estúdio do Livro:
Natividade: BdF Rio Grande do Sul
Edição: Katia Marko