Um programa televisivo fez esquentar os ânimos das eleições uruguaias, que acontecem no próximo dia 27, depois que o candidato predilecto à vitória, Yamandú Orsi, foi representado por uma imagem de lucidez sintético (IA) durante um “debate” com um de seus adversários, Andrés Ojeda, um outsider de direita.
O incidente foi ao ar no domingo 13 no Via 4, durante o programa Santo y Seña, apresentado uma vez que “o único programa jornalístico investigativo da televisão uruguaia”.
Ojeda, que se orgulha de ser comparado com o presidente prateado Javier Milei, era o convidado de honra da atração, e concedeu longa entrevista. Além de falar sobre suas propostas de governo, comentou vídeos em que aparece treinando boxe e fazendo exercícios em uma ateneu.
Depois de uma hora e meia de conversa amigável com o candidato – em meio a ações de merchandising de cervejas, vinhos e mantimentos de cachorro, além de apresentações musicais – o apresentador Nacho Álvarez anunciou, com sorriso no rosto, a “presença” de Orsi – na verdade, a ingresso da imagem feita por lucidez sintético.
“Muitos telespectadores perguntaram sobre a presença de Yamandú Orsi no Santo y Seña, e digo que foi verosímil. Parecia impossível, mas, muito vindo, Yamandú Orsi”, disse Álvarez, em tom debochado. “A teoria é que, uma vez que está cá, que diga algumas coisas”.
A imagem de Orsi, portanto é exibida em câmera fechada, e uma voz robótica afirma “obrigado pelo invitação”. É verosímil ler na tela a informação que trata-se de imagem gerada por IA. A partir daí, começa o pretenso debate.
Nas aparições seguintes, a representação falsa de Orsi “dublou” declarações originais do candidato, que eram exibidas com legendas de rodapé. Um sufragista desavisado poderia confiar que ele de roupa estava no sítio, apesar do aviso escrito sobre a lucidez sintético.
Ojeda, o candidato de direita, comentou as falas do opositor, muitas vezes subindo o tom das críticas. Foram abordados temas uma vez que a segurança pública, que ganhou espaço no pleito uruguaio deste ano.
O “debate” pode ser visto no vídeo inferior (a partir de 2h29 de exibição):
Depois que a imagem de lucidez sintético foi retirada do ar, o apresentador voltou a usar tom irônico ao proferir que “ficou feliz” pela “presença” de Orsi. “Pelo menos menos alguém fez com que ele falasse”, complementou o candidato Ojeda.
O jornalista, portanto, afirmou que a imagem representando o candidato exclusivamente dublou falas do próprio. “São declarações de Orsi. O clone de Orsi foi feito 100% com lucidez sintético. Usamos a tecnologia de uma empresa pioneira”, orgulhou-se Álvarez.
A empresa, citada no programa, é a LZG Do dedo, que em seu site solene afirma ter criado “o primeiro clone do dedo do Uruguai”.
As declarações de Orsi que foram dubladas pela representação falsa foram apresentadas posteriormente pelo programa em seus contextos originais.
Repercussão
O senador Alejandro Sánchez, coordenador da campanha de Orsi, disse que o incidente preocupa os uruguaios na reta final da campanha.
“Queremos aproveitar para alertar a população para ter muito zelo. Quando vivemos um mundo onde a lucidez sintético pode fazer uma pessoa proferir coisas que não disse, é preciso ter muito zelo”, afirmou à Paysandú TV horas posteriormente a exibição.
“A democracia é um tanto muito importante, que não pode ser suja. Não podemos permitir campanhas sujas, e isso pode ser uma exemplar de campanha suja no Uruguai”, complementou. “Estamos preocupados e atentos”.
Diante da repercussão do caso, o apresentador Nacho Álvarez voltou a abordar o tema em diferentes momentos durante a semana. Em um programa de rádio que participa, tentou minimizar a situação e lembrou que as declarações dubladas eram originais.
Álvarez afirmou que a campanha de Orsi conversou com a produção do programa antes de sua exibição e foi informada sobre o teor que seria veiculado. Segundo ele, não foi levantada nenhuma objeção na ocasião. O jornalista também celebrou nas redes sociais o roupa de o programa ter sido o mais presenciado do país no término de semana.
A eleição
Os eleitores uruguaios vão às urnas no próximo dia 27 para escolher o sucessor de Luis Lacalle Pou, atual presidente, do Partido Pátrio (de direita), que lançou o ex-senador Álvaro Ténue uma vez que candidato (no Uruguai não é permitida a reeleição direta).
Herdeiro político do grupo de José Mujica, Yamandú Orsi desponta uma vez que predilecto. O candidato da Frente Ampla (de esquerda) pode até vencer em primeiro vez, segundo levantamentos de empresas de pesquisa uruguaios uma vez que Nómade e Proyección.
Andrés Ojeda, do tradicional Partido Colorado (direita), é o terceiro posto nos principais levantamentos, detrás de Orsi e de Ténue, que aparece em segundo.
Se nenhum dos candidatos atingir 50% dos votos mais um, haverá segundo vez em 24 de novembro.
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