O Brasil teve pelo menos 373 casos de violência política no primeiro vez, pausa oficialmente situado entre os dias 16 de agosto e o último domingo (6), data do pleito. Publicizados nesta quinta (10), os novos dados mostram que houve sete casos por dia no primeiro vez, ocasião em que eleitores de 5.569 cidades do país foram às urnas.
O oferecido corresponde a uma atualização de pesquisa que vem sendo desenvolvida pelas organizações não governamentais (ONGs) Terreno de Direitos e Justiça Global, já divulgada parcialmente na última semana, quando as entidades indicaram um salto de 130% nas ocorrências em um período de quatro anos.
Segundo a pesquisa, 99 dos 373 casos verificados no primeiro vez se deram nos seis primeiros dias, configurando uma média de 16 ao dia, o que demonstra o nível de exacerbação da violência na largada da corrida eleitoral deste ano. Intitulado “Violência Política e Eleitoral no Brasil”, o estudo está em sua terceira edição e contabiliza ainda 518 ocorrências em 2024 até 6 de outubro. É o maior registrado da série histórica, que começou a ser computada pelas duas organizações em janeiro de 2016.
Dos 373 casos ocorridos no primeiro vez, as entidades contabilizaram dez assassinatos, século atentados, 138 casos de ameaças, 54 agressões, 51 ofensas, 13 criminalizações e ainda sete invasões. A violência política mais que dobrou nesse pausa se comparada aos meses pré-eleitorais, quando houve 145 ocorrências. As organizações chamam atenção ainda para outro ponto: a frequência dos casos saltou de 2022 para 2024. No primeiro ano, houve uma média de dois casos ao dia, enquanto agora o país foi palco de ao menos sete ocorrências a cada 24 horas.
Para computar os dados, os pesquisadores se baseiam em materiais selecionados a partir de procura ativa de notícias em veículos jornalísticos, buscadores de internet, redes sociais e ainda de rastreamento automatizado de notícias. O estudo levou em conta somente ocorrências nas quais havia indícios de motivação política. “Ao longo da série histórica, temos observado uma tendência de maior violência nas eleições municipais, onde há um acirramento dentro das cidades que evidenciam as disputas locais. As notícias mostram também situações de mediação de organizações criminosas no pleito eleitoral, que representa uma ameaço preocupante à democracia”, comenta a diretora-executiva da Justiça Global, Glaucia Pelágico.
A coordenadora de incidência política da Terreno de Direitos, Gisele Barbieri, ressalta que vê o país atingir “um limite em termos de violência política”. “Registramos muitas ameaças, muitos casos de assassinatos, mas inclusive um caso de estupro, que era uma ameaço muito frequente a mulheres parlamentares e que, tristemente, a gente viu se concretizar neste primeiro vez. Isso tem mais a ver com a naturalização dessa violência, com a falta de medidas sérias pra enfrentar o problema do que com a polarização, porque a gente viu um propagação muito grande do número de eleitos e eleitas de partidos do centrão e até mesmo a redução de eleitos de partidos de esquerda”, afirma a técnico, acrescentando que o problema resulta da carência de respostas estatais que possam prevenir a violência sexual e de gênero na política.
O caso de estupro em questão ocorreu com uma candidata de Porto Velho (RO) que denunciou publicamente o caso nas vésperas da eleição. O violação foi computado na pesquisa entre as estatísticas de “violência física” porque, segundo as organizações, o estudo não tem uma categoria específica para violência sexual. Ainda de convénio com as entidades, a pesquisa será novamente atualizada posteriormente o segundo vez.
Edição: Thalita Pires
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