O documentário “Fé em disputa – a subida dos evangélicos no Brasil”, filme produzido pelo Brasil de Traje que explora o incremento e a dificuldade das comunidades e igrejas evangélicas nas periferias urbanas brasileiras, foi exibido na noite desta quinta-feira (03) em Havana, capital de Cuba.
A estreia ocorreu no emblemático Meio Memorial Martin Luther King (CMLK) e faz segmento das atividades da 6ª edição da Escola Latino-Americana de Formação Política, da qual participam tapume de 28 organizações de 16 países diferentes, com o objetivo de incentivar o debate e a reflexão sobre a relação entre política e religião.
“Acho que o mais importante do filme é que ele propõe um diálogo respeitoso”, disse ao Brasil de Traje Kirenia Criado Pérez, professora de teologia e membro da equipe de coordenação do CMLK. “O filme não demoniza o fenômeno, mas procura entendê-lo em toda a sua dificuldade, partindo das vozes das pessoas que fazem segmento dele e não daquelas que só o interpretam de fora.”
Kirenia disse que a exibição do documentário foi escolhida para ser segmento das atividades por se tratar de um dos principais temas que a escola está abordando leste ano: “a disputa pela subjetividade, que também envolve crenças e fé”.
“A teoria de abordar essas questões na escola foi proposta pelos próprios movimentos e organizações, que nos disseram que muitas vezes não entendem completamente ou não sabem porquê se relacionar com esses fenômenos”, afirma.
A professora também argumenta que as comunidades religiosas frequentemente são espaços onde as pessoas “encontram significado e recuperam certezas” e que “o documentário coloca dois elementos em jogo”.
“O papel da fé na vida cotidiana dessas pessoas, que encontram nessa fé a força e a resistência para enfrentar o dia a dia, mas também traz à tona uma comunidade de fé que não necessariamente tem totalidade transparência ou consciência dos tentáculos neoliberais que às vezes estão por trás dela”, afirma.
Debates e impressões
Depois a exibição, realizou-se um debate em que os participantes trocaram opiniões e compartilharam suas próprias experiências e reflexões sobre a relação entre fé e política em seus respectivos países. A partir de relatos históricos, onde destacaram as diferentes influências das igrejas em cada um dos países.
“Quando vi Fé em Disputa não tive escolha a não ser estreitar meu coração com a mão”, conta Ivan Garcia Torres, membro do Instituto de Formação Política do Partido Morena, do México. “Ao ver porquê, a partir do fundamentalismo, certas carências estão sendo atendidas: a procura de identidade, a procura de comunidade, a procura de uma voz para ser ouvida, isso nos leva a perguntar o que nós, da esquerda, estamos fazendo para atender a essas necessidades?”, questiona.
“[O que fazemos] para que as pessoas realmente sintam que estão sendo ouvidas, que sua voz é importante, que elas são importantes para nós, que elas não são exclusivamente mais um número? Esse documentário nos faz pensar sobre essas questões”, argumenta Torres.
Para Wilson Andrés Quijano, da Colômbia, o documentário “nos permite ver que não existem verdades absolutas e que há possibilidades de edificar a partir da diferença, mas, supra de tudo, localizar os elementos da fé, porque eles são os elementos que nos identificam porquê povos e fazem segmento de nossas culturas”.
A visão é compartilhada por Alicia Amarilla, da Organização de Mulheres Camponesas Indígenas do Paraguai (Conamuri). “Uma vez que paraguaia, me identifiquei com o que vi no documentário. Muitas vezes, em nossos movimentos, estamos em crise porque muitas pessoas deixam o movimento para ir às igrejas”, disse.
“Antes, eu não olhava para essa questão, não prestava atenção nela. Acho que o documentário abre a possibilidade de debatermos uma questão fundamental.”
Produzido pelo Brasil de Traje, o documentário desafia as visões simplistas que associam maquinalmente e sem matizes a fé evangélica ao conservadorismo político. Através de diferentes testemunhos das próprias comunidades religiosas, o documentário aborda a pluralidade de motivações e experiências que compõem diversas igrejas evangélicas.
Por meio da escuta, o filme explora a procura que leva muitas pessoas a uma trajetória religiosa que navega entre o fundamentalismo e uma novidade identidade de religiosidade popular. Aliás, explora a experiência de setores progressistas dentro dessas comunidades, que incluem interpretações mais inclusivas e histórias de fé comprometidas com a justiça social.
Edição: Lucas Estanislau
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