Nesta quinta-feira, dia 3 de outubro, é comemorado no Brasil o Dia Vernáculo da Agroecologia. A agroecologia é prática, movimento e ciência que procura promover a produção de vitualhas saudáveis e a segurança nutrir, relações sociais justas e desvelo com o meio envolvente, pensando no presente e nas gerações futuras.
Na perspectiva de porvir, a agroecologia é citada uma vez que escolha fundamental para o enfrentamento às mudanças climáticas. As alterações no clima, apontam cientistas, são consequência direta da degradação ambiental provocada por ação humana, uma vez que desmatamento, queimadas, uso intenso de agrotóxicos na lavradio, entre outras ações nocivas à vida no planeta.
Um dos maiores eventos dedicados ao tema no país ocorre no Paraná há 22 anos. A Jornada de Agroecologia chega neste ano a sua 21ª edição, entre os dias 4 e 8 de dezembro, no Meio Politécnico da Universidade Federalista do Paraná. Criado em 2002, o evento possibilita o intercâmbio de camponeses/as, povos originários e tradicionais, pesquisadores/as, estudantes e militantes dedicados às diversas lutas relacionadas ao tema.
Para promover reflexão sobre a data, e mobilizar mais pessoas a conhecerem e se engajarem no tema, conversamos com pessoas que incorporam a agroecologia na vida cotidiana e comunitária, e transformam o meio envolvente em que vivem para a melhor.
Uma agrofloresta no meio da Cidade Industrial de Curitiba
Há pouco mais de três anos vem sendo cultivada na Vila Sabará, no bairro Cidade Industrial de Curitiba (CIC), a Agrofloresta Papa Francisco. O espaço de produção de vitualhas é mantido pelo Meio de Assistência Social Divina Misericórdia (CASDM), e surgiu de uma parceria com o Coletivo Marmitas da Terreno e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terreno (MST). O objetivo inicial, e que se mantém, foi restabelecer uma extensão degradada e utilizá-la para a produção de vitualhas agroecológicos, oferecendo alimento saudável para as pessoas envolvidas.
“Eu lembro que, no início, o pessoal do MST dizia assim: ‘é verosímil sarar qualquer terreno, toda terreno produz, a gente só precisa dar a ela o que ela precisa.’ E começamos aprendendo isso, olhar para aquela terreno enxurro de entulhos e imaginar que ali poderia ter uma agrofloresta diversificada, saudável e orgânica”, recorda mana Anete Giordani, gestora do Meio. Hoje, a Agrofloresta gera vitualhas para mais de 500 pessoas que vivem nas unidades de convívio do CASMD.
Para o porvir, mana Anete projeta um trabalho educativo com crianças e adolescentes. “Nosso duelo atual é envolver nossas crianças e adolescentes no desvelo com a terreno, trabalhando de forma mais intensa a consciência ambiental”, comenta.
Mulheres unidas pela agroecologia no Sudoeste do Paraná
Mulheres do MST estão unidas por coletivos, no Sudoeste do Paraná, em que debatem e reivindicam direitos, entre eles, o recta à alimento saudável. A agricultora Graciela Almeida, da comunidade Sete Povos das Missões, em Honório Serpa, é uma delas.
Graciela integra o coletivo Mulheres Guerreiras e, recentemente, por meio das reuniões mensais que o grupo formado por 15 mulheres realiza, buscou com as companheiras o cadastramento no programa Compra Direta Paraná. O objetivo é entregar os vitualhas produzidos de forma agroecológica nos lotes à rede socioassistencial do estado.
Para a agricultora, a agroecologia gera preservação para um porvir melhor. “Quanto mais a gente adota a agroecologia, menos impacto causamos ao nosso porvir. A agroecologia nos dá o recta de ser saudável”, destaca Graciela. Ela lembra também que, por meio da geração de renda que a produção agroecológica proporciona, as mulheres conquistam maior autonomia no envolvente em que vivem.
Pertinho de Graciela, no município de Palmas, Franciele R. Cruz Veloso, da comunidade Cacique Cretã, está organizada com outras 14 mulheres no coletivo Mulheres Mães da Terreno. Juntas, elas cultivam uma horto comunitária de onde geram renda com a venda dos vitualhas produzidos. A cada quinze dias, elas comercializam cestas agroecológicas, recheadas com mandioca, alface, batata-doce, entre outros itens, a mulheres da cidade de Palmas.
Tanto Graciela quanto Franciele cresceram no meio rústico, mas por circunstâncias da vida precisaram mudar para a cidade, e hoje retornam à terreno em procura de uma vida plena, com muita comida saudável direto da roça para a mesa. As duas agricultoras ainda vivem o chamado processo de transição, que é quando a produção de vitualhas ainda não é certificada e totalmente orgânica, mas caminha para um dia ser. “Meu sonho é um dia produzir 100% de forma agroecológica”, afirma Franciele.
Horto comunitária 100% orgânica em Centenário do Sul
No mês de setembro, 36 famílias Sem Terreno que integram o Meio Antônio Tavares de Produção de Provisões Saudáveis comemoraram a conquista do certificado de produção orgânica para a horto em que trabalham há muro de seis anos. Inaugurada em 2018, a horto é um espaço de produção coletiva, onde as famílias trabalham produzindo comida de verdade, sem nenhum condimento químico ou veneno.
Para o coordenador do trabalho, Devanir Vicente, a conquista da certificação é uma vitória para as famílias da comunidade. “É a primeira extensão de um acampamento da reforma agrária cá da região que conquista essa certificação”, comemora.
Assistência técnica para a certificação orgânica
O fomento para que mais e mais famílias agricultoras e camponesas produzam comida sem a utilização de adubos químicos e agrotóxicos é um dos objetivos do projeto de Assistência Técnica e Extensão Rústico (Ater) Semeando Gestão: Fortalecendo a Organização Produtiva e Sustentável.
A iniciativa, em curso em todo o Paraná, prevê assessoria especializada com vistas à certificação orgânica para 2,5 milénio famílias do campo. O trabalho é resultado da parceria entre a Itaipu Binacional, a Cooperativa Medial da Reforma Agrária (CCA), e o Parque Tecnológico da Itaipu (Itaipu Parquetec).
São 31 entidades, entre cooperativas e associações da reforma agrária e da lavradio familiar, que estão integradas ao projeto, com o objetivo de qualificar e ampliar a produção sustentável. Entre elas estão a Terreno Livre, do assentamento Contrariado, a Copavi, de Paranacity, e a Maria Rosa do Contrariado, de Castro, que já conquistaram certificado de produção 100% agroecológica.
São cooperativas fornecedoras de produtos para o Programa Vernáculo da Sustento Escolar (PAA) e de Compra de Provisões (PAA), garantindo comida boa para crianças, adolescentes e funcionários de escolas públicas, e também para cozinhas comunitárias.
Feira da Agrobiodiversidade
A variedade e riqueza da produção agroecológica do estado se expressa na Feira da Agrobiodiversidade Camponesa e Popular da Jornada de Agroecologia, realizada todos os anos. Na edição de 2023, foram mais de 900 itens in natureza e processados, e 560 variedades de sementes crioulas. A produção é fruto do trabalho de muro de 120 coletivos, empreendimentos de economia solidária, indígena, cooperativa da reforma agrária e da lavradio familiar. As organizações, vindas de todas as regiões do Paraná, participam anualmente da Jornada da Agroecologia.
Manadeira: BdF Paraná
Edição: Mayala Fernandes
Discussion about this post