Movimentos ambientais e moradores se mobilizaram, neste domingo (29), contra a derrubada de árvores no Parque Saint’Hilaire, localizado entre Porto Feliz e Viamão. Com mais de milénio hectares, dos quais 240 são destinados ao lazer e 908 à preservação permanente, o parque é uma Unidade de Conservação desde 2003. Em 2022, a governo do sítio foi transferida para a prefeitura de Viamão.
A mobilização, organizada pelo movimento “Salve o Parque Saint’Hilaire”, teve uma vez que principal motivação a falta de consulta à comunidade e a escassez de transparência sobre o manejo arbóreo. De concordância com os organizadores, há muro de três semanas máquinas e caminhões iniciaram a poda em volume das árvores, gerando indignação entre os moradores. Entre as críticas, destacam-se a falta de informações sobre o orientação da madeira retirada e a atuação de caminhões sem identificação durante a noite.
O Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais (InGá) relatou danos ao ecossistema do Parque Saint’Hilaire. A entidade alerta sobre o impacto ambiental causado pelo uso de máquinas pesadas e o risco à preservação das nascentes, essenciais para a fauna e a flora locais.
O prefeito de Viamão, Nilton Magalhães (PSDB), justificou que o golpe de árvores está em conformidade com um projecto de manejo florestal realizado há três anos, que determinou a remoção de 200 hectares de eucaliptos e pinos. Ele explicou que essas espécies “são invasoras que precisam ser erradicadas porque é o chamado deserto virente, elas matam as nativas, elas plantam a fauna e a flora e ao mesmo tempo também elas propiciam pelas suas folhas a possibilidade de grandes incêndios”.
Segundo o prefeito, a operação realizada envolve a troca do ativo das árvores pelo gradeamento do parque, protegendo o entrada à dimensão. “São mais de sete quilômetros, onde está protegendo portanto o entrada do parque.” Ele ainda afirmou que a madeira é movimentada, cortada, estocada e levada para serrarias que a comercializam posteriormente. O processo é fiscalizado por engenheiros florestais e civis da prefeitura, responsáveis tanto pela extração quanto pela instalação do gradil.
Falta de transparência
De concordância com o InGá, mesmo que fosse necessária a remoção de eucaliptos e pinheiros, deveria ter mais transparência sobre esse projecto de manejo, além de ser discutido previamente com a comunidade. “Não há sequer uma placa indicando a autoria das obras, o povo não foi consultado e a derrubada começou de forma oculta no interno do parque, onde só se ouvia o estrondo das máquinas e a queda das árvores, que caíam sobre a mata nativa protegida”, denunciou o instituto. Na ingresso do parque, há exclusivamente uma placa, sem autoria, indicando “obras do governo do estado do Rio Grande do Sul”.
Moradores da região relataram ter visto um macaco morto e a presença de felinos selvagens de pequeno porte no sítio, além de outros animais com ninhos que não foram respeitados durante a derrubada das árvores e a passagem dos tratores. “Eu nasci e cresci na rua que dá de frente ao Parque Saint’Hilaire. Os meus pais ainda moram lá, no final de semana eu vou pra lá, tem uso, cresci no parque. Sou afro-religioso, portanto nós temos uma relação muito peculiar com a natureza do parque também. E acabei me envolvendo com o ativismo ambiental através dessa situação do parque”, relata Vitor Barreto.
Ele ressalta um estudo levado por pesquisadores da Universidade Federalista do Rio Grande do Sul (UFRGS), da Universidade Federalista de Santa Catarina (UFSC) e da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC RS), que evidencia a vasta inconstância de flora presente no Parque Saint-Hilaire. A riqueza de espécies ali identificada é motivo de preocupação, principalmente diante das ameaças impostas pela derrubada deliberada de árvores
O deputado estadual Adão Pretto Rebento (PT) acionou o Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS) para investigar a derrubada abusiva de árvores no Parque Saint’Hilaire, em Viamão. Moradores e ambientalistas estão preocupados com o impacto ambiental das obras e a remoção de árvores sem justificativas claras.
Muitas dúvidas
No ofício, Pretto questiona: “Quais órgãos liberaram as licenças? Quem é a empresa responsável? Houve avaliação técnica para o golpe das árvores? E qual será o orientação da madeira retirada?”. Para o deputado, “o meio envolvente deve ser preservado, principalmente em tempos de crise climática” e, por isso, serpente “um olhar discreto do poder público e do judiciário sobre esses crimes”.
Nesta segunda-feira (30), o deputado, ao lado do coletivo Mulheres da Terreno do Assentamento Filhos de Sepé de Viamão, de moradores e de lideranças da região da Lombada do Pinho, promoveu um plantio de árvores nativas no parque em resguardo da preservação do ecossistema sítio.
Nesta segunda-feira (30), o InGá deve enviar um novo ofício ao MP-RS pedindo a revisão do investimento de R$ 11,4 milhões talhado à revitalização do parque. O movimento segue pressionando pela suspensão das obras e mais transparência no processo de preservação do Saint’Hilaire.
Autoridades políticas também têm se pronunciam
“O Parque Saint Hilaire, que inicia na lema de Porto Feliz com Viamão, tem sido vítima de um verdadeiro arboricídio. Centenas de árvores, espécies exóticas e nativas, foram desmatadas para a construção de um meio de eventos, que foi inaugurado agora, em meio a campanha eleitoral”, publicou o deputado estadual Matheus Gomes (Psol).
“Muito grave o que está acontecendo no Parque Saint’Hilaire, um espaço ecológico com diversas árvores e animais silvestres, no bairro Lombada do Pinho. Em 2022, o prefeito Melo, cedeu o parque à Viamão para construção de áreas de lazer uma vez que quadras esportivas e espaços hidroelétricos. Mas, junto, foi assinado um documento de preservação ambiental. Com essas imagens registradas por moradores vizinhos ao parque, podemos ver que está acontecendo o contrário”, destacou a deputada estadual Sofia Cavedon (PT).
Unidade de Conservação em risco
O Parque Proveniente Municipal Saint’Hilaire é uma das quatro Unidades de Conservação de Porto Feliz, destacando-se uma vez que um espaço de grande relevância ambiental. As Unidades de Conservação, conforme definido pelo Sistema Pátrio de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), instituído pela Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000, são áreas naturais com características especiais, incluindo a presença de espécies animais e vegetais, biomas ameaçados de extinção, além de nascentes e cursos de chuva.
Essas áreas são dedicadas à preservação, manutenção, utilização sustentável para pesquisa, restauração e recuperação do envolvente procedente, visando proporcionar o maior mercê provável, enquanto mantém seu potencial de satisfazer as necessidades e aspirações previstas em lei.
Manancial: BdF Rio Grande do Sul
Edição: Marcelo Ferreira
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