Há dois meses, nove famílias da comunidade Vista Satisfeito do Cururu, no município de Tefé (AM), na região da bacia do rio Solimões, estão vivendo em três moradias flutuantes no rio Japurá. “Não ficou ninguém na comunidade, não tem uma vez que sobreviver. Não tem chuva potável, não tem chuva para lavar roupa, não tem chuva para fazer comida”, conta José Ribamar Lima, morador da comunidade há 8 anos.
Murado de 1.554 comunidades estão isoladas somente na região da calha do médio Solimões, trecho da bacia do Rio Solimões onde fica Tefé, segundo a Resguardo Social do Estado do Amazonas. A região abrange também os municípios de Uarini, Alvarães, Tefé, Coari, Jutaí e Manancial Boa. Em todo o estado, 115.378 famílias foram afetadas pela estiagem até o dia 16 de setembro.
O governo do Amazonas distribuiu, até o momento, 31 purificadores de chuva, sendo dez deles direcionados para a calha do sobranceiro Solimões, onde escassez de chuva chegou mais cedo. Também foram enviadas 100 caixas d’chuva para melhorar o entrada à chuva potável.
Em Tefé, as embarcações grandes não conseguem chegar até a extensão de descarga. “Os barcos de grande e médio porte não conseguem mais entrar, tendo que ancorar em frente a uma comunidade distante a 9 quilômetros da cidade”, informou a assessoria da prensa da Resguardo Social do município. Embarcações menores, uma vez que lanchas e canoas, têm levado as cargas até a cidade. Porquê boa segmento do transporte de pessoas também é feito pelos rios, as aulas no município foram suspensas.
“Esse é o primeiro ano que vejo secar dessa forma”, conta Arielly Bastos, que trabalha em um frigorífico em frente ao lago de Tefé, um dos pontos usados para o comitiva do nível da chuva. Lá, a régua de mensuração já indica o estado crítico. “Não conseguimos mais fazer a leitura dos rios porque a régua que usamos uma vez que base já está marcando inferior de zero”, informa a Resguardo Social.
As secas têm chegado cada vez mais cedo e estão cada vez mais próximas no Amazonas, conforme observaram os pesquisadores do Laboratório de Estudo e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis) na Universidade Federalista de Alagoas (Ufal). “Está começando a desabrochar uma sazonalidade que a gente via só na região Núcleo-Oeste ou na região Nordeste”, diz Humberto Barbosa, meteorologista e pesquisador do Lapis, que estuda as bacias hidrográficas no Brasil há cinco anos. “Começaram a ter muitos picos rápidos num pausa de tempo mais pequeno”, explica. Em Tabatinga, no sobranceiro Solimões, o rio começou a secar 30 dias antes do esperado.
“Nós estamos vivendo esse cenário desde 2022, onde tivemos uma grande seca dos rios. Em 2023, ultrapassou a anterior e essa de 2024 já ultrapassou a de 2023”, informa a Resguardo Social de Tefé. Antes disso, a última seca severa registrada havia sido em 2010, segundo a base de dados da Resguardo Social.
“Os mais antigos dizem que nunca existem duas secas grandes ao mesmo tempo”, diz Ribamar. Para ele, levante ano a estiagem está mais severa. “Em 2020, secava na frente da comunidade, mas a gente ficava próximo, uns 300 metros”, lembra.
Com o rio distante das moradias, quem tentou permanecer na comunidade precisava caminhar na lodo até a chuva. Dia depois dia, os moradores foram abandonando Vista Satisfeito do Cururu, que agora está tomada pelo mato. Alguns foram para Tefé. Outros, uma vez que Ribamar, estão nos flutuantes. Ele só pretende voltar para a comunidade no mês de março de 2025, quando o rio estiver pleno. “E o pior é que onde nós moramos, a seca de Tabatinga ainda não chegou toda. Ainda vai secar 30 dias. Vai morrer muito peixe, a gente já sabe”, lamenta.
Edição: Thalita Pires
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