O Brasil finalizou os jogos paralímpicos de Paris com a sua melhor campanha da história. Em quinto lugar no quadro universal de medalhas, o país se firmou, mais uma vez, uma vez que uma potência na competição, com 89 pódios conquistados. Foram 25 medalhas de ouro, 26 de prata e 38 de bronze. Mas por que somos considerados uma potência nas Paralimpíadas?
A professora Andressa Mello, coordenadora de esportes paralímpicos do Meio de Treinamento Esportivo (CTE) da Universidade Federalista de Minas Gerais (UFMG), diz que o país tem vivido uma evolução plena, ao longo dos últimos cinco ciclos da competição. Segundo ela, esse é um resultado do esforço coletivo, mas também da força das políticas públicas.
“O esporte paralímpico precisa de políticas públicas que sejam estabelecidas em todas as regiões do Brasil. Ter suporte a níveis municipal, estadual e federalista, com editais, projetos específicos para incentivar a prática do esporte adequado, é muito importante, porque essa é a massificação e a diversificação do esporte para pessoas com deficiência no Brasil”, explica.
Desenvolvimento
O CTE da UFMG é resultado dessas políticas de investimento. O espaço é uma referência para o esporte paralímpico, desde 2019, sendo um dos primeiros instituídos pelo Comitê Paralímpico Brasílio (CPB).
Christopherson Dias Promanação, treinador de natação do meio, um dos esportes nos quais o Brasil mais ganhou medalhas em 2024, reafirma a valimento de um trabalho multidisciplinar.
“A estrutura também é fantástica. Não se vê uma estrutura uma vez que a do CTE em qualquer lugar do Brasil. Temos uma piscina de 50 metros, coberta, com aquecedor. Temos uma pista solene também. No estado, os dois principais polos de treinamento são o CTE e o Praia Clube, em Uberlândia”, conta.
Andressa lembra que a universidade constrói ciência dentro do seu ensinamento esportivo.
“O grupo de professores e doutores, que atua com alunos de graduação e pós-graduação, também faz muitas pesquisas voltadas para o esporte paralímpico de superior rendimento. Isso é muito importante, uma vez que nós somos uma instituição pública. Nós temos que atuar na extensão, no ensino e na pesquisa. Trabalhamos nesses três eixos, que são muito importantes”, reforça.
Caminhos afirmativos
Outra potencialidade do esporte no Brasil, segundo Cristopherson, é a captação dos paratletas ainda na idade escolar, para evoluírem até alcançarem o superior rendimento.
“Quando falamos de superior rendimento, só chegam os melhores no topo da pirâmide. Mas identificamos um potencial no início da curso, com pouca idade, para fazer essa transição, até chegar no superior rendimento. Quanto mais tempo o desportista estiver treinando e competindo em superior rendimento, mais chance ele terá de chegar a uma Paraolimpíada”, observa o professor.
No caminho, é preciso, portanto, dar mais visibilidade ao esporte e conversar com as crianças sobre suas deficiências, de conformidade com Andressa.
“Assim, vamos desmistificando, socializando essa gaiato e ela se torna cada vez mais confortável na sociedade. Muitas vezes, a inclusão e a sensibilidade estão dentro de nós. No momento em que a gente entende mais sobre isso, as coisas ficam mais fáceis na sociedade. A relação humana é muito importante para termos empatia e o esporte é uma instrumento forçoso de inclusão”, lembra.
Prover mecanismos para que o paratleta consiga se sustentar nesse meio também é fundamental. Assim, a coordenadora do CTE-UFMG cita o bolsa desportista uma vez que uma importante política de garantia da sustentabilidade.
“A bolsa desportista é muito importante para que o paratleta possa se profissionalizar. Ele utiliza esse recurso para consultas psicológicas e fisioterapia, ou alimento adequada, por exemplo. Sem incerteza, é um super programa e que só vem a somar para o desempenho esportivo”, acrescenta.
Porquê resultado, a velocista mais rápida do mundo
Quem emerge dessa política e traz consigo uma longa trajetória de superação é a velocista paralímpica mais rápida do mundo, Terezinha Guilhermina. Procedente de Betim, cidade da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), a ex-atleta nasceu com retinose pigmentar, uma doença que provoca a perda gradual da visão.
Ela acumula oito medalhas em Jogos Paralímpicos, três ouros, duas pratas e três bronzes; 12 medalhas em mundiais, sendo oito ouros e quatro pratas; e nove medalhas em Jogos Parapan-Americanos, com oito ouros e uma prata.
Para ela, embora os jogos ajudem a visibilizar a luta contra o capacitismo, essa é uma guerra enfrentada cotidianamente, que ainda precisa de mais atenção da sociedade. Terezinha reafirma o orgulho de ser brasileira, ao constatar que, a partir das políticas de investimento, realizou sonhos, uma vez que comprar uma morada própria para o seu pai.
“As políticas públicas dão oportunidade para que alguém que não tinha o que manducar recta possa se tornar uma desportista. Existem coisas que precisam melhorar, mas, se hoje eu tenho um teto e uma morada para morar, preciso agradecer muito ao esporte e à possibilidade que eu tive de trabalhar uma vez que desportista por mais de 20 anos”, alegra-se.
Natividade: BdF Minas Gerais
Edição: Ana Carolina Vasconcelos
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