Nesta sexta-feira (13), indígenas do povo Guarani Kaiowá estão cercados pela Polícia Militar (PM) do Mato Grosso do Sul em uma dimensão da Terreno Indígena (TI) Nhanderu Marangatu, que está sobreposta pela Rancho Barra, na cidade de Antônio João (MS).
Na quinta-feira (12), os indígenas retomaram esta segmento de seu território tradicional e foram atacados pela PM. Uma mulher e dois homens se feriram e, segundo o Recomendação Indigenista Propagandista (Cimi), um deles está hospitalizado. A Força Vernáculo se deslocou para a região.
Os Guarani Kaiowá seguem resistindo na retomada e a sede da herdade, de propriedade de Roseli Maria Ruiz e Pio Queiroz Silva, está protegida pelas forças policiais.
Em um vídeo que mostra os indígenas separados das viaturas da PM exclusivamente por alguns galhos incendiados, uma mulher fala, com indignação: “A gente tem que ocupar, é nossa localidade mesmo, é nossa localidade. Minha mãe morreu cá, a minha avó morreu cá!”.
Horas depois da repressão policial, uma decisão da 1ª Vara Federalista de Ponta Porã, assinada às 19h45 desta quinta-feira (12), determinou a manutenção “do policiamento ostensivo na localidade”.
Neste momento, uma delegação de entidades indigenistas e de resguardo dos direitos humanos está na região. Entre elas, o Cimi, a Percentagem Pastoral da Terreno (CPT), a Rede de Pedestal e Incentivo Socioambiental (Rais) e a Percentagem Arns, que enviou entre seus representantes a antropóloga Manuela Carneiro da Cunha.
Em nota, a comitiva denuncia o ataque das forças de segurança contra os Guarani Kaiowá e considera que a decisão judicial autoriza “a atuação da polícia estadual do Mato Grosso do Sul em proteção à propriedade privada” e legitima a violência contra os indígenas.
Ao Brasil de Traje, a Secretaria de Segurança Pública do governo estadual de Eduardo Riedel (PSDB) informou que a polícia se dirigiu ao sítio por conta de um incêndio que destruiu uma dimensão de vegetação e uma ponte.
“Apuração prévio aponta que o queima foi provocado por alguns indígenas”, diz a pasta, completando que os policiais foram recebidos “com flechas envenenadas”. Por isso, “houve reforço no policiamento, inclusive com envio de equipes do Batalhão de Choque, que permanecerão no sítio, por mandamento judicial, a termo de evitar confrontos”.
TI Nhanderu Marangatu
A Terreno Indígena Nhanderu Marangatu tem 9.570 hectares e já teve a demarcação homologada em março de 2005. Meses depois, no entanto, uma decisão liminar do portanto ministro do Supremo Tribunal Federalista (STF), Nelson Jobim, suspendeu a demarcação. O ministro atendeu a um mandado de segurança proposto pelo quinteiro Pio Silva e outros 15.
Há quase duas décadas o povo Guarani Kaiowá avança, com retomadas, sobre o seu território antigo e reivindica que o processo demarcatório da TI Nhanderu Marangatu seja refeito.
A última tentativa de retomar a dimensão de 1,3 milénio hectares da Rancho Barra foi em agosto de 2015. Na ocasião, um ataque feito por uma comboio de murado de 40 fazendeiros culminou no assassínio, com um tiro na cabeça, da liderança indígena Simão Vilhalva.
Edição: Martina Medina
Discussion about this post