Depois murado de 90 dias trabalhando em ações de atendimento emergencial e mapeamento de atingidos pelas fortes chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul nas áreas rurais em maio, os voluntários e voluntárias da Missão Sementes de Solidariedade começaram, esta semana, a entrega de kits de sementes e mudas aos pequenos agricultores e agricultoras cadastrados. O objetivo é reformar os cultivos de subsistência de camponeses de matriz familiar afetados pela tragédia.
A campanha solidária conta com a participação de 23 organizações entre movimentos populares e pastorais, cooperativas, pastorais religiosas, sindicatos e organizações populares e está mobilizando recursos e doações. Porém, segundo os organizadores, já há condições para iniciar, de forma satisfatória, os primeiros retornos às áreas atingidas.
“A primeira período foi justamente lançar a arrecadação de doação de recursos e de sementes, enquanto os voluntários percorreram os territórios atingidos, visitando as famílias e fazendo os cadastros”, explica Frei Sérgio Görgen, diretor do Instituto Cultural Padre Josimo e um dos idealizadores da missão.
“Nessa jornada, em contato com nossos irmãos e irmãs atingidos e atingidas nós nos transformamos, vamos nos tornando mais sensíveis, mais solidários. Vamos compreendendo que a semente é um símbolo mais relevante do que a sua representação física. Ela representa uma espécie de ressurreição: assim porquê uma semente vai para a terreno, nasce e frutifica, a pessoa atingida também precisa renascer, se reconstruir, se refazer depois dessa situação difícil que viveu.”
Duelo requer grande capacidade solidária
A segunda período, explica Görgen, foi a mobilização das sementes, mudas, ramas e demais itens que vêm de diferentes locais. Elas precisam ser organizadas e preparadas para chegar até os atingidos e atingidas. “É um repto logístico muito grande, um material frágil que precisa ser muito zelo, transportado, pronto e embalado, receber as orientações para sua utilização correta. É um trabalho taciturno que muitas vezes não aparece, mas que envolve muita gente e que, mais uma vez, desperta a urgência de uma grande organização e de uma grande capacidade solidária.”
Agora, na terceira período, as sementes chegam até as famílias, nas comunidades. “Mas é importante a gente expressar que o trabalho não se encerra cá. A mobilização continua e precisamos continuar chamando a todos e todas que estão dispostas a seguir contribuindo ou trabalhando para seguirem ativos conosco porque o repto a ser superado ainda é muito grande”, conclui.
Até o momento a campanha arrecadou, por meio de doações financeiras, murado de R$ 1,2 milhão. Estes valores ficam sob gestão da Cáritas, organização de ação social vinculada à Conferência Vernáculo dos Bispos do Brasil (CNBB).
Entre aquisições e doações, foi mobilizada a quantia totalidade de 45 milénio quilos de sementes de milho (crioulo e varietal), 15 milénio quilos de sementes de feijoeiro (preto e carioca), 6 milénio quilos de sementes de arroz de sequeiro, 1,8 milénio quilos de sementes de arroz irrigado, 33 milénio sachês de sementes de hortaliças diversas, 2 milénio quilos de sementes de pastagens, 6 milénio mudas de pastagens perenes, 6 milénio mudas de batata-doce de diversas variedades para multiplicação, 6 milénio fetiches de ramas de mandioca e 100 milénio mudas de árvores frutíferas e nativas.
Jacira Ruiz, da Cáritas RS, expressa seu gratulação para as “empresas, pessoas, movimentos e organizações sociais que acreditaram na proposta de levar sementes, esperança e solidariedade a tantas famílias que ficaram devastadas a partir dos desastres de setembro de 2023 e de abril de 2024”.
Ela explica que a campanha atual superou a edição passada. Ainda assim, é preciso levar em conta que os desafios atuais estão sendo muito maiores. “Esse tempo, findando o inverno e iniciando a primavera, é tempo de semear. É tempo de esperançar no coração das famílias que vivem da lavradio familiar. Por isso, nas próximas semanas vamos estar fazendo um esforço intenso de entregas nos municípios que foram visitados pelos voluntários e voluntários dessa missão.”
“Ainda há muito soalho a ser percorrido”
O trabalho de campo até agora envolveu mais de 150 voluntários e voluntárias, que percorreram mais de 250 comunidades em 23 municípios gaúchos, chegando próximo a 3 milénio famílias visitadas. “Ainda há muito soalho a ser percorrido, muitos atingidos e atingidas onde ainda não conseguimos chegar para preencher os cadastros e ter conhecimento das necessidades. E queremos ressaltar que o início das entregas dos kits não significa que os esforços de visitação vão sobrestar, continuaremos percorrendo as estradas e chegando nos territórios até que tenhamos força e recursos para fazer”, garante Frei Sérgio.
Os últimos dias têm sido de muito trabalho na Unidade de Beneficiamento de Sementes Crioulas Gilberto Tuchtenhagen, estrutura mantida pela Cooperativa Origem Camponesa e pelo Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) em Encruzilhada do Sul (RS).
Josuan Schiavon, dirigente responsável pela unidade, explica que ali estão sendo realizados os processos de recebimento e preparação das sementes crioulas produzidas pelos guardiões e guardiãs vinculados aos movimentos camponeses, muito porquê estão sendo recebidas e armazenadas as sementes que têm sido adquiridas pela campanha ou doadas por empresas por meio de remessas de todo país. Ali as sementes são separadas, preparadas, embaladas e recebem as orientações técnicas adequadas para serem enviadas aos agricultores.
As primeiras entregas aconteceram nesta semana para os municípios de Arroio do Meio, Travesseiro e Gramado Xavier. Em todos os atos de entrega dos kits de sementes e mudas aconteceram atos de partilha e benção das sementes, muito porquê apresentações culturais. Foi realizado também um seminário sobre ervas medicinais e saberes tradicionais.
Vinte e três organizações participantes
Tendo em sua cabeça de rede a Cáritas, o MPA e o Instituto Cultural Padre Josimo (ICPJ), a Missão Sementes de Solidariedade vem agregando o espeque de diferentes organizações desde o início de sua atuação. Atualmente conta com a participação das seguintes entidades e movimentos:
Movimento dos Atingidos e das Atingidas por Barragens (MAB), Percentagem Pastoral da Terreno (CPT), Diocese de Santa Cruz do Sul, Rede de Agroecologia Ecovida, Pronunciação pela Economia de Francisco e Clara, Gritos dos Excluídos, Instituto Conhecimento Liberta (ICL), Instituto Koinós, Freis Franciscanos (Serviço Justiça Sossego e Integridade da Geração), Serviço Xabregano de Solidariedade (Sefras), Sindicato dos Petroleiros (Sindipetro-RS), Canoas Tec, Movimento dos Trabalhadores e das Trabalhadoras Sem Teto (MTST), Instituto Brasílio do Meio Envolvente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e Eletrobras. Também fazem secção da missão as cooperativas Certel, Cooperbio, Origem Camponesa, Coptil e Creluz.
Campanha de arrecadação segue em curso
Doações podem ser encaminhadas para o PIX da Cáritas, com a chave: 33654419.0010-07 (CNPJ). Outra possibilidade de colaboração se dá por meio de repositório bancário para a Conta Fluente: 55.450-2 / Filial 1248-3 (Banco do Brasil).
Os recursos e a mobilização estão sendo diretamente administrados pelo escritório regional da Cáritas no Rio Grande do Sul, que realiza prestações de contas.
Manadeira: BdF Rio Grande do Sul
Edição: Marcelo Ferreira
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