Depois de organizar um mutirão comunitário a termo de preparar a terreno para o plantio ou para a colheita, o anfitrião oferecia aos presentes um dança de fandango que reunia danças e músicas tocadas com instrumentos artesanais, uma vez que a viola, a machete (uma viola em tamanho menor), a rabeca e o adufo (pandeiro).
O rotina de séculos detrás foi muito presente no litoral Sul e Sudeste do País. Em Cananeia, último município litorâneo paulista antes do Paraná, a tradição foi vigorosa. Foi, porém, se extinguindo pela desunião da forma de viver daquela comunidade em meados do século pretérito.
Ainda assim, o evento se manteve vivo nos festejos da cidade, uma das primeiras fundadas pelos portugueses no Brasil. O livro Amanhece! Patrimônio, Memória e História do Fandango Caiçara em Cananeia (editora Same Same; 124 páginas), feito a partir da lei de incentivo PROAC, relata a história de sete grupos de fandangos ainda existentes na região, além de focar em mestres e mestras ligados à tradição.
A obra do educador Cleber Rocha Chiquinho, da jornalista caiçara Catharina Apolinário de Souza e do pesquisador de cultura caiçara Fernando Oliveira Silva foi lançada há algumas semanas no formato impresso. Trata-se de um registro necessário.
As tradições culturais no País têm estreitas relações com atividades laborais do pretérito. Há poucos registros, em universal, dessas manifestações. Esses acontecimentos do povo simples sempre foram sobrepostos, ao longo do tempo, às realizações culturais promovidas pela escol.
A máxima de que a história do País foi contada pela ótica do colonizador ou do controlador dos meios de produção também teve possante efeito nos relatos sobre danças e músicas tradicionais, principalmente aquelas estabelecidas longe dos grandes centros urbanos.
Isso só mudou quando pesquisadores independentes começaram a buscar, no início do século pretérito, a história da cultura brasileira surgida sob influência de índios, negros e europeus (caso do fandango).
Exalta-se a teoria de o livro mostrar um pedaço do legado cultural do País.