Dezenas de milhares de libaneses deslocados pelos bombardeios de Israel iniciaram, nesta quarta-feira (27), o retorno para suas casas, graças a um cessar-fogo estabelecido na terça (26) em seguida dois meses de ataques.
“Ontem foi uma das noites mais horríveis, mais difíceis e mais fortes que já passamos”, relatou ao Brasil de Roupa a professora de história libanesa Yana Samarani, sobre a espera pelo cessar-fogo enquanto os bombardeios continuavam na terça.
Moradora da capital, Beirute, Samarani e sua família mudavam de abrigo continuamente para fugir dos ataques israelenses e agora podem, finalmente, retonar à sua morada. “Dependendo da situação, dos ataques e dos bombardeios, não dormíamos em nossa morada. Eu, meu marido e nosso fruto pesquisamos lugares onde a situação era mais segura. Voltei para minha morada e tive a sensação pela primeira vez, desde os últimos dois meses, que posso dormir sem checar as notícias e sem saber onde estará a explosivo ou onde será o ataque.”
A trégua, em vigor desde as 4h locais (23h de terça-feira pelo horário de Brasília), interrompe um conflito que deixou milhares de mortos e 900 milénio deslocados no Líbano, além de dezenas de milhares de evacuados no setentrião de Israel. Segundo as autoridades libanesas, pelo menos 3.823 pessoas morreram no país devido a leste conflito, a maioria delas desde setembro. Do lado israelense, 82 soldados e 47 civis morreram em 13 meses, desde o início do genocídio em Gaza, segundo as autoridades do país.
“A coisa mais incrível que vi foram as pessoas saindo das escolas, empacotando seus pertences, famílias arrumando suas coisas nos carros, prontas para se mudar. Algumas já estavam esperando nas estradas às 4h30, 5h da manhã para ir para o sul, verificar suas casas, ver se a morada ainda estava de pé”, relata Samarani.
O projecto acordado prevê uma retirada progressiva durante 60 dias dos combatentes do Hezbollah e das tropas israelenses do sul do Líbano, na fronteira com Israel, para permitir a mobilização do tropa libanês. A euforia do retorno, é acompanhada pelo pânico da ruína deixado pelos ataques.
“As pessoas estão indo para o sul para verificar suas casas, seus vilarejos. A situação lá não é muito boa. A região mais destruída é a que fica na fronteira. Espero que eles encontrem uma maneira de consertar suas casas e os vilarejos. Não há Internet, não há estradas, não há eletricidade para reconstruir tudo muito rapidamente e iniciar de novo”, diz Samarani.
“As pessoas do Sul têm sua história com as ocupações, já passaram por isso muitas vezes. Mudaram-se, foram deslocados de suas casas. Falamos sobre 1977, 1979, 1982, 1996 e mais e mais até 2006. Eles têm esse sentimento. Eles não querem trespassar de suas casas porque, uma vez fora, nunca mais voltarão.”
Edição: Rodrigo Durão Coelho