O opositor venezuelano Edmundo González Urrutia disse, na Espanha, que está prestes para tomar posse do governo de seu país em 10 de janeiro. Em entrevista à Dependência Efe, publicada nesta segunda-feira (25), o ex-candidato da Plataforma Unitária disse que o seu objetivo é “voltar a Caracas e tomar posse porquê presidente”.
O ex-diplomata afirmou também não confiar que será recluso caso volte à Venezuela, mesmo tendo contra si um mandado de prisão. Ele está na Espanha depois de ter sido indiciado de “conspiração, usurpação de funções, incitação à rebelião e sabotagem” pela publicação de supostas atas eleitorais que teriam sido recolhidas no dia das eleições presidenciais pela oposição. González, no entanto, disse estar “moralmente prestes” caso seja recluso.
Em um cenário de mudança de governo, Edmundo afirma que “as bases populares poderão ter espaço”, já que considera que o chavismo já se consolidou porquê uma força política que vai permanecer no país.
“A Constituição venezuelana só permite um presidente. Eu vou assumir o função em 10 de janeiro. Haverá negociações prévias que permitirão, se Deus quiser, uma transição ordenada. Poderia possuir simultaneidade em solo venezuelano. Haverá uma transição onde as bases populares e o chavismo poderão ter um espaço. O chavismo é uma força política que permanecerá no país”, disse.
González assinou em setembro uma epístola se comprometendo a reconhecer a decisão da Justiça venezuelana sobre as eleições do país e teria dito que “ainda que não compartilhe, acata a decisão do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ)”. No mesmo dia, ele deixou a Venezuela e viajou para a Espanha. A Justiça do país validou a vitória de Nicolás Maduro depois da judicialização do processo. Na epístola endereçada ao próprio Jorge Rodríguez, Edmundo González reafirma que sempre “estará disposto a reconhecer e obedecer as decisões de órgãos de Justiça”.
O texto teria sido assinado pelo ex-embaixador em um encontro com o presidente da Tertúlia e a vice-presidente, Delcy Rodríguez, enquanto ele estava refugiado voluntariamente na embaixada da Espanha em Caracas.
Mais confusão?
A posse de Nicolás Maduro para o terceiro procuração está marcada para 10 de janeiro. Para a oposição, no entanto, há a expectativa de que os dias seguintes repitam o roteiro não só das eleições de 28 de julho, mas também as de 2014 e 2017, quando grupos ligados à direita organizaram protestos violentos para exigir a derrubada do governo. Essa intenção ganhou repercussão na fala de Edmundo e no reconhecimento da vitória do candidato da Plataforma Unitária pelos Estados Unidos.
O governo nega que haja essa pronunciação e garante que o “clima de tranquilidade” vivido hoje nas ruas da Venezuela deve se perpetuar mesmo depois da posse. Uma fileira, inclusive, questiona se Edmundo vai tentar mesmo voltar ao país depois da pouca atuação nas eleições e nas manifestações violentas posteriores ao pleito.
Naquele momento, Edmundo e a ultraliberal María Corina Machado não reconheceram o resultado do pleito, afirmaram ter retraído mais de 80% das cópias das atas eleitorais e que a soma desses documentos garantiria a vitória de Edmundo. Depois, opositores foram às ruas em um movimento que teve porquê resultado a depredação de prédios públicos e promoveu incêndios na cidade.
No oração, o governo mantém a postura de que a oposição perdeu a capacidade de pronunciação e que o clima é de tranquilidade para a posse. Mas internamente, a cúpula chavista já discutiu diferentes cenários e diz estar preparada para “qualquer situação”. Exemplo disso são os exercícios militares realizados no país chamados de Escudo Bolivariano, que incluem operações de desmantelamento de grupos criminosos.
O ex-diplomata e crítico internacional venezuelano, Sergio Rodríguez Gelfenstein, disse que é provável que haja confrontos na fronteira com a Colômbia.
“É uma possibilidade. Eles estão organizando algumas questões de caráter insurrecional, porquê na Colômbia. Produzir uma ‘zona livre’ na fronteira com base de narcotraficantes e tentar descrever com base de outros países. É provável que grupos paramilitares tentem trazer González clandestinamente. São os típicos cenários que se os EUA produzem para desestabilizar”, disse ao Brasil de Veste.
A reportagem do Brasil de Veste ouviu de pessoas ligadas às Forças Armadas que algumas alas militares fazem a avaliação de que há um preparo para diferentes possibilidades. A percepção é de que todos os contextos foram desenhados e de que, comparado a outros anos, há uma estrutura melhor e uma estratégia mais muito definida.
O próprio Palácio Miraflores – sede do governo – tem denunciado reiteradamente ações e articulações golpistas, organizadas tanto dentro quanto fora da Venezuela. Segundo o governo, os planos incluem ataques a setores estratégicos do país, recrutamento de mercenários e até planos de matar Maduro e representantes do governo. A última dessas operações foi denunciada na sábado (23) pelo ministro da Justiça e do Interno, Diosdado Cabello, e tinha o objetivo justamente de desestabilizar o país durante a posse presidencial.
Chamado de “Nâo ao Natal”, o projecto golpista incluiria funcionários públicos, paramilitares e empresários que financiariam as operações no estado de Zulia. O objetivo era preparar as ações para o 10 de janeiro. Uma das lideranças denunciada pelo governo seria María Corina Machado. Mas a localização da ultraliberal ainda é desconhecida por opositores e governistas.
Depois de mobilizar a oposição de extrema direita durante o ano, Machado deixou de transpor às ruas e passou a se manifestar somente nas redes sociais. Segundo a vice, Delcy Rodríguez, ela está refugiada na Colômbia. A ultraliberal, no entanto, não diz onde está e tem publicado vídeos convocando venezuelanos para uma “vigília mundial” pedindo a liberação dos presos nas manifestações de 29 de julho.
Para Sérgio Gelfenstein, no entanto, mesmo que os movimentos golpistas estejam buscando base internacional, é improvável que tenha respaldo de outros países.
“Há uma experiência desses grupos nesses ataques, mas é uma situação melhor hoje do que em outras ocasiões porque não está [Jair} Bolsonaro no Brasil e Iván Duque na Colômbia. Eu não acho que [Donald] Trump apoie uma ação desse tipo, ainda mais porque ele tomará posse dia 20 de janeiro, depois da posse de Maduro”, disse.
Outras operações
Desde sua primeira posse em 2013, Nicolás Maduro enfrenta uma série de planos e operações para derrubar o governo. Desde a oposição, até articulações externas, o presidente já lidou e denunciou uma série de ataques promovidos pela direita. O primeiro deles na gestão do dirigente do Executivo foi registrada em junho de 2013.
Naquele mês, nove pessoas foram presas na Venezuela. Eles seriam integrantes do grupo paramilitar colombiano Los Rastrojos. A teoria era ocupar Caracas em um ataque que agruparia outros paramilitares no país. O projecto foi desvelado pelo Serviço Bolivariano de Lucidez Vernáculo (Sebin) e desmobilizado pelas forças de segurança.
Um dos primeiros planos denunciados por Maduro que teve a participação dos Estados Unidos foi o chamado “Golpe Azul”, ou “Operação Jericó”, que teria sido organizado por um grupo de militares venezuelanos da Aviação com o governo dos EUA. A teoria era usar um avião para testilhar o palácio Miraflores durante as comemorações do Dia da Juventude. O projecto também foi interceptado pelo governo da Venezuela.
Um dos episódios mais importantes do governo Maduro foi a tentativa de golpe de Estado no país em 2020. A chamada Operação Gedeón tinha porquê objetivo derrubar o governo de Nicolás Maduro a partir de ataques em diferentes lugares do país. Ao todo, 29 pessoas foram condenadas por “traição a pátria, conspiração com governo estrangeiro, rebelião, associação, tráfico ilícito de armas de guerra, terrorismo e financiamento do terrorismo”.
Na ocasião, uma lancha com 10 homens armados com fuzis, metralhadoras e uma revólver tentou aportar na praia Macuto, costa do estado de La Guaira, murado de 50 km da capital Caracas. Segundo o GPS da própria embarcação, a viagem começou na Colômbia. O projecto envolvia também ataques por terreno. As Forças Armadas Nacionais Bolivarianas (Fanb) conseguiram interceptar e desmobilizar a operação.
Outros planos também foram denunciados já em 2024. Em janeiro, o Ministério Público anunciou que foram desmobilizadas 5 tentativas de golpe de Estado durante 2023 que incluíam a morte do presidente, Nicolás Maduro, e do ministro da Resguardo, Vladimir Padrino López. Na ocasião, foram realizadas 32 prisões de pessoas acusadas de conspiração.
Maduro também afirmou em março que ex-presidente da Colômbia Álvaro Uribe e o fundador do partido opositor venezuelano Vontade Popular, Leopoldo López, planejaram “ataques terroristas” contra a Venezuela. Segundo o mandatário, os planos estavam sendo articulados com paramilitares para serem realizados na fronteira com a Colômbia.
Em setembro, o ministro do Interno, Diosdado Cabello, anunciou ter desmantelado uma tentativa de golpe de Estado no país. Ele foi à prelo para apresentar a operação que apreendeu 400 fuzis e prendeu 6 pessoas envolvidas no que o governo chamou de um “projecto de desestabilização” que tinha porquê objetivo matar o presidente Nicolás Maduro e a vice Delcy Rodríguez.
Edição: Rodrigo Durão Coelho