Nesta segunda-feira (25), a Universidade de Pernambuco (UPE) comemora seu natalício de 59 anos. Porquê secção das celebrações, a instituição de ensino pública estadual entregará diplomas a estudantes e servidores que foram perseguidos pela ditadura civil-militar que governou o Brasil de 1964 a 1985, idade em que a UPE se chamava Instalação de Ensino Superior de Pernambuco.
Uma das homenageadas é Rosane Alves Rodrigues, que cursava medicina na universidade e integrava o Diretório Médio dos Estudantes (DCE), quando entrou na mira dos militares e precisou entrar na clandestinidade, fugindo em seguida para o Chile e a Dinamarca. O longo período de repressão no Brasil a impediu de retornar para concluir o curso. O diploma in memorian será entregue aos familiares de Rosane, reconhecendo sua luta por democracia, liberdade e Direitos Humanos.
Também serão homenageados com o “Diploma da Resistência” servidores e ex-alunos que concluíram seus cursos, mas também contribuíram com o enfrentamento ao regime ditatorial. A lista de diplomados tem três servidores: Enildo Galvão Carneiro Pessoa (ex-docente de engenharia), Javan Seixas de Paiva (ex-docente de odontologia) e Severino Vitorino de Lima, ex-servidor técnico-administrativo da FOP.
Além de Rosane, outros oito estudantes serão diplomados: os estudantes Francisco de Sales Gadelha de Oliveira (estudante de medicina), José Romualdo Rebento (medicina), José Luiz de Oliveira (medicina), Paulo Santos Carneiro (medicina), Maria Zélia de Sousa Levy (odontologia), Rildege de Acioli Cavalcanti (odontologia), Ilmar Pontual Peres (governo) e José Almino Arraes de Alencar Pinho (engenharia).
A reitora da UPE, Maria do Socorro Cavalcanti, afirma que a homenagem é uma forma de reafirmar o compromisso da instituição “com a democracia e a liberdade de pensamento”. “A diplomação e homenagem promovida pela UPE é um ato de justiça àqueles que lutaram pela democracia em nosso país”, completou a professora e farmacêutica. As homenagens foram aprovadas pelo Juízo Universitário da UPE no mês de outubro.
O professor Carlos Moura celebra a ação “de reparação e justiça” promovida pela universidade. “A partir de um delicado levantamento documental chegamos aos 12 nomes de estudantes e servidores que atuaram ativamente pelo retorno da democracia em nosso país”, diz ele, que é historiador, coordenador de pesquisa e professor do curso de História no Campus Nazaré da Mata da instituição.
Os nomes surgiram a partir da pesquisa do próprio Carlos André Moura para ortografar um livro sobre a história da UPE, processo que revelou uma série de nomes envolvidos na resistência ao regime militar. Para a confirmação das informações, foram realizadas entrevistas e houve imposto de órgãos públicos, movimentos populares e do grupo Tortura Nunca Mais. “Somos netos, filhos, esposas, esposos e avós que buscamos o recta de enterrar os nossos mortos. É muito bom saber que a UPE está ao nosso lado, reforçando a democracia em nosso país”, disse Apoio Araújo, do Tortura Nunca Mais.
A cerimônia tem início às 9h, no auditório Clélio Lemos, da Faculdade de Gestão e Recta (Fcap/UPE), no bairro da Madalena.
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Edição: Vinícius Sobreira