O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Médio (BC) deve aumentar novamente a taxa básica de juros da economia pátrio em suas próximas reuniões sobre o tema marcadas para leste ano. A possibilidade está indicada na ata do último encontro do grupo, divulgada nesta terça-feira (24) pelo próprio BC.
Essa reunião na semana passada, o Copom decidiu sublevar a Selic de 10,5% ao ano para 10,75% ao ano.
O aumento foi definido por unanimidade pelos nove membros do Copom. Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para assumir a presidência do BC em 2025, também votou pela subida.
Segundo a ata, os membros do Copom decidiram pela elevação considerando os riscos de a inflação no Brasil se distanciar do núcleo da meta estabelecida para 2024.
Hoje, o Índice de Preços ao Consumidor Vasto (IPCA) acumula subida de 4,2% em 12 meses. O núcleo da meta para o índice é de 3%. Existe, no entanto, uma tolerância de até 1,5 ponto para mais ou para menos. Caso a inflação feche o ano em até 4,5%, portanto, ela estaria dentro dos limites estabelecidos.
O Copom, porém, indicou que isso não é suficiente. Por isso, novos aumentos de juros tendem a ocorrer. “O ritmo de ajustes futuros na taxa de juros e a magnitude totalidade do ciclo [de aumento das taxas] ora iniciado serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerão da evolução da dinâmica da inflação”, registrou o comitê.
Até onde?
Considerando a decisão do Copom, bancos elevaram ainda mais sua expectativa sobre a Selic nesta semana. Segundo o Boletim Focus, até a semana passada, eles estimavam que a taxa básica fecharia 2024 em 11,25% ao ano. Agora, já esperam que suba até 11,5%, sendo que alguns estimam 11,75% ao ano.
Há quatro semanas, a previsão era de Selic em 10,5% ao final do ano.
Para Andrew Storfer, diretor do Núcleo de Economia da Associação Vernáculo dos Executivos de Finanças, Governo e Contabilidade (Anefac), a mudança das estimativas dos bancos sobre a Selic é um movimento proveniente. Segundo ele, quando um banco meão muda a trajetória de uma taxa básica de juros, ele muda um ciclo que tende a resistir um notório tempo.
“Com certeza virão outros aumentos. Em que intensidade e com qual alcance, até onde, a gente ainda não sabe”, afirmou ele.
Weslley Cantelmo, economista e presidente do Instituto Economias e Planejamento, reforçou a previsão de subida fundamentado inclusive na ata da última reunião do Copom. “A ata indica novas altas de juros, num ciclo que pode ser até vigoroso”, afirmou ele.
É para tanto?
Cantelmo vê notório excesso nas visões do Copom sobre os riscos inflacionários. Diz ainda que a elevação dos juros não é a melhor forma de se combater a inflação no Brasil, visto que hoje os preços estão pressionados por uma seca, que independe da ação do BC.
O economista Eric Gil Dantas, do Instituto Brasílio de Estudos Políticos e Sociais (Ibeps), também não vê motivos para o Copom sublevar os juros e mantê-los em patamar tão saliente.
“A inflação está inferior do teto da meta; centrada nos mantimentos, cuja influência dos juros é quase nula; e ainda houve um incisão de meio 0,5 nos juros dos EUA”, enumerou ele, citando dados ignorados pelo Copom.
E por que sobe?
Pedro Faria, economista, acredita que o Copom dá muita valimento para as expectativas sobre inflação e juros em suas decisões.
Essas expectativas, disse eles, estão registradas no Boletim Focus. O boletim é elaborado praticamente só com previsões de bancos, que historicamente preveem cenários piores para governos de esquerda.
O governo ratificou na segunda-feira (23), por exemplo, que vai conseguir satisfazer a meta de zerar o déficit das contas públicas ainda em 2024. Bancos, no entanto, continuam prevendo que isso não vai ocorrer, faltando menos de quatro meses para o término do ano.
O Copom considerou essa suspeição ao sublevar os juros. “Notou-se que a percepção mais recente dos agentes de mercado sobre o desenvolvimento dos gastos públicos”, registrou o Copom, quando os gastos públicos estão dentro da média histórica.
Galípolo resolve?
Indicado por Lula para chefiar o BC e, portanto, o Copom, Galípolo não registrou na ata da reunião do comitê qualquer divergência sobre a visão preponderante do órgão sobre a economia. Para Cantelmo, isso pode ser uma estratégia dele para reduzir “ruídos” na saída de Roberto Campos Neto da presidência do BC.
Dantas, do Ibeps, já desconfia que Galípolo pode se tornar um problema para o governo Lula, que sempre defendeu juros mais baixos. “Galípolo vem indicando que manterá a política monetária do Campos Neto. Isso colocará o governo Lula em uma ‘sinuca de ponta’, pois seu próprio presidente nomeado passará a tentar desacelerar a economia e torrar numerário público, jogando chuva nos dois maiores esforços atuais do governo: colocar as contas no azul enquanto faz a economia crescer”, previu.
Edição: Nicolau Soares
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