São Paulo — Nascida em Santo André, no ABC paulista, Tati Leite trabalha atualmente com efeitos especiais no Estúdio de Animações da Disney, em Hollywood, nos Estados Unidos — um sonho de puerícia que se tornou projeto de vida e, depois, virou verdade.
Em entrevista ao Metrópoles, Tati contou que o caminho até a maior potência cinematográfica do mundo foi marcado por muito estudo e trabalho, mas ela garante que todo o sacrifício valeu a pena. Sua trajetória acadêmica inclui o curso de engenharia da computação e o mestrado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no interno de São Paulo.
Alguns dos filmes que marcam o portfólio de Tati são O Rei Leão, Capitã Marvel, Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald, Missão Impossível: Fallout, Varão-Formiga e a Vespa e Mufasa, que ainda será lançado.
A paulista explicou ao Metrópoles porquê é o dia a dia de quem trabalha na extensão. “Efeitos especiais são meio que um mistério. É tudo que é feito na tela e que não é procedente. Por exemplo: se o ator vai cozinhar uma repasto, ele liga o fogão. Se o fogão acende normal, tem zero efeito próprio, aconteceu naturalmente. Se ele acende o fogão, e uma superchama vai até o teto, portanto tem efeitos especiais”, disse.
“A gente pode modificar o fogão para ele fazer essa superchama na frente da câmera ou a gente pode fazer digitalmente no computador. A minha secção é no computador. Eu faço, eu brinco com as coisas, crio coisas usando o computador”, contou Tati.
Trabalhar em um filme da Disney era, para Tati, porquê “zerar a vida”, um “símbolo de realização”. O libido veio na puerícia, particularmente assistindo ao filme A Bela e a Fera. “O que me chamou a atenção no filme foi aquela cena principal, em que a Bela está dançando com a Fera, que é lindo, que é romântico e que todo mundo nutriz a música. Eu estava interessada em saber porquê é que a animação era espelhada no soalho de mármore”, contou.
A engenheira percebeu, a partir daí, que queria seguir essa curso e começou a buscar, no Manual do Estudante, o que se assemelhava a isso. Foi quando se lembrou de um idoso professor que lhe contou sobre computação gráfica. “É um jeito de manter o meu sonho vivo”, pensou na ocasião. “Na Unicamp, eu peguei todas as matérias de processamento de imagens, jogos e até pedi autorização no Instituto de Artes para pegar matérias de animação. Tudo o que tinha a ver com imagem, eu fui mantendo a labareda.”
Durante o mestrado, Tati teve a oportunidade de ir ao SIGGRAPH, uma conferência mundialmente famosa e uma das maiores e melhores em computação gráfica, em Los Angeles. “Lá eu descobri que tudo que eu sonhava e que eu queria realmente existia. Eu falava: ‘É isso portanto, o que eu quero existe e eu preciso vir para cá’”, pontuou. Três semanas depois tutelar o mestrado, ela voltava a Los Angeles.
“[Eu mudei para lá] com a faceta e a coragem. Não tinha zero”, brincou Tati. Ela revelou que, naquele ponto, não tinha a menor teoria de porquê ia se inserir nesse mercado. “Eu fui a uma conferência e era isso. Era tudo que eu tinha, uma mala e um sonho.”
Nos Estados Unidos, ela começou um curso de entretenimento e direção e passou a se voluntariar para todos os projetos que apareciam à sua frente. O primeiro filme que ela pôde colocar sua visão foi Varão-Formiga e a Vespa, da Marvel. O mestrado de Leite foi focado em atratividade facial, em que ela desenvolveu um sistema usando perceptibilidade sintético para melhorar a atratividade de rostos.
“Enquanto eu estava fazendo isso, nunca imaginei que isso e todo o meu estudo, todas as minhas pesquisas, toda a dedicação em relação a isso, fosse encontrar lá na frente. Quando eu fui chamada para trabalhar nesse estúdio, para fazer Varão-Formiga e a Vespa, eu fui chamada para rejuvenescer o Michael Douglas em 30 anos”, contou.
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“O que eu sabor, que é o meu queridinho de coração, é O Rei Leão (live action de 2019), obviamente”, avaliou Tati ao ser perguntada sobre o seu projeto predilecto. “Não é só porque é o meu filme de puerícia e porque eu sei de cor todas as falas. O Rei Leão veio mudar o paradigma do cinema. Ele une as coisas que eu mais sabor na vida: animação, tecnologia e Disney.”
Uma brasileira em Hollywood
A engenheira também contou sobre porquê é ser uma mulher, brasileira, trabalhando em Hollywood. “Porquê mulher, a gente já tem que entender que existe social e culturalmente uma diferença. E não sou eu, Tati, que estou falando. O Fórum Econômico Mundial disse que, para a gente atingir a paridade de gênero, ainda vão levar 130 anos. Ou seja, eu não vou estar nem mais viva quando isso intercorrer. Mas, sabendo que existe essa estrutura social, a gente entende e usa de outros meios para conseguir ocupar o espaço que seja necessário”, explicou Tati Leite.
Ela pontuou ainda que, mesmo já tendo participado de diversos projetos grandes, precisa provar o seu valor a cada vez porque “não está no perfil”. “Eu fiz engenharia, que já tem um número muito restringido de mulheres, e eu fui para efeitos especiais, que tem um número ainda mais restringido de mulheres”, disse.
Brasil X Estados Unidos
Mesmo trabalhando em Los Angeles, Tati faz questão e tem “o maior prazer” de vir para o Brasil e fazer uma ponte entre os dois países. Ela é uma das produtoras do Los Angeles Brazilian Film Festival (Labrff). “Acho muito importante essa troca”, avaliou.
“Quando eu estava buscando, sonhando e querendo esse caminho, não tinha nenhuma referência. Não tinha alguém que já havia feito, que já havia pretérito pelo caminho, que pudesse conversar comigo”, disse, sobre a oportunidade de poder voltar a São Paulo e dar palestras sobre a sua trajetória.
“Eu espero que, com a minha curso, com a minha jornada, eu faça isso não só por mim, mas por outras pessoas, abrindo oportunidades e portas para mostrar que a mulher, nesse mercado, dá conta, que faz e acontece também. E que a gente, porquê brasílio e porquê latino também, está de igual para igual”, frisou.