Eduardo Tagliaferro, ex-assessor do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e responsável pelo serviço de combate à desinformação nas eleições de 2022, tornou-se o foco de uma investigação relacionada ao vazamento de mensagens de auxiliares do ministro do Supremo Tribunal Federalista (STF), Alexandre de Moraes. Em entrevista ao Estadão, realizada por e-mail, Tagliaferro admitiu que teme ser recluso, mormente em seguida a inquietação de seu celular por ordem do ministro.
Na última quinta-feira, 22, Tagliaferro foi convocado a prestar prova à Polícia Federalista, ocasião em que negou qualquer envolvimento na divulgação das conversas. “Não faz sentido qualquer atrapalhar as investigações. Tenho interesse que os responsáveis pelo vazamento do meu telefone e a sua consequente inutilização sejam identificados e responsabilizados. Mas, apesar disso tudo, tenho terror sim”, revelou o perito.
Durante seu período de trabalho no TSE, entre agosto de 2022 e maio de 2023, Tagliaferro produziu diversos relatórios a pedido do gabinete de Alexandre de Moraes, a maioria deles envolvendo figuras ligadas à direita. Ele destacou que a orientação recebida era executar as ordens com rapidez e fornecer conteúdos robustos, sem possibilidade de recusa.
O celular do perito foi apreendido pela Polícia Social de São Paulo em maio de 2023, durante uma prisão em flagrante relacionada a um caso de violência doméstica. O aparelho permaneceu em posse das autoridades por seis dias, período durante o qual os investigadores buscam desenredar se houve entrada não autorizado ao dispositivo.
O boletim de ocorrência indica que o celular foi desligado na delegacia para preservar seu teor, com o uso de um lacre específico para prometer a integridade do aparelho. Todavia, Tagliaferro afirma que, ao receber o telefone de volta, notou que o procedimento de deslacre não foi respeitado, levantando suspeitas de manipulação. “Me parece bastante lógico que alguém manipulou o aparelho durante os seis dias”, afirmou.
Depois o retorno do aparelho, o perito constatou problemas de funcionamento, uma vez que travamentos e falhas na bateria, o que levou ao descarte do dispositivo. Ele explicou que o diagnóstico apontou danos à placa lógica do celular, tornando o reparo financeiramente inviável.
O direcção do celular permanece incerto, e as investigações continuam para esclarecer os eventos que ocorreram durante o período em que o dispositivo esteve sob custódia das autoridades. Veja inferior trechos inferior da entrevista e clique AQUI para ver na íntegra.
Quem o senhor acredita que pode ter vazado as mensagens?
Posso declarar que não tenho relação alguma com as informações retiradas de meu aparelho que ficou ilegalmente apreendido por seis dias. Caberá a investigação apurar e reconhecer a minha inocência. Espero que os responsáveis por mexer em meu celular sejam responsabilizados.
O senhor considera que houve pedidos indevidos do gabinete do ministro?
Não sou técnico para responder essa questão. Estava no TSE, as eleições foram um loucura. A fardo de trabalho absurda e havia uma chuva de demandas vindas de muitas pessoas. Muitas vezes tinha a sensação de que alguns pedidos não eram ligados às eleições ou com questões do TSE sim. Questionei meus superiores e me foi explicado que estava tudo visível, não havia problema nenhum e que era para seguir exclusivamente fazendo o meu trabalho. Não questionei e busquei fazer o meu melhor, sem maiores ponderações.
Espero que eles realmente estejam certos e não cometido nenhuma ilegalidade sendo induzido a erro. Se, eventualmente fiz um pouco falso, espero ter a oportunidade de me desculpar. Nunca quis prejudicar ninguém e exclusivamente executei o meu trabalho orientado por eles.
Qual era a orientação do ministro?
Executar as suas ordens com rapidez e teor robusto. Não existia selecção de expor não ou deixar de fazer o que era mandado. Várias vezes trabalhávamos de termo de semana, precisávamos voltar em emergência para trabalho presencial em Brasília. (Foto: reprodução redes sociais; Nascente: Estadão)
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