A esquerda brasileira, governo Lula (PT) avante, precisa politizar o debate e voltar a tensionar as relações, afirmou a CartaCapital o historiador João Cezar de Castro Rocha. Ele defende o que labareda de “ruptura democrática e institucional”, o que não se confunde com a trama golpista de bolsonaristas em 2022, mas diz reverência às reformas que o Brasil não conseguiu realizar desde o início dos anos 1960.
Segundo Rocha, o bolsonarismo tem prosperado em sua estratégia de politizar as mais diversas áreas do debate público, com triunfos até em eleições para conselhos tutelares, para o Juízo Federalista de Medicina e para seções da Ordem dos Advogados do Brasil.
“A extrema-direita há pelos menos 15 anos politiza sua presença no Brasil”, diz o historiador. “Precisamos voltar a tensionar politicamente. Precisamos fazer isso no Congresso e em todas as esferas.”
João Cezar de Castro Rocha concedeu uma entrevista ao via de CartaCapital no Youtube. Ele é responsável das obras Guerra Cultura e Retórica do Ódio (2021) e Bolsonarismo, da Guerra Cultural ao Terrorismo Doméstico (2023).
Para o professor, o PT perdeu uma oportunidade histórica de levar adiante essa política de “ruptura” durante os mandatos anteriores de Lula e o primeiro governo de Dilma Rousseff. Atualmente, com a radicalização e o desenvolvimento da extrema-direita, a esquerda no poder assume o papel de “administradora do caos”.
“A repolitização das políticas públicas e da informação é a única chave que a esquerda democrática possui no Brasil em 2025 e 2026”, resume. “É indispensável que Lula, o PT e o governo se utilizem de maneira mais frequente e estratégica do grande poder de informação do governo. O grande comunicante do governo é Lula.”
Rocha defende, por exemplo, que o presidente recorra com maior frequência às cadeias nacionais de rádio e televisão, a termo de explicar medidas uma vez que o reajuste real do salário mínimo, um progresso frente aos anos de Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL).
Por ora, critica, a informação do atual procuração de Lula não se distingue daquela de um hipótetico governo de Geraldo Alckmin (PSB). “É uma informação de terno e gravata, que faz piada lendo a piada o tempo todo.”
Uma informação mais afiada passa também, de concordância com o historiador, por uma inserção mais ativa no universo do dedo — sem, porém, disputar espaço nesses locais. Ele ressalta a urgência de estratégias distintas para plataformas diversas, a termo de chegar de maneira efetiva aos jovens do TikTok e aos usuários mais velhos do Facebook.
Assista à íntegra da entrevista: