O Rio de Janeiro sediou neste mês o Festival Memória do Cavaquinho Brasiliano, que acontece desde 2022. Em outubro, começarão as atividades de um grupo de estudos criado para debater temas relacionados ao instrumento. Por termo, em dezembro, haverá a inauguração da sede física do projeto em Vila Isabel.
No comando das iniciativas está Pedro Cantalice, o primeiro a receber o título de bacharel em cavaquinho no País, pela UFRJ. Naquela era, ele já havia iniciado o processo de coleta de gravações, partituras e fotografias sobre o instrumento. Também começou a ter contato com mestres do lasca.
“Um trajo que me chamava a atenção era que em quase todas as conversas eram citados nomes de figuras lendárias do cavaquinho. Personagens que não eram conhecidos pelos músicos da minha geração”, conta ele.
Entre esses nomes estão Tico-Tico, Pinguim, Nelson Miranda, Ary Valdez, Mané do Lasca e Julinho.
Um ror fundamental foi o do jornalista e historiador Miguel Ângelo de Azevedo, o Nirez, no qual Cantalice conseguiu ouvir pela primeira vez alguns daqueles cavaquinistas que conhecia somente pelo nome. Em 2018, quando se formou, decidiu compartilhar a trajetória do cavaquinho e de seus instrumentistas por meio de um via no YouTube, que logo recebeu um grande número de acessos.
Apesar de o cavaquinho ser um instrumento popular no Brasil, é pouco lembrando na história. “Penso que isso tenha relação com alguma tradição que o instrumento herdou. O violão e o bandolim, por exemplo, já tinham uma tradição europeia, com obras e estudos dedicados às suas técnicas.”
“O instrumento pode não ter sido lembrado na história, mas está presente na música popular desde seus primórdios”, ressalta. “Passou a se desenvolver a partir de um repertório popular, que muitas vezes não tem qualquer tipo de registro (musicográfico ou fonográfico), sendo estudado a partir da tradição verbal.”
“O cavaquinho brasílico foi um instrumento que se desenvolveu por cá, tanto no que se refere à segmento técnica quanto à sua construção.”
O pesquisador relata que o repertório melódico para o cavaquinho, no entanto, surgiu com os primeiros chorões, inicialmente com temas de polcas, valsas, quadrilhas e, posteriormente, maxixes e choros.
Na história, há escritos de 1822 sobre o mulato Joaquim Manoel da Câmara, com um talento vasqueiro no cavaquinho. Outros cavaquinistas de destaque, segundo o pesquisador, foram Mário Álvares Conceição – que chegou a ser professor de Pixinguinha -, o compositor Donga, Nelson Alves – do grupo Oito Batutas – e Waldir Azevedo – o mais divulgado de todos.
“Waldir foi um revolucionário. Digo isto porque, além de ser compositor de muitas obras musicais, algumas de grande sucesso, uma vez que Brasiliano e Frágil, estabeleceu novas técnicas e sonoridades para o instrumento.”
Segundo Pedro Cantalice, o cavaquinho protótipo Waldir Azevedo, de construção mais robusta e com melhor sonoridade, de certa forma padronizou o cavaquinho brasílico.
Atualmente, ele cita uma vez que referências no instrumento Alceu Maia, Henrique Cazes, Mauro Diniz e Luciana Rabello.
Cantalice afirma ter também bons estudos na liceu em torno do tema, tanto em pesquisa quanto em realização. “Uma mudança positiva que tenho percebido com o projeto Memória do Cavaquinho Brasiliano é o interesse pela história do instrumento.”
Ele conta que o festival que promove já teve a participação de grandes cavaquinistas, com Rabino Siqueira, Jayme Vignoli, Ronaldinho do Cavaquinho e Wanderson Martins, além de músicos de outros estados, uma vez que Messias Britto (BA), Leo Benon (DF) e Pablo Araújo (MG).
O festival, que além de shows oferece palestras e workshops, tem também uma edição em São João Del-Rei (MG), que acontecerá entre 31 de outubro e 2 de novembro.
A sede da Memória do Cavaquinho Brasiliano, com previsão de inauguração em dezembro, será em uma pequena sala no bairro Vila Isabel, na zona setentrião do Rio de Janeiro.
“Apesar de o nosso ror ser majoritariamente do dedo, uma coleção de métodos de cavaquinho, instrumentos musicais, modelos raros de cavaquinho, LPs, CDs, partituras e a minha livraria músico ficarão na sede”, explica. Aliás, o espaço deve receber palestras e cursos, além de permanecer destapado a pesquisadores.
Saiba mais sobre a Memória do Cavaquinho Brasiliano, inclusive uma vez que ajudar, no site solene.
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