Não bastasse o desgaste causado pela rotina de cirurgias e comitiva médico, a terapeuta Andrea Ferreira trava uma guerra para conseguir o reembolso de um vistoria pelo qual pagou R$ 1.322,51. “A SulAmérica reembolsou R$591,65. Logo, o que estou pleiteando é o complemento do reembolso, no valor de R$730,86”, diz.
Usuária do projecto de saúde SulAmérica desde 1999, Andrea era habituada a realizar os procedimentos médicos no Hospital AC Camargo, em São Paulo. Diagnosticada com lesões precursoras do cancro de úbere, ela passou por cinco cirurgias entre 2021 e 2022, quando soube, sem aviso prévio, que a unidade de saúde não faria mais secção da lista de credenciadas da SulAmérica. A partir daquele momento, Andrea teria que desembolsar altos valores pelos procedimentos que, até portanto, eram custeados pelo projecto.
“Nunca tive problemas com a SulAmérica até o segundo semestre de 2022, quando foi comprada pela Rede D’Or e os descredenciamentos em tamanho iniciaram”, conta. A terapeuta faz secção de um grupo de 55 pessoas que se uniram, via internet, para procurar suporte jurídico e emocional diante dos casos de descredenciamento de unidades e serviços de saúde por parte da operadora. Em 2023, Andrea registrou uma reclamação no serviço de ouvidoria da Dependência Vernáculo de Saúde (ANS), órgão responsável pela regulação dos planos de saúde.
Naquele ano, a sucursal registrou 29.462 queixas contra o grupo SulAmérica. Somente em julho de 2024, foram 2.655 reclamações. Na plataforma Reclame Cá, a SulAmérica soma 33.034 contestações. Dessas, 6.482 foram registradas nos últimos seis meses e 1.613 mencionam a vocábulo reembolso. Outras falam sobre descredenciamento e descaso com os clientes.
Usuária do projecto SulAmérica há 29 anos, a jornalista Cris Braga engrossa o coro dos descontentes. Ela teve dois cânceres de úbere e, para realizar os procedimentos mais recentes, precisou de suporte jurídico. Contratou advogados e conseguiu, por meio de liminares, ter chegada ao tratamento. O cancro está em remissão, mas ela teme uma recidiva.
“E não é o temor de morrer, mas é pela luta que terei que enfrentar. O peso emocional que estamos vivendo não tem preço”, lamenta.
Assim porquê Andrea, Cris passou a mourejar com as recusas de atendimento em seguida a compra do SulAmérica pela Rede D’Or, grupo liderado pelo médico e empresário Jorge Moll Rebento, tal qual nome integra a lista dos 69 bilionários brasileiros da revista Forbes. Conforme a publicação, a rede da família Moll administra mais de 30 hospitais no Brasil.
Mas esse domínio vai além. Segundo estudo conduzido pelo pesquisador Eduardo Magalhães Rodrigues, pós-doutor em economia política pela PUC de São Paulo, a Rede D’Or tem 77 empresas e é a mais abastada entre o que ele labareda de “as sete irmãs”, um grupo do ramo da saúde que controla outras 192 coorporações no Brasil. Ao lado da Rede D’Or, estão Dasa, Eurofarma, Amil, Aché, Hapvida e Notre Dame, esta última líder de queixas no Reclame Cá, com 101.788 registros. Juntas, essas gigantes fazem secção de um grupo de 1% das empresas que controla quase 25% de toda a economia corporativa brasileira.
Na pesquisa, Magalhães alerta sobre o impacto dessas megaestruturas econômicas na vida dos usuários da rede privada de saúde. “Essas empresas fazem o que querem. Elas sentam em uma mesa e determinam quais serviços vão ser oferecidos, em qual qualidade e a que preço”, declarou o pesquisador em entrevista ao site Intercept Brasil.
De concordância com a advogada Marna Paullelli, do Instituto de Resguardo de Consumidores (Idec), a tendência de oligopólio na dimensão da saúde vem sendo observada há, pelo menos, dez anos. “No pretérito foi muito generalidade ver, por exemplo, empresas que aparentemente tinham problemas financeiros sendo absorvidas por outras”, avalia. Segundo a advogada, o perfil das transações mudou nos últimos anos. “O que se viu, principalmente de 2021 para cá, foram empresas grandes mudando a sua rede, tentando mudar um pouco do seu protótipo de negócios”, diz.
Em 2013, o Ministério Público Federalista enviou ao Recomendação Administrativo de Resguardo Econômica (Cade) um parecer alertando para o risco de monopólio da Rede D’Or no Província Federalista. No ano anterior, o grupo havia comprado participações no hospital Santa Lúcia e na empresa Medgrupo, que controla os hospitais Santa Helena, Prontonorte, Maria Auxiliadora, Renascer e o Santa Lúcia. Uma vez que já detinha o Hospital Santa Luzia e o Hospital do Coração, a Rede D’Or passou a controlar mais de 50% dos leitos de Brasília. Um interrogatório social sobre o caso chegou a ser desimpedido, mas foi arquivado e está, atualmente, sob sigilo.
Segundo o ranking de bilionários da revista Forbes, o patrimônio de Jorge Moll Rebento batia os US$ 5,3 bilhões (em torno de R$ 29 bilhões) na data de publicação desta reportagem e alcançou seu valor mais cume, de US$ 11,3 bilhões, em 2021, ano em que adquiriu a SulAmérica.
No capítulo de desenlace, o estudo de Magalhães ressalta que, nessas configurações, a saúde é somente um negócio porquê qualquer outro. “Um negócio que deve dar o sumo verosímil de lucros, não importando se isso custará o bem-estar e a vida de milhões de pessoas”, conclui a pesquisa.
O Brasil de Roupa entrou em contato com a SulAmérica, mas não obteve resposta até a publicação desta material. O texto será atualizado mal houver um posicionamento.
Edição: Thalita Pires
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