Presidente do Banco Médio nos dois primeiros governos de Lula, Henrique Meirelles (foto) negou, em entrevista publicada por O Mundo nesta quinta-feira, 19, a narrativa governista de que está ocorrendo um ataque especulativo ao real.
“Não é um ataque especulativo. A questão não é essa. Se investidores internacionais e domésticos acreditam que o país não vai ter problema adiante, compram ativos brasileiros, entram mais dólares, e o câmbio cai”, disse, em resposta a pergunta sobre as altas recorde consecutivas da cotação do dólar nas últimas semanas.
O dólar fechou em novidade subida recorde na quarta-feira, a 6,26 reais. Em 27 de novembro, quando começou a disparada, a moeda americana tinha fechado em 5,91 reais, o valor sumo da história em relação à moeda brasileira até aquele ponto.
“Os investidores estão preocupados com a questão fiscal”
Ex-ministro da Herdade de Michel Temer, Meirelles destacou que “neste momento, os investidores estão preocupados com a questão fiscal”.
“É a dificuldade que o pacote de golpe de gastos está enfrentando no Congresso, com risco de ser reconhecido parcialmente ou nem ser reconhecido”, completou Meirelles, que tentou se escolher presidente da República em 2018.
Os governistas preferem, todavia, culpar o mercado financeiro, o presidente do Banco Médio, Roberto Campos Neto, e até as fake news, porquê se fossem necessárias mentiras para justificar a suspicácia na falta de compromisso do governo Lula com a responsabilidade fiscal.
Porquê resolver?
“A economia brasileira está crescendo, mas a questão fiscal traz preocupação. Logo, a taxa do dólar reflete a ingresso e saída da moeda no país”, explicou o ex-presidente do Banco Médio.
Questionado sobre o que o governo deveria fazer para solucionar as desconfianças, Meirelles disse o seguinte:
“É preciso sancionar o pacote de golpe de gastos no Congresso. Não é um julgamento do mercado. Os gestores têm a responsabilidade de gerar o maior retorno verosímil nas aplicações. No momento em que há preocupações, os recursos não entram na mesma velocidade que saem, e o dólar sobe.”
Não é o bastante
O problema para o governo Lula — e, consequentemente, para o Brasil — é que nem o mórbido pacote fiscal apresentado pelo ministro da Herdade, Fernando Haddad, deve ser capaz de aplacar as desconfianças sobre o governo Lula.
O próprio Haddad admitiu isso na quarta, quando o dólar seguiu subindo mesmo posteriormente o início da aprovação do pacote fiscal, que já era insuficiente e ainda vem sendo desidratado no Congresso Pátrio.
A dificuldade para sancionar o pacote pode puxar a votação do orçamento do próximo ano para fevereiro, inclusive.