No dia 9 de dezembro, a Câmara de vereadores do Recife (PE) aprovou, em 1º vez, um projeto de lei que pretendia colocar no calendário solene da cidade o “Dia Municipal do Nascituro”. Na ocasião, sem a presença da autora, a vereadora Michele Collins (PP), a proposta foi aprovada com 18 votos favoráveis e exclusivamente dois contrários, além de uma continência e 18 ausências. O cenário apontava para a aprovação da proposta também no segundo vez de votação. Mas, em uma semana, as negociações tomaram outro rumo e levaram a parlamentar conservadora a retirar o PL de tarifa por falta de maioria simples para confirmar a proposta.
Legalmente, o projeto ainda pode voltar à tarifa no horizonte. Mas há um concordância entre os vereadores do Recife de não colocar em votação projetos de legislaturas anteriores. Sendo assim, é verosímil que a tarifa esteja enterrada, pelo menos até outro vereador propor alguma coisa similar.
Com as galerias da Câmara lotadas de mulheres, cantando palavras de ordem porquê “monstruosidade lítico é justiça social” e “rapaz não é mãe, estuprador não é pai”, a retirada de tarifa foi bastante comemorada pelas presentes.
Quando o PL 299/2022 foi anunciado para votação, a autora Michele Collins pediu para discursar. “Esse projeto é muito simples, só tem quatro artigos. Não é obrigatório que a Prefeitura promova a comemoração deste dia. Somente se houver disponibilidade financeira, orçamentária e administrativa”, disse ela. “Eu nunca vi, em 12 anos cá nesta morada, alguém ir contra o ‘dia de alguma coisa’. Eu não estou entendendo por que existe, nesta Lar, um movimento contrário”, reclamou.
Collins também compartilhou que, minutos antes, fora abordada pelo vereador Rinaldo Junior (PSB). “Ele chegou cá, olhou na minha faceta e disse que veio cá para derrubar o meu projeto. Ele veio cá para recitar politicamente, usando o nome do prefeito João Campos. Ele disse que o projeto era difícil para o prefeito. Eu entendo que isso não foi um comando de João Campos, porque ele é em prol da vida”, discursou.
Durante o exposição, as mulheres nas galerias se levantaram e ficaram de costas, o que irritou a vereadora. “Se as mães de vocês tivesse abortado, nenhuma de vocês estaria cá. A esquerda que está nesta Lar, junto com partidos porquê o PT, PCdoB, Psol, querem matar as crianças no ventre da mãe”, bradou.
Ela apelou aos colegas para votarem em prol do seu projeto, constrangeu alguns que já haviam votado favoravelmente no 1º vez e lembrou que estava se despedindo do procuração – o que foi comemorado nas galerias. “Mas, para a glória de Deus, o Alef Collins já está sentado ali, a cadeira está garantida”, rebateu a vereadora em referência ao seu fruto, eleito para a próxima legislatura. Zero adiantou. No termo do seu exposição, Michele Collins pediu ao presidente da sessão que retirasse o projeto da tarifa.
O projeto ainda poderia ser considerado nesta terça-feira (17), durante a última sessão plenária da Câmara do Recife em 2024. Mas, sem os votos necessários, Collins abriu mão de colocá-lo em votação.
Fala
Desde o último dia 9, movimentos e grupos feministas iniciaram articulações com os partidos e com a gestão municipal, visando barrar o projeto. A Secretaria de Mulheres do PT conseguiu o compromisso dos três vereadores do partido — Liana Cirne, Osmar Ricardo e Jairo Britto — para votarem contra o projeto. Na primeira votação, nenhum deles votou contra.
Também foram envolvidos o presidente da Câmara de Vereadores, Romerinho Jatobá (PSB); os líderes da bancada do PSB, que possui 15 dos 39 parlamentares da Lar; a Secretaria de Mulheres da gestão municipal; além da própria influência da gestão João Campos (PSB) sobre outros vereadores da base governista. Até a evangélica Ana Lúcia (Republicanos), liderança da Igreja Universal, fez exposição contrário ao projeto.
Na terça-feira (10), dia seguinte à aprovação em 1º vez, com repercussão negativa nas redes sociais, a mesa diretora da Câmara cedeu a presidência da sessão para o vereador Ivan Moraes (Psol), um dos dois que votaram contrariamente ao projeto no dia anterior. Durante a leitura da Ordem do Dia, utilizando os atributos da presidência da sessão, Moraes decidiu retirar o PL 299/2022, ficando a opinião para esta segunda (16).
O “Dia do Nascituro”
O Projeto de Lei nº 299/2022 visa instituir no calendário solene do Recife o dia 8 de outubro porquê “Dia Municipal do Nascituro”. Se validado em 2º vez, seguirá para sanção do prefeito João Campos, tornando-se lei. O texto sugere que a prefeitura, através da Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, invista recursos públicos em atividades alusivas à data. “Nascituro” é porquê o campo conservador passou a invocar os fetos e embriões.
Alguns políticos têm defendido que fetos e embriões sejam reconhecidos porquê “sujeitos de direitos”. Isso, segundo movimentos feministas, serviria de base para a argumentação de que todo e qualquer monstruosidade deve ser criminalizado, retirando das mulheres o recta ao monstruosidade lítico e seguro nos casos hoje cobertos pela lei: gestações decorrentes de um estupro; gestações com risco de morte para a mulher; e gestações em que o feto não formou cérebro (anencéfalo) e, portanto, não conseguirá sobreviver fora do corpo da mulher.
Pautas do tipo têm surgido também na Câmara Federalista, buscando a criminalização do monstruosidade em quaisquer situações, revelando a intenção de setores da direita em retroceder nos direitos das mulheres decidirem sobre seus próprios corpos e suas próprias vidas.
Manancial: BdF Pernambuco
Edição: Geisa Marques