Ao menos 3,1 milhões de imóveis ficaram sem luz com o apagão iniciado na última sexta-feira (11) em São Paulo, segundo a própria Enel. Uma semana depois da tempestade, o serviço ainda não foi completamente restabelecido na cidade.
O Brasil de Vestuário foi visitar uma das regiões mais afetadas pela falta de vigor na região medial da cidade, no bairro da Barra Fundíbulo. Por lá, além das críticas à Enel, os moradores denunciam a falta de zeladoria da prefeitura na poda de árvores que caíram sobre a rede elétrica.
Osivaldo Rodrigues Pereira é proprietário de um restaurante na rua Doutor Ribeiro de Almeida. A especialidade da lar são os pratos feitos servidos durante o horário do almoço. Ele vive há mais de 50 anos no bairro.
“Fiquei três dias sem trabalhar. Perdi legumes, carnes, salgados, e bebidas que ficaram na geladeira, que já estavam geladas. Estragou. Foi para gelar de novo, não presta mais. Prejuizo demais de um monte de coisa”, explica o mercante.
“Para todo mundo que a gente ligava, ninguém resolvia o nosso problema. Logo nós ficamos cá jogados às cobras”, completa Pereira.
Já Claudete Santos administra um prédio onde vivem 24 famílias na rua Anhanguera. Em frente ao imóvel, uma árvore caiu por cima da fiação durante o temporal. A retomada da vigor elétrica se deu somente na quarta-feira (16). Ficaram todos seis dias sem luz. A situação, segundo ela, era uma tragédia anunciada.
“Há muitos meses detrás nós pedimos para a prefeitura trinchar a árvore, porque nós já havíamos identificado que estava caindo, ela já estava podre. E enfim, nós fizemos alguns contatos junto à prefeitura e eles registraram e informaram que tomariam providências, porém não tomaram”, explica Santos.
Ela conta que os cabos danificados pela árvore foram levados pela prefeitura e a reposição de um novo foi realizada pelos próprios moradores, já que a Enel alegou que para incluir novos materiais, era preciso fazer um novo chamado pelo telefone.
“A Enel se apoderou do cabo que nós compramos. Eles informaram que se eles tivessem que colocar um cabo deles para vincular vigor, eles iam embora e a gente teria que fazer um novo chamado e esperar, porque aquele caminhão não tinha”, completa.
Bairro esquecido
A gerente de um restaurante na região, Neoma Marionela Sebastião, mora há 2 anos no prédio. Ela avalia o apagão uma vez que um tanto “desesperador”. Com familiares em Angola, ela conta que não conseguiu se conversar com os parentes pela falta de internet.
“Eu não consegui me conversar com eles por seis dias. A gente corria para buscar estabelecimentos para conseguir carregar o celular e o computador”, lamenta.
Aliás, Sebastião pontua que não foi provável cozinhar no período. Todas as 24 quitinetes mobiliadas são abastecidas somente com fogões elétricos. “A gente perdeu tudo que tinha na geladeira. Foi tudo jogado fora”, coloca.
Há 40 anos vivendo na Barra Fundíbulo, o motorista de aplicativo Marcelo Castro Mantovani , vive nas proximidades da Rua Doutor Ribeiro de Almeida e da Rua Anhanguera.
Ele revela que o problema da falta de luz e da vagar para o serviço ser restabelecido é recorrente, independentemente de casos de temporal.
“Várias vezes acaba acontecendo falta de vigor, e a vagar é muito grande para voltar a vigor. Mesmo fazendo as ligações, tentando conversar”, revela.
“A gente passa por muitas dificuldades, questão de enchente, questão de luz, questão de árvores que não tem muito podamento. É um bairro praticamente medial e um bairro esquecido”.
Responsabilidade da prefeitura
Apesar da licença do serviço ser de responsabilidade federalista, a zeladoria da cidade cabe à prefeitura. Poda de árvores, manutenção dos semáforos e protocolos emergenciais para facilitar atingidos, cruciais na prevenção e no combate a apagões, são da jurisdição da gestão municipal.
Em entrevista ao podcast Três por Quatro, do Brasil de Vestuário, o engenheiro eletricista Cássio Cardoso Roble, do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), avalia que a gestão Nunes falhou.
“Nós temos a Enel de um lado, mas nós temos a responsabilidade do seu Ricardo Nunes, prefeito da cidade de São Paulo. Ele também é responsável porque não faz a zeladoria, não dialoga com a empresa, buscando a solução preventiva do problema”, diz Roble.
No apagão de 2023, a Enel afirmou que 95% das quedas de vigor ocorreram por interferência de árvores na fiação elétrica. Atualmente, segundo a prefeitura, mais de sete milénio árvores estão na fileira por poda. O tempo de espera superaria um ano.
A poda também cabe à distribuidora de vigor quando há risco para o sistema elétrico, mas a atual gestão não avançou em medidas uma vez que o funeral de fios, que poderiam reduzir os riscos de danos em casos de quedas de árvores. Menos de 1% dos 20 milénio quilômetros da rede elétrica paulistana estão enterrados. Uma vez que contraponto às críticas, Nunes diz que, em sua gestão, foram criados o Projecto Municipal do Clima e a Secretaria Privativo de Mudanças Climáticas.
No caso das famílias do prédio da Rua Anhanguera, na Barra Fundíbulo, a árvore só foi recolhida três dias depois da queda. “Aconteceu o sinistro, e a prefeitura ainda demorou para ser retirada. A árvore caiu na sexta e foram retirar a árvore domingo. A Enel já é um descaso. Juntando com a Prefeitura é um descaso maior ainda”.
Privatização
O fornecimento de vigor elétrica em São Paulo é privatizado e, desde 2018, está sob responsabilidade da Enel, substituindo a antiga Eletropaulo. A Dependência Pátrio de Vontade Elétrica (Aneel), do governo federalista, e a Dependência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo (Arsesp), do governo estadual, devem revistar a empresa.
Preocupados com o provável impacto do apagão na eleição, o governador de São Paulo, Tarcísio Freitas (Republicanos), e o prefeito Ricardo Nunes (MDB) apontaram falhas na fiscalização da Enel. Em resposta, o ministro de Minas e Vontade, Alexandre Silveira (PSD), lembrou que a atual direção da Aneel foi indicada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), coligado dos dois gestores paulistas.
Osivaldo Rodrigues Pereira descreve à reportagem o que acha do serviço da Enel. “Porcaria. Depois que passou da Eletropaulo para Enel eu só vi piorar as coisas. Só questionam valores. Se a gente tiver um tardada, uma conta, eles já cortam… Não tem tolerância nenhuma com o consumidor, e quando precisa, uma vez que numa situação dessa, não estão nem aí, sem responsabilidade nenhuma e reverência”, explica o mercante.
“Toda vez que nós precisávamos da Eletropaulo, o atendimento era rápido. Em verificação, a Enel deixa a desejar, a Eletropaulo era muito melhor”, completa Claudete Santos.
O que diz a prefeitura
A Subprefeitura da Sé informa que a árvore citada pela reportagem foi removida no dia 15 de outubro e que todos os chamados para o réplica foram atendidos.
Informa também que, em vistoria, foi constatado que “a mesma estava saudável, indicando que a provável queda foi causada pelos fortes ventos, que chegaram a 107 km/h na sexta-feira (11), de entendimento com CGE”.
A Secretaria ressalta também na nota que “a legislação permite a remoção de uma árvore somente nos casos em que o réplica se encontra com a saúde condenada ou quando há dano estrutural ao imóvel, atestado por um engenheiro social contratado”.
Edição: Nathallia Fonseca
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