O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Médio (BC) decidiu nesta quarta-feira (18) preconizar a taxa básica de juros da economia vernáculo de 10,5% ao ano para 10,75% ao ano. A subida foi a primeira registrada desde agosto de 2022. Contrariou a tendência mundial de queda dos juros ratificada por decisão desta quarta do BC dos EUA, que cortou os juros de lá em 0,5 ponto em seguida quatro anos sem reduções.
Nos EUA, os juros caíram da margem de 5,25% a 5,5% ao ano para 4,75% a 5% ao ano. Já no Brasil, subiram 0,25 ponto.
Essa subida já era esperada por economistas, apesar de alguns a considerarem desnecessária. Os bancos, inclusive, estimam que a Selic volte a subir nos próximos meses e feche levante 2024 em 11,25% ao ano.
Tal elevação estaria ligada a um temor de que a inflação no país cresça. O receio vem, em segmento, por conta da seca e das queimadas no país. O eventual aumento da Selic ajudaria a sustar o aumento de preços.
Dados do Instituto Brasiliano de Geografia e Estatística (IBGE) mostram, porém, que o Brasil na verdade registrou uma queda generalizada de preços em agosto. O Índice de Preço ao Consumidor Vasto (IPCA) acumula subida de 4,24% nos últimos 12 meses – está, portanto, dentro da meta estabelecida para 2024, de até 4,5%.
Ou por outra, a valorização do dólar arrefeceu nos últimos dias. A cotação da moeda tende a tombar ainda mais com o namoro dos juros por lá.
Esses fatores, no entanto, acabaram ignorados pelo Copom. O colegiado optou pelo aumento dos juros, o primeiro durante o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que é padroeiro público da queda da Selic.
O que é Selic?
A taxa Selic é referência para a economia vernáculo. É também o principal instrumento disponível para o BC controlar a inflação no país.
Quando ela sobe, empréstimos e financiamentos tendem a permanecer mais caros. Isso desincentiva compras e investimentos, o que contém a inflação. Em ressarcimento, o propagação econômico tende a ser prejudicado.
Já quando a Selic cai, os juros cobrados de consumidores e empresas ficam menores. Há mais gente comprando e investindo. A economia cresce, criando empregos e favorecendo aumentos de salários. Os preços, por sua vez, tendem a aumentar por conta da demanda.
Lula assumiu o governo com a Selic em 13,75% ao ano e iniciou pressão por sua redução. Depois oito meses de gestão Lula, o Copom iniciou um ciclo de redução. A partir daí, foram seis cortes de 0,5 ponto seguidos, mais um de 0,25 ponto.
A partir de junho, o Copom decidiu manter a Selic em 10,5% por duas reuniões seguidas, mesmo com a pressão do governo por cortes. Agora, veio a elevação.
Gasto com dívida
A Selic também é a taxa de referência para a correção da dívida pública vernáculo. Quando ela sobe, o governo gasta mais para renovar seus empréstimos.
Em julho, o setor público brasílico gastou R$ 80,1 bilhões só com os serviços financeiros de sua dívida. Isso é 73% mais do que os R$ 46,1 bilhões gastos em julho de 2023. Em 12 meses, o gasto com a dívida chegou R$ 869 bilhões. Nos 12 meses anteriores, ele havia sido R$ 641 bilhões.
Com o aumento da Selic, o gasto do Brasil com o pagamento de suas dívidas deve crescer muro de R$ 12,5 bilhões durante um ano. Isso está próximo ao que o governo pretende gastar no ano que vem com políticas públicas voltadas para mulheres: R$ 14 bilhões.
Um estudo divulgado pela Conferência das Nações Unidas sobre Negócio e Desenvolvimento (Unctad) neste mês aponta que o Brasil gasta com juros quase o duplo do que Instrução e Saúde juntos. Os países mais ricos gastam com juros só 40% do que investem em saúde e instrução.
Segundo o estudo, 3,3 bilhões de pessoas no mundo vivem em países que gastam mais com os juros do que com serviços públicos de saúde e instrução. Isso corresponde sobre 40% da população mundial.
Edição: Thalita Pires
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