Com a chegada do tempo de plantio, as ações da Missão Sementes de Solidariedade foram intensificadas nos territórios atingidos pela enchente no Rio Grande do Sul. Setembro marca o início da entrega de kits de sementes e mudas para os atingidos de comunidades já mapeadas pelos voluntários e voluntárias.
A ação solidária, que congrega mais de 23 organizações, entre movimentos sociais, cooperativas, pastorais religiosas, movimentos populares, representações sindicais e entidades representativas, prioriza justamente o atendimento aos agricultores de pequeno porte, de matriz familiar ou camponesa.
Frei Sérgio Görgen, diretor do Instituto Cultural Padre Josimo (ICPJ), reconhece a “humilde taxa” do kit entregue a cada família. “Sabemos que não é o que vai resolver a vida de vocês, mas sim que vocês, carregados de esperança, de garra e de força vão conseguir se restabelecer”, pontua.
O religioso lembrou que a mobilização recebeu o esteio de milhares de pessoas de todo Brasil, que com pequenas doações viabilizaram a compra das sementes e mudas. Disse que com o material partilhado estava sendo entregue também “muito carinho” e que, em troca, o que se espera “é que cada um e cada uma faça o plantio também com carinho”.
“Sementes são símbolos de vida”
Na última semana, as primeiras atividades coletivas de entregas de kits de sementes e mudas de árvores foram realizadas nos municípios de Arroio do Meio, Travesseiro e Gramado Xavier. Além da motivação da retomada da produção, todos os eventos de entrega contaram com atos de espiritualidade com benção das sementes e dos agricultores, além de atividades de cultura e motivação.
Também foram beneficiadas comunidades indígenas das etnias Mbya Guarani e Kaigang localizadas nas cidades de Rio Grande, Pelotas, Cangucú, Cristal e Camaquã. Já nesta semana estão previstas entregas em Cruzeiro do Sul, na extensão indígena Mbya Guarani em Viamão e em Venâncio Aires.
“Sementes são símbolos de vida, de renascimento, de recomeço”, afirmou Vanderlélia Chitó, dirigente do Movimento dos Pequenos Agricultores. “Também estamos vivendo um momento de remobilização das bases, de retomar a organizações dos nossos movimentos, os nossos encontros, de redescobrir que quando caminhamos juntos somos capazes de nos fortalecer para superar as dificuldades”, apontou a dirigente camponesa que, concomitantemente com a entrega das mudas e sementes em Gramado Xavier, organizou um seminário sobre vegetalidade medicinais e saberes tradicionais.
Os kits que estão sendo entregues aos agricultores são voltados à retomada da capacidade de produção de vitualhas para subsistência e contempla sementes de milho, feijoeiro, hortaliças e pastagem, mudas de árvores frutíferas e nativas, flores, ramas de mandioca e mudas de batata-doce. Tapume de 300 kits foram entregues nas primeiras atividades coletivas.
Para Marilene Maia, da Cáritas-RS, a Missão representa uma “rede de proteção, de solidariedade e de asserção de um projeto de reconstrução da vida de cada família, de cada comunidade, de cada município”.
Ela destaca que é a partir das pessoas atingidas que fica evidente o “enfrentamento do conjunto de situações que têm determinado a crise climática”. O que para ela oportuniza que a Missão se revele porquê um projeto coletivo importante, desempenado com a população atingida “que vai se reconstruindo por meio de redes de solidariedade, na construção coletiva de alternativas de superação, encontrando formas de se transformar e de encontrar saídas”.
Milhões em doações
Até o momento a campanha conseguiu mobilizar tapume de R$ 1,2 milhão em doações, recursos que são mantidos sob gestão da Cáritas. Entre doações e aquisições realizadas pela campanha já foi provável saber o volume de 45 toneladas de sementes de milho, 15 toneladas de sementes de feijoeiro, 7,8 toneladas de arroz, 2 toneladas de sementes de pastagens diversas, 2 milénio mudas de pastagens perenes, 100 milénio mudas de árvores (entre frutíferas e nativas), 33 milénio sachês de sementes de hortaliças, 6 milénio mudas de batata-doce, 6 milénio fetiches de ramas de mandioca, entre outros itens.
“Sou pequeno cultivador, na secção da roça fui muito atingido, o rio levou tudo, das árvores não sobrou zero, do pasto não ficou quase sem zero, agora preciso reiniciar”, relata Everaldo Freircht. Para ele toda ajuda é bem-vinda, fortalece o trabalho de reconstrução: “A gente agradece quem pode ajudar, pega com sabor e tem o compromisso de utilizar muito e fazer produzir”.
Visitas segue ampliando alcance
Concomitante às atividades de entrega dos kits para os pequenos agricultores e pequenas agricultoras beneficiados pela Missão Sementes de Solidariedade, as equipes de voluntários e voluntárias seguem percorrendo os territórios e cadastrando atingidos e atingidas para ampliar o alcance.
Até o momento tapume de 150 pessoas voluntariamente participam desse esforço, já tendo realizado mais de duas milénio visitas em 30 municípios afetados pelas enchentes e deslizamentos. Estima-se que esse número possa chegar a 5 milénio famílias, levando-se em conta somente os municípios atingidos com mais intensidade.
Outro pequeno cultivador atingido que relata a valia das ações de solidariedade é Valmir Gabrion. Ele enumera casos de amigos, vizinhos e familiares que ficaram com suas áreas de plantio comprometidas pelo lodo que o rio deixou depois que as águas baixaram. “Dói ver um cultivador nessa situação, sem ter porquê fazer o seu cultivo, por isso toda ajuda que chega é bem-vinda.”
Levando para vivenda suas sementes e mudas, ele reconhece o esforço das organizações envolvidas na Missão Sementes de Solidariedade. “Com o que o pessoal está fazendo cá, levando um pouquinho de incentivo, é sempre um recomeço, mesmo que não seja muito, é sempre um ânimo”, afirma.
Campanha segue recebendo doações
Além da Cáritas, Instituto Cultural Padre Josimo, Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), e Percentagem Pastoral da Terreno (CPT), a Missão Sementes de Solidariedade conta ainda com a participação de organizações, movimentos e cooperativas porquê: Movimento dos Atingidos e das Atingidas por Barragens (MAB), Diocese de Santa Cruz do Sul, Rede de Agroecologia Ecovida, Fala pela Economia de Francisco e Clara, Gritos dos Excluídos, Instituto Conhecimento Liberta (ICL), Instituto Koinós, Freis Franciscanos (Serviço Justiça Tranquilidade e Integridade da Geração), Serviço Xabregano de Solidariedade (Sefras), Sindicato dos Petroleiros (Sindipetro-RS), Canoas Tec, Movimento dos Trabalhadores e das Trabalhadoras Sem Teto (MTST), Instituto Brasiliano do Meio Envolvente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e Eletrobras. Também fazem secção da missão as cooperativas Certel, Cooperbio, Origem Camponesa, Coptil e Creluz.
A arrecadação de recursos para compra de sementes e custeio de ações segue sendo realizada. Doações podem ser encaminhadas para o PIX da Cáritas, com a chave: 33654419.0010-07 (CNPJ). Outra possibilidade de colaboração se dá por meio de repositório bancário para a Conta Manante: 55.450-2 / Dependência 1248-3 (Banco do Brasil). Os recursos e a mobilização estão sendo diretamente administrados pelo escritório regional da Cáritas no Rio Grande do Sul e sendo objeto de prestações de contas continuadas.
Manadeira: BdF Rio Grande do Sul
Edição: Katia Marko
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